Diretor da CIA confirma que EUA sabiam do motim do grupo Wagner contra Putin
Segundo William Burns, rebelião reavivou questionamentos na população sobre a liderança do presidente russo, que teria paralisado durante o levante
O diretor da CIA, serviço secreto de inteligência americano, confirmou que os Estados Unidos tinham informações prévias sobre o motim do grupo Wagner contra o presidente russo Vladimir Putin no mês passado. No relato mais detalhado de uma autoridade dos EUA sobre a (in)ação do Kremlin, William Burns afirma que a rebelião reavivou questionamentos internos sobre a capacidade de julgamento de Putin, que teria paralisado diante do levante.
As declarações foram feitas durante o Fórum de Segurança de Aspen, no Texas, no qual Burns vende a ideia de que a rebelião prejudicou a imagem de Putin enquanto liderança não só internacionalmente, mas também entre a população russa. De acordo com o diretor da CIA, os serviços de segurança russos, as Forças Armadas e os tomadores de decisão "pareciam estar à deriva".
Para muitos russos que estavam assistindo, acostumados com essa imagem de Putin como árbitro da ordem, a pergunta era: "Será que o imperador não tem roupas?" disse Burns, acrescentando: "Ou, pelo menos, 'por que ele está demorando tanto para se vestir?
Burns confirmou que os Estados Unidos sabiam previamente que o levante poderia ocorrer. Em sua avaliação, já estava previsto que Putin tentaria separar as forças do grupo Wagner do seu então líder, Yevgeny Prigojin, para preservar a capacidade de combate do grupo mercenário —um importante aliado nos esforços de guerra na Ucrânia.
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As observações dialogam com os comentários feitos pelo chefe do serviço de inteligência britânico MI6, Richard Moore. Na quarta-feira, Moore disse que a rebelião evidenciou rachas internos no Kremlin.
Segundo Burns, embora Prigojin estivesse improvisando os passos da rebelião "à medida que avançava", sua relevância enquanto liderança militar russa estava "escondida à vista de todos", mesmo com a série de declarações combativas contra a cúpula das Forças Armadas feitas nos últimos meses.
O chefe da CIA afirma que o vídeo em que Prigojin critica o Kremlin e desafia o principal argumento usado pela Rússia para invadir o território ucraniano foi assistido por um terço da população russa.
— Esse vídeo foi a acusação mais contundente da justificativa de Putin para a guerra, da condução da guerra, da corrupção no núcleo do regime de Putin que eu já ouvi de um russo ou de um não russo — disse Burns.
Desde a rebelião, Prigojin esteve em Minsk, na Bielorrússia, mas também fez viagens à Rússia, disse Burns. Ele disse que ficaria surpreso se o ex-líder dos mercenários acabasse "escapando de mais retaliações" após o motim.
— O que estamos vendo é uma dança muito complicada entre Prigojin e Putin — disse Burns. — Acho que Putin é uma pessoa que geralmente pensa que a vingança é um prato que deve ser servido frio, portanto, ele tentará resolver a situação na medida do possível.
Burns, ex-embaixador dos EUA na Rússia que serviu em Moscou quando o presidente russo consolidou o poder há quase duas décadas, acrescentou que o líder russo é "o apóstolo supremo da vingança". Segundo ele, é improvável que apenas Prigojin enfrente as consequências.
Autoridades americanas disseram em particular que um general russo sênior, Sergei Surovikin, tinha conhecimento prévio dos planos de Prigojin e pode ter apoiado a rebelião.
Perguntado se Surovikin estava livre ou detido, Burns disse:
— Não acho que ele esteja desfrutando de muita liberdade no momento.