Doença desconhecida no Congo: perguntas e respostas sobre o surto que já deixa 60 mortos
Testes descartaram Ebola e Marburg, vírus altamente letais que causam surtos esporádicos no continente, como causas; confira tudo o que se sabe até agora
O surto de uma doença desconhecida no Noroeste da República Democrática do Congo (RDC) acendeu o alerta das autoridades de saúde.
Ao todo, já são 60 mortos, muitos em menos de 48 horas após o início dos sintomas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o cenário como “uma ameaça significativa à saúde pública” e enviou uma equipe ao país para investigar a origem dos casos e o patógeno responsável.
Leia também
• Doença desconhecida no Congo: mortes sobem para 60, e casos passam de mil; o que se sabe até agora
• Doença desconhecida no Congo: o que se sabe até agora sobre o surto que deixa 53 mortos
Abaixo, confira as perguntas e respostas sobre o surto.
Quantos casos e mortes foram registrados?
Segundo nota emitida pelo escritório regional para a África da OMS nesta quinta-feira, foram registrados 1.096 casos e 60 mortes desde meados de janeiro.
Onde a doença foi detectada?
Os casos foram registrados em duas vilas com cerca de 100 km de distância entre elas no Noroeste da República Democrática do Congo (RDC): Boloko, na zona de saúde de Bolomba, e Bomate, na zona de saúde de Basankusu. Ambas ficam na província de Équateur.
A vasta maioria dos casos (1.084) e das mortes (52) ocorreram em Bomate, onde novos registros continuam a ser detectados. Por lá, 48,9% dos óbitos ocorreram em até 48 horas do início dos sintomas. Já em Boloko os últimos pacientes foram identificados no final de janeiro.
Quais os sintomas?
De acordo com a OMS, os sintomas incluem febre, dor de cabeça, calafrios, sudorese, rigidez na nuca, dores musculares, dor em múltiplas articulações e dores no corpo, coriza ou sangramento nasal, tosse, vômito e diarreia.
Quando o surto teve início?
Os primeiros registros foram relatados na vila de Boloko, onde três crianças com menos de 5 anos teriam morrido após comerem um morcego morto entre os dias 10 e 13 de janeiro.
Há uma relação definitiva entre os surtos nas duas vilas?
Não. No último boletim semanal sobre surtos e emergências, a OMS destaca que não se sabe ainda se os casos nos dois locais de fato têm ligação entre si, ou se são dois eventos separados. Segundo a OMS, as vilas são conectadas apenas por estrada ou pelo rio Congo.
“Nenhum vínculo epidemiológico foi estabelecido entre os casos nas duas zonas de saúde afetadas. Investigações clínicas, epidemiológicas e laboratoriais detalhadas estão em andamento para determinar a causa da doença e dos óbitos nas duas zonas de saúde”, diz o documento.
Quais doenças já foram descartadas?
Testes de amostras coletadas de pacientes nos surtos descartaram os vírus Ebola e Marburg como possíveis causas. Os dois vírus são altamente letais e provocam surtos esporádicos no continente africano.
Além disso, de 571 amostras analisadas, 54,1% testaram positivo para malária. No entanto, a OMS afirma que a doença é muito comum na região, por isso a causa segue indeterminada: “os resultados podem indicar coinfecção, o que exige uma investigação mais aprofundada”, afirma no boletim.
Quais causas estão sendo avaliadas?
A OMS afirma que diagnósticos diferenciais sob investigação incluem febre hemorrágica viral, febre tifoide e meningite, e que amostras de alimentos, água e meio ambiente também serão analisadas para determinar a possibilidade de contaminação. O material foi encaminhado ao Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica (INRB), laboratório de referência na capital Kinshasa.
Paul Hunter, professor de Medicina da Universidade de East Anglia (UEA), no Reino Unido, lembra que no final do ano passado houve um surto semelhante de uma doença até então desconhecida na RDC, com mais de 100 mortes.
Testes posteriores revelaram se tratar de casos de malária agravados por um cenário de desnutrição. Para ele, é possível que o problema agora seja “semelhante”, mas é preciso “aguardar os resultados das investigações em andamento para saber a causa” exata.
É comum ter surtos de doenças desconhecidas?
Michael Head, pesquisador sênior em Saúde Global da Universidade de Southampton, também britânica, explica que “há uma enorme incerteza sobre esse surto”, mas reforça que eventos do tipo “ocorrerão muitas vezes em todo o mundo”.
“Normalmente, esses surtos são controlados com relativa rapidez. No entanto, aqui, é preocupante o fato de termos centenas de casos e mais de 50 mortes, com sintomas semelhantes aos da febre hemorrágica amplamente relatados entre esses casos”, diz em nota.
“É provável que, com o aumento dos testes, tenhamos um patógeno confirmado em algumas dessas amostras”, continua.