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BRASIL

Diretor da sociedade de anestesia opina sobre colombiano ficar sozinho com criança antes de cirurgia

Pai de uma menina procurou delegacia para relatar a suspeita de violência contra a filha

Anestesista colombiano Andres Eduardo Onate Carrillo é preso Anestesista colombiano Andres Eduardo Onate Carrillo é preso  - Foto: Reprodução

A prisão do anestesista Andres Eduardo Oñate Carrillo, acusado de estuprar pacientes sedadas, ligou o sinal de alerta para uma família que pode ter sido vítima do médico, também investigado por armazenar milhares de vídeos e fotos de pornografia infantil.

Ontem, o pai de uma menina procurou a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav) para relatar a suspeita de uma situação abominável: durante um atendimento este ano, o médico teria “exigido” ficar ficar a sós com a criança algumas vezes no quarto de um hospital.

Ele justificou o pedido como sendo algo “necessário para o procedimento”. O procedimento, no entanto, não é normal na avaliação da Sociedade Brasileira de Anestesiologia.

Jedson Nascimento, diretor de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), explicou que um paciente vulnerável, que não responde por si juridicamente, como é o caso de crianças, precisa ter o atendimento acompanhado todo o tempo por um responsável:

— Não é um procedimento normal (pedir para ficar sozinho com o paciente). Crianças e outro grupos vulneráveis precisam de um responsável. São normas jurídicas. Eles têm que estar 100% do tempo ao lado de alguém porque não têm condições de responder juridicamente. Normalmente, em uma sala de cirurgia, existe pelo menos o cirurgião, o auxiliar, o técnico de enfermagem, a enfermeira e o anestesista. É inimaginável o profissional ficar sozinho. Na pior das hipóteses, ao menos um desses profissionais o está acompanhando — afirma Nascimento.
 

A juíza Mariana Tavares Shu decidiu ontem manter o médico na cadeia, ao analisar a legalidade do mandado expedido. Durante a audiência de custódia, a defesa de Andres pediu a transferência do cliente para “um local que possa garantir sua segurança, haja vista a repercussão do caso”.

Por isso, ele permanecerá na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, em cela individual. Durante a sessão, o preso relatou ter tido as algemas muito apertadas, o que resultou em marcas nos braços. Como não tinha dito isso anteriormente, ele passou por novo exame no Instituto Médico-Legal, que não identificou qualquer lesão.

Andres foi preso segunda-feira em sua casa na Barra, sob a acusação de ter estuprado duas mulheres sedadas na sala de cirurgia. Ele é o segundo anestesista a ir para a cadeia pelo mesmo crime. Em julho do ano passado, Giovanni Quintella foi flagrado abusando de uma mulher em trabalho de parto. O novo caso fez a SBA divulgar um comunicado repudiando a conduta do profissional. De acordo com a entidade, o colombiano não tem título de anestesista, o que não o impede de atuar na área.

— Qualquer médico pode fazer qualquer procedimento desde que se responsabilize por ele, mas não pode divulgar que é especialista. Obviamente é de grande responsabilidade do contratante ter um profissional sem registro de qualificação de especialista — explica Nascimento.

Registro saiu em 2022
Desde janeiro do ano passado, Andres pode exercer a medicina no país, como mostra seu registro profissional no Conselho Federal de Medicina. Quatro meses depois, ele assinou um contrato por tempo determinado para atuar como anestesista no Hospital Universitário Pedro Ernesto, ligado à Uerj. A unidade afirmou que está aberta para colaborar com a investigação policial e que não recebeu qualquer denúncia de paciente contra o médico.

De acordo com a polícia, os estupros investigados teriam ocorrido em dezembro de 2020 e em fevereiro de 2021, quando o colombiano ainda não tinha tido seu diploma revalidado pelo governo nem registro no CFM. Os abusos só foram descobertos porque o próprio médico gravou as imagens e as armazenou em sua nuvem de dados. Em depoimento, ele se reconheceu nos vídeos.

Ontem, as primeiras testemunhas começaram a ser ouvidas pela Polícia Civil, que vai apurar ainda se Andres exerceu ilegalmente a medicina. O possível crime também será alvo de sindicância no Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj). Uma médica do Hospital Estadual dos Lagos — onde teria acontecido um dos estupros — disse à polícia que, no dia da cirurgia, Andres tinha autorização para participar do procedimento junto à equipe e que ele não apresentava conduta duvidosa. A Secretaria estadual de Saúde vai analisar todos os prontuários de atendimento do médico e abriu uma sindicância interna.

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