ONU

Discursos de Lula e Biden na ONU: sintonia e visão alinhada, com uma exceção: a guerra na Ucrânia

Presidentes do Brasil e dos EUA concordaram em temas como clima, desigualdade e reforma da governança global

Lula e o presidente americano, Joe BidenLula e o presidente americano, Joe Biden - Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Os discursos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e do americano Joe Biden na Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira (19), tiveram vários pontos em comum e uma divergência central: as visões de seus governos sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, sobretudo suas posições sobre a responsabilidade do governo de Vladimir Putin no conflito.

Se nos primeiros meses do terceiro governo de Lula as relações entre a Casa Branca e o Palácio do Planalto tiveram momentos de estremecimento, por exemplo, durante a viagem do presidente brasileiro à China — e a inclusão de atividades como a visita à gigante de tecnologia Huawei, considerada uma ameaça à segurança nacional pelo governo americano —, as falas de ambos chefes de Estado na ONU mostraram um alinhamento de suas agendas.

Lula e Biden expressaram opiniões similares em matéria de combate às mudanças climáticas. Biden lembrou das ondas de calor recordes no mundo, incluindo EUA e China, dos incêndios florestais na América do Norte e o sul da Europa, do quinto ano de seca no Chifre de África e das inundações na Líbia que mataram milhares de pessoas como exemplos de uma mudança que já chegou.

 

"No seu conjunto, esses instantâneos contam uma história urgente sobre o que nos espera se não conseguirmos reduzir nossa dependência dos combustíveis fósseis e começarmos a tornar o nosso mundo à prova de alterações climáticas", disse.

Já Lula afirmou: "Volto hoje para dizer que mantenho minha inabalável confiança na Humanidade. Naquela época [em seus dois anteriores governos], o mundo ainda não havia se dado conta da gravidade da crise climática. Hoje, ela bate às nossas portas, destrói nossas casas, nossas cidades, nossos países, mata e impõe perdas e sofrimentos a nossos irmãos, sobretudo os mais pobres".

Um dos temas do discurso do presidente brasileiro foi o combate à desigualdade social: "O mundo está cada vez mais desigual. Os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da Humanidade. O destino de cada criança que nasce neste planeta parece traçado ainda no ventre de sua mãe."

Pouco depois, o chefe de Estado americano afirmou que "os EUA procuram um mundo mais seguro, mais próspero e mais equitativo para todas as pessoas, porque sabemos que o nosso futuro está ligado ao seu. E nenhuma nação pode enfrentar os desafios de hoje sozinha”.

Outro tema abordado por ambos foi a necessidade de reformar organismos internacionais, entre eles o próprio Conselho de Segurança da ONU, demanda histórica de todos os governos brasileiros nas últimas décadas. Lula assegurou que "O Conselho de Segurança da ONU vem perdendo progressivamente sua credibilidade. Essa fragilidade decorre em particular da ação de seus membros permanentes, que travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime. Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia”.

Biden, cujo país é membro permanente, o que significa ter poder de veto no Conselho, concordou: “Precisamos de mais vozes e mais perspectivas na mesa.

As diferenças entre os dois presidentes ficaram claras quando o assunto foi a guerra na Ucrânia. O chefe de Estado americano, aliado do governo de Volodymyr Zelensky, ao qual fornece armamentos e ajuda econômica, disse que a Rússia aposta no cansaço mundial para permitir que continue sua agressão contra a Ucrânia.

Para Biden, porém, se o mundo cair nessa armadilha, nenhum país-membro da ONU estará protegido.

"Se abandonarmos os princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas para apelar a um agressor, poderá algum Estado-membro sentir-se confiante de que está protegido? Se permitirmos que a Ucrânia seja dividida, estará garantida a independência de qualquer nação?", indagou em seu pronunciamento.

A resposta é não. Devemos enfrentar hoje essa agressão flagrante para dissuadir outros possíveis agressores amanhã. É por isso que os EUA, juntamente com os nossos aliados e parceiros em todo o mundo, continuarão a apoiar o corajoso povo da Ucrânia na defesa da sua soberania e integridade territorial – e da sua liberdade.

Em sua fala, o presidente Lula voltou a defender a necessidade de encontrar um caminho que leve os dois países a negociar um cessar-fogo e, posteriormente, um acordo de paz, reiterando o questionamento em relação aos investimentos bilionários de armamentos. Para Lula, mais do que escancar a necessidade de uma ação coletiva contra o conflito como princípio da Carta da ONU, a guerra revela "nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU" e evitar as hostilidades.

"Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz. Mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo. Tenho reiterado que é preciso trabalhar para criar espaço para negociações", disse o presidente brasileiro.

"Investe-se muito em armamentos e pouco em desenvolvimento. No ano passado os gastos militares somaram mais de US$ 2 trilhões. As despesas com armas nucleares chegaram a US$ 83 bilhões, valor 20 vezes superior ao orçamento regular da ONU", pontuou.

Para Lula, estabilidade e segurança mundiais só serão alcançadas com inclusão social e o fim da desigualdade, com a ONU cumprindo seu papel como casa do entendimento e do diálogo.

"A comunidade internacional precisa escolher: de um lado, está a ampliação dos conflitos, o aprofundamento das desigualdades e a erosão do Estado de Direito", afirmou, concluindo: "De outro, a renovação das instituições multilaterais dedicadas à promoção da paz". 

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