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Conflito

Disparos da polícia contra manifestantes terminam em um morto no Irã

Tragédia ocorre 41 dias após a morte de Mahsa Amini

Conflito no irãConflito no irã - Foto: UGC/AFP

As forças de segurança iranianas mataram um jovem a tiros durante protestos nesta quinta-feira (27) pela morte de Mahsa Amini, um dia depois de importantes homenagens para marcar os 40 dias desde sua morte sob custódia policial.

"Um jovem curdo morreu por fogo direto das forças de segurança iranianas" na cidade de Mahabad (oeste), tuitou o grupo de direitos humanos Hengaw. "Este jovem foi baleado na testa", denunciou a ONG, com sede na Noruega.

Amini, uma mulher curdo-iraniana de 22 anos, morreu em 16 de dezembro, três dias depois de ser detida em Teerã pela polícia da moralidade. Ela teria infringido o rigoroso código de vestimenta da República Islâmica.

Sua morte provocou a maior onda de protestos no Irã em anos, liderados por jovens mulheres que desafiam as forças de segurança, queimando seus véus. Quase seis semanas após a morte de Amini, a mobilização, alimentada pela indignação pública com a repressão que tirou a vida de outras meninas e mulheres, não mostra sinais de se arrefecer.

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, afirmou que os "distúrbios" provocados pela morte de Mahsa Amini abrem caminho para ataques "terroristas".

Suas declarações foram dadas depois de um ataque ocorrido na cidade de Shiraz, no sul, na quarta-feira (26), que deixou pelo menos 15 mortos. O presidente iraniano ultraconservador pareceu relacionar as duas tragédias.

"A intenção do inimigo é interromper o progresso do país, e esses distúrbios abrem caminho para atos terroristas", disse ele, em declarações transmitidas pela televisão.

 Manifestações em várias cidades 
Apesar das fortes medidas de segurança, milhares de pessoas se reuniram ontem na cidade natal de Amini, Saqqez, na província do Curdistão, para prestar-lhe uma última homenagem em seu túmulo, no final do tradicional período de luto do Irã.

Os presentes entoaram cânticos no cemitério de Aichi, nos arredores de Saqqez, antes que muitos se dirigissem para o gabinete do governador no centro da cidade.

De acordo com o grupo Hengaw, as forças de segurança dispararam gás lacrimogêneo e abriram fogo contra pessoas na praça Zindan em Saqqez. A ONG não especificou se houve mortos, ou feridos.

Ao cair da noite, as forças de segurança dispararam contra manifestantes em Marivan, província do Curdistão, de acordo com um vídeo postado pelo Hengaw.

Não muito longe, na cidade de Bukan, fogueiras queimavam nas ruas, e manifestantes gritavam "Morte ao ditador!", disse a mesma fonte.

Os manifestantes também cercaram uma base da milícia Basij em Sanandaj, uma cidade conflituosa na província do Curdistão, provocando incêndios e fazendo as forças de segurança recuarem, acrescentou Hengaw.

Houve cenas similares na cidade de Ilam, perto da fronteira ocidental do Irã com o Iraque.

A agência de notícias iraniana ISNA disse que a Internet foi cortada em Saqqez, por "razões de segurança", e que quase 10.000 pessoas se reuniram na cidade.

Nos vídeos divulgados on-line, pode-se ver outras milhares a caminho do cemitério em veículos, motos e a pé, atravessando campos e até mesmo cruzando um rio. Batendo palmas, gritando e buzinando, os manifestantes lotaram a estrada que liga Saqqez ao cemitério, a oito quilômetros de distância. A Hengaw disse ter verificado a autenticidade das imagens.

Repressão brutal 
Segundo a ISNA, depois de regressar do cemitério, alguns dos manifestantes tinham “a intenção de atacar uma base do Exército”, mas foram dispersos por outros participantes.

Um posto de controle da polícia foi incendiado, e houve incêndios junto a uma ponte no bairro de Qavakh, em Saqqez, de acordo com um vídeo verificado.

A repressão aos protestos em todo Irã deixou pelo menos 141 mortos, incluindo crianças, conforme balanço atualizado da ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega. Segundo a Anistia Internacional, 23 crianças morreram na repressão aos protestos, e 29, de acordo com o IHR.

Também houve uma campanha de detenções em massa de manifestantes e seus simpatizantes, entre eles professores universitários, jornalistas e celebridades.

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