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Divergência sobre adequação do Enem ao Novo Ensino Médio coloca ministro em colisão com secretários

Alterações devem valer apenas em 2028

Camilo SantanaCamilo Santana - Foto: Ricardo Stuckert/PR

Os planos do ministro da Educação, Camilo Santana, de mudar o Enem vão encontrar resistências entre os secretários estaduais da área, responsáveis por cerca de 85% das matrículas nesta etapa escolar do país. A discordância é em relação à adequação da prova ao Novo Ensino Médio, etapa escolar que teve mudanças aprovadas em 2018 e reformada novamente este ano.

Essas alterações devem valer apenas em 2028, mas as discussões para a reformulação começam já a partir do ano que vem. Camilo defendeu no domingo que a prova cubra apenas a parte do currículo que é igual para todos os alunos do ensino médio. Mas o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Vitor de Ângelo, defende a ampliação do conteúdo a ser cobrado no exame.

— Por que vamos gastar tempo dando aulas que não vão ser avaliadas? — questiona Vitor de Ângelo, secretário de Educação do Espírito Santo, em relação aos chamados itinerários formativos, a parte do ensino médio em que os alunos do ensino médio escolhem disciplinas específicas para se aprofundar.

O Novo Ensino Médio divide o currículo em duas partes. Uma é a formação geral básica, com 2,4 mil horas, em que todos estudam os mesmos conteúdos e possui as disciplinas tradicionais, como Português, Matemática, Química, Física, História e Geografia. A outra parte, de 600 horas de aula, é formada por itinerários formativos.

Ao ser questionado depois do segundo dia de provas do Enem no domingo, o ministro defendeu que o Enem passe a abordar apenas a formação geral básica.

— Vamos abrir (a discussão) com as redes e especialistas, mas defendo que a formação geral básica seja o que deva ser cobrado na prova do Enem porque ela é mais justa para todos os jovens brasileiros e todos que participaram da prova. Vamos implementar as mudanças do ensino médio e temos até 2028 para avaliar o processo de mudança ou não do Enem nos próximos anos — declarou.

Na entrevista, Manuel Palácios, presidente do Inep, autarquia organizadora da prova, chegou a afirmar que “há uma proposta com bastante aceitação” de que a formação geral básica seja a referência do Enem. No entanto, a posição da dupla encontra resistências entre os secretários estaduais de Educação.

— A reforma criou uma parte flexível do ensino médio. Ponto. Ela não funcionou bem e, por isso, reformamos a reforma. Entendo o Inep não conseguir avaliar da forma que é hoje, por estar muito fragmentado. Mas vai haver uma base curricular para os itinerários a que os estados precisarão se ater, e por isso é possível — defende o presidente do Consed. — Qual o sentido de fazer uma avaliação do ensino médio que não avalia 600 horas dele? Não consigo ver.

Novidades para 2025
O ambiente para as outras duas novidades estudadas pelo MEC é de mais aceitação. Atualmente, os alunos do 3º ano precisam fazer a prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que testa o aprendizado no fim da educação básica, e do Enem, que seleciona os alunos para a universidade.

A ideia do MEC é juntar essas duas funções em única prova já a partir de 2025. Vitor de Ângelo diz que a ideia tem sido conversada entre os secretários e possui entusiastas no grupo. Porém, há a preocupação das dificuldades técnicas de execução.

O MEC também estuda que pessoas que não terminaram o ensino médio possam fazer a prova para conseguir o diploma, caso consigam um patamar mínimo de desempenho.

— Estamos num momento bom de discutir isso em virtudes de mudanças que o Enem e que o Saeb precisarão ter — diz Ângelo, lembrando que o ciclo do Saeb terminou em 2023 e o Inep precisa renová-lo para 2025. — É um desafio porque o objetivo das questões é distinto. Um é avaliar a etapa. Outro é selecionar o aluno para a universidade. E outro é medir se o conhecimento dele do ensino médio. Não sei se um mesmo item consegue ser calibrado para essas três coisas ao mesmo tempo.

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