Dia Mundial da Água: veja dicas e projetos voltados para o consumo sustentável
Confira orientações e iniciativas inovadoras que contribuem para dignidade hídrica da população
O Dia Mundial da Água é celebrado neste sábado (22) como um marco de comprometimento com a sustentabilidade e uso responsável dos recursos do planeta.
Por mais que tenha sido criada 1993 pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a data segue sendo, 32 anos depois, mais do que necessária. Um levantamento feito em 2024 pelo Instituto Trata Brasil (ITB) mostra que cerca de 32 milhões de brasileiros não têm água tratada nas residências.
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Em Pernambuco, os dados também chamam atenção. Segundo o secretário de Recursos Hídricos e Saneamento do Estado, Almir Cirilo, 50% de toda a água distribuída pela Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) não chega às residências por falhas do próprio sistema, como vazamentos da tubulação. Além disso, do que realmente atinge as casas, 20% é desperdiçado pela população.
"Assim, apenas 30% da água distribuída é de fato utilizada. Por isso que fazemos campanhas de uso racional, recomendando que as pessoas evitem desperdícios. Isso rende um prejuízo grande para a própria população", explicou o secretário.
Esse "uso racional" não significa deixar de utilizar o recurso, mas fazê-lo de maneira consciente, repensando as formas de consumo da água.
A Compesa passa orientações de como isso pode ser praticado e ensinado, como manter a torneira fechada ao escovar os dentes ou se barbear; tomar banhos curtos, sempre com o chuveiro fechado enquanto se ensaboa; abrir a torneira apenas para enxaguar quando lavar a louça; e usar a máquina de lavar somente com a carga completa.
Além disso, a população precisa fazer sua parte no cuidado com o meio ambiente. O principal pedido é para que não jogue lixo ou entulho nos sistemas de drenagem.
"Isso atrapalha o escoamento da cidade e dificulta a vida das pessoas. Quando convivem mais com o esgoto, as pessoas se tornam mais suscetíveis a doenças, e precisam do retorno hospitalar e social”, explicou o secretário.
Projetos inovadores
É importante destacar também que, no dia a dia, a população precisa enfrentar diversos desafios, principalmente por condições de moradia e falta de saneamento básico.
É por isso que existem projetos inovadores como o PluGoW, tecnologia desenvolvida pela Pluvi Ambiental, startup incubada do PoloTeC da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em parceria com a empresa Aqualito - responsável pela criação dos reservatórios.
Esses reservatórios têm 6 metros de comprimento, pesam 50 quilos quando estão vazios , e a base para instalação nas casas é de 25 centímetros. O sistema faz a captação, o armazenamento e o tratamento da água da chuva em água potável para consumos variados, como beber, cozinhar e fazer a higiene pessoal.
"Primeiramente captamos a água da chuva e separamos o primeiro milímetro, que é onde estão as impurezas. Assim, separamos cor, turbidez e a bactéria E. coli, que causa dor de barriga. O reservatório é bem estreito, feito com material leve, então duas pessoas conseguem colocá-lo na base. Fazemos a instalação, deixamos tudo funcionando, e ocasionalmente existem visitas técnicas, mas o sistema é de operação muito simples e o reservatório é autolimpante", afirmou a CEO da Pluvi Ambiental, Isabella Câmara.

O reservatório também ajuda a combater doenças, como a proliferação das larvas do Aedes aegypti, responsável pela transmissão da dengue, chikungunya e o zika vírus.
"No ciclo de reprodução, a larva precisa ser depositada no fundo para ir subindo e se tornar o mosquito. Como o reservatório é alto, com 6 metros, a larva não aguenta a pressão da água, então combatemos isso", completou.
Ao todo, 87 unidades foram implementadas na comunidade do Alto da Telha, no bairro de Passarinho, Zona Norte do Recife.
Além disso, foi iniciada a implantação em 400 residências no bairro de Jardim Monte Verde, entre a capital e Jaboatão dos Guararapes, até o segundo semestre de 2026, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Pernambuco (Seduh-PE).
A startup também pretende levar os equipamentos para o semiárido do Estado e busca um aporte para levar a tecnologia a outros países da América Latina.
Dignidade hídrica
Foi também na UFPE que nasceu uma pesquisa da doutoranda em engenharia civil, Camila Salgueiro. Ela concluiu que o uso de caixas d' água como reservatórios da água da chuva pode ser alternativa para a redução de deslizamentos e melhoria do sistema de drenagem.
Ela analisou o bairro do Ibura de Cima, na Zona Sul do Recife, que em maio de 2022, durante o pior desastre ambiental do Estado, fez mais de 100 chamados à Defesa Civil da cidade por conta das fortes chuvas e deslizamentos.
A pesquisadora conta que identificou uma insuficiência no sistema de drenagem do local, que não estava preparado para receber aquele volume de chuva.
Assim, foram analisadas três possíveis soluções: instalação de telhados verdes convencionais ou telhados verdes de baixo custo, ou ainda de caixas d'água. A última foi escolhida por apresentar mais benefícios.
"Quando ocorre a precipitação, a água escoa pela superfície. Se eu tenho uma caixa d'água instalada como reservatório, a água que antes ia escoar para a sarjeta, que pode ser insuficiente, agora fica armazenada. Depois, essa água pode ter um uso posterior, como irrigação de plantas ou para descarga no banheiro, por exemplo. Isso, claro, depende de um estudo de reuso de água", explicou Camila Salgueiro.

Como explica a professora do curso de Engenharia Civil da UFPE e orientadora de Camila, Sylvana Melo dos Santos, o projeto foi submetido para análise do Governo do Estado no fim do ano passado.
O objetivo é a continuidade dos estudos em outras áreas de morro para implantação futura. Tudo isso visa contribuir para a dignidade hídrica da população.
"É um reforço para contribuir para o sistema público de abastecimento para que essas pessoas possam armazenar um manancial que seria desperdiçado. Não trabalhamos com a questão da potabilidade, mas seria um alívio para outras atividades da vida dessas famílias e contribuiria para a dignidade delas", afirmou a professora.
"Com o investimento na diminuição do escoamento superficial e alagamentos, contribuímos para a garantia de direitos das pessoas. Para que elas possam viver em paz, sem medo de um deslizamento", completou Camila.
Distribuição
Já existem projetos em andamento para a garantia da segurança hídrica. O Governo do Estado planeja a distribuição de água para 99% da população até 2033, como determina o Marco Legal de Saneamento.
Para isso, a Secretaria de Recursos Hídricos e Saneamento pretende investir até R$ 35 bilhões em obras de melhoria para o sistema, principalmente em áreas de difícil acesso.
"Além disso, investimos na construção de barreiras para conter enchentes em diversas partes do Estado, como a de Panelas, em Cupira, que já está quase concluída. Investiremos em sistemas simplificados para atingir comunidades espalhadas e ampliar a distribuição nas áreas de zona rural, que historicamente sofrem com desabastecimento. Fecharemos um contrato com o Banco Mundial para investir R$ 600 milhões, somados a mais R$ 300 milhões adquiridos pelo Governo do Estado", revelou o secretário.