Divergências deixam transição política no Haiti em ponto morto
O primeiro-ministro, Ariel Henry, questionado pelo aumento da insegurança
As negociações para nomear um conselho presidencial de transição no Haiti se encontram em um beco sem saída, horas depois da anulação de uma votação sobre quem deveria liderar as novas autoridades, enquanto a população sofre as consequências da violência dos grupos criminosos.
O primeiro-ministro, Ariel Henry, questionado pelo aumento da insegurança e por ter chegado ao poder sem se submeter ao voto popular, concordou há duas semanas em entregar o comando do país a um conselho presidencial de transição.
Mas esse grupo, que deve representar as principais forças políticas, o setor privado, a sociedade civil e a comunidade religiosa, ainda não se concretizou. Os candidatos deveriam ter eleito na noite de ontem o líder do conselho, mas sua reunião foi adiada sine die, depois que vários representantes do grupo voltaram atrás, informou à AFP um de seus membros.
Leia também
• Novos tiroteios e ataques são registrados na capital do Haiti
• Violência das gangues deixa corpos nas ruas do Haiti e faz 33 mil fugirem em 15 dias
• Negociações para a escolha de novas autoridades no Haiti avançam
Em carta enviada aos colegas, o representante do partido Fanmi Lavalas, Leslie Voltaire, ressalta que a eleição de um presidente não seria possível sem um acordo político assinado pelos diferentes setores. Quando a composição do conselho presidencial parecia completa, René Jean Jumeau, um dos dois observadores sem direito a voto previstos no grupo, jogou a toalha, exigindo o direito de votar.
País bloqueado
O conselho de transição foi anunciado no último dia 11, após reuniões entre os haitianos supervisionadas pela Comunidade do Caribe (Caricom).
Para Gédéon Jean, que participou desses encontros como membro da sociedade civil, é hora de a comunidade internacional “voltar ao trabalho” para “empurrar os atores” do Haiti para um acordo. Caso contrário, a transição política levará meses, disse à AFP o diretor da ONG haitiana Centro de Análise e Pesquisa em Direitos Humanos (CARDH). “Não podemos deixar um país bloqueado dessa maneira."
Insegurança
A diretora do Unicef, Catherine Russell, alertou hoje que a vida de crianças corre risco devido à crise no Haiti. Já o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários reportou 10 casos suspeitos de cólera em uma escola que serve de abrigo para pessoas deslocadas devido à violência.
Os tiroteios cessaram em Porto Príncipe hoje, mas os criminosos que controlam a cidade saquearam e incendiaram na noite anterior farmácias, clínicas e residências próximas de um hospital universitário que está fechado devido à violência, segundo o depoimento de três moradores.
O comércio abriu as portas na capital e filas se formaram nos postos de gasolina, após dias de escassez.
A ONU prometeu no ano passado uma força internacional liderada por mil policiais quenianos para restabelecer a segurança no Haiti, mas o início de suas atividades foi atrasado pela falta de financiamento e pela decisão do Quênia de não enviar seus agentes até a instalação do conselho de transição.
A Casa Branca anunciou hoje que o presidente Joe Biden aprovou o pagamento de até 10 milhões de dólares (50 milhões de reais) para ajudar as forças de segurança haitianas “a proteger os civis e a infraestrutura vital".