Diretor da AIEA viaja ao Irã, mais perto do nível necessário para fabricar bomba atômica
A República Islâmica afirmou que não tentou enriquecer urânio além de 60% e insiste em que seu programa nuclear é estritamente civil
O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, chegou a Teerã nesta sexta-feira (3) para falar sobre o programa nuclear iraniano, após a descoberta de partículas de urânio enriquecido em um nível próximo ao necessário para fabricar uma bomba atômica.
Grossi foi recebido no aeroporto pelo porta-voz da Organização de Energia Atômica do Irã, Behrouz Kamalvandi, e depois se reuniu com seu diretor, Mohammad Eslami, sem divulgar o tema da reunião.
Durante a sua visita de dois dias, o diplomata argentino deve se reunir com vários dirigentes iranianos, entre eles, o presidente Ebrahim Raisi, indicaram fontes diplomáticas em Viena, sede desta agência da ONU.
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Segundo um relatório confidencial da AIEA, ao qual a AFP teve acesso na terça-feira (28), partículas de urânio enriquecido a 83,7%, pouco menos que os 90% necessários para fazer uma bomba atômica, foram encontradas na usina subterrânea de Fordo, cerca de 100 quilômetros ao sul de Teerã.
O Irã nega querer adquirir a bomba nuclear e se justificou dizendo que houve "flutuações involuntárias" no processo de enriquecimento.
A República Islâmica afirmou que não tentou enriquecer urânio além de 60% e insiste em que seu programa nuclear é estritamente civil.
Durante sua visita, Grossi tentará saber mais e obter um reforço no acesso às instalações "e um aumento do número de inspeções", segundo uma fonte diplomática em Viena.
O diplomata falará à imprensa após seu retorno a Viena na noite de sábado, informou a AIEA.
Esta breve visita ocorre quase um ano após a última viagem de Grossi a Teerã em março de 2022, quando parecia possível um acordo para retomar as negociações entre as grandes potências e o Irã sobre seu programa nuclear.
No entanto, em um contexto geopolítico afetado pela guerra na Ucrânia, a oportunidade se perdeu. Desde então, a preocupação aumentou nos Estados Unidos, Europa e Israel sobre a possibilidade de o Irã ser capaz de produzir bombas atômicas.
Nesse contexto, o diretor da AIEA quer “relançar o diálogo” após meses de deterioração.
O Irã tem se afastado cada vez mais dos termos do acordo de 2015, que limita suas atividades atômicas em troca do levantamento das sanções internacionais.
O acordo está paralisado desde que os Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump, decidiram se retirar unilateralmente do pacto em 2018.