Geral

Durigan, do Ministério da Fazenda, prega necessidade de manter restrição fiscal na ajuda ao RS

Dirigente mantém

Secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario DuriganSecretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, disse hoje, durante o Summit Valor Econômico Brasil-USA, em Nova York, que o país não pode medir esforços para ajudar o Rio Grande do Sul, mas, ao mesmo tempo, é importante manter restrição fiscal e transparência em relação ao que será feito.

- Em vez de anunciar um grande pacote, a gente está indo por etapas, de maneira muito coordenada, inclusive com o Supremo Tribunal Federal, com o Tribunal de Contas [da União]. Nós estamos falando de R$ 50 bilhões de crédito, mais de R$ 10 bilhões de investimento do próprio Estado e um crédito para as pessoas que estão desabrigadas poderem começar a reconstruir sua vida. Isso pode não parar por aqui. Nós não podemos medir esforços em ajudar o Rio Grande do Sul. Ao mesmo tempo, temos um cuidado grande com restrição fiscal e transparência do que vai ser feito.

Durigan também disse que foi positivo o que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha assumido o comando da resolução da crise no Rio Grande do Sul.

- O mais acertado que o presidente Lula fez em relação ao Rio Grande do Sul foi chamar para si a coordenação da resposta [à tragédia] - disse Durigan.

Segundo o dirigente, "não se trata de uma tragédia local, é uma tragédia regional de alto impacto". Durigan afirmou que o pior cenário para uma resposta à catástrofe seria se "cada um saísse fazendo uma resposta, porque a gente não vai conseguir atender à população e às necessidades que estão presentes".

O secretário da Fazenda explicou que o governo tem estudado várias alternativas de respostas, mas que mantenham o compromisso fiscal. Uma das ideias, disse ele, é "estruturar linhas de crédito com garantias para que esse crédito de fato chegue a essas pessoas que estão em uma situação muito difícil hoje". As linhas com garantias propostas, segundo o secretário, são "menos burocráticas, vão permitir uma ajuda de imediato e sem alterar a regra fiscal do país".

Conforme Durigan, o Executivo tem atuado de maneira próxima e coordenada com os outros poderes, o Legislativo e o Judiciário:

- O presidente propôs o decreto de calamidade pública no Rio Grande do Sul, com o presidente [da Câmara dos Deputados, Arthur] Lira, com o presidente [do Senado, Rodrigo] Pacheco. Esse decreto legislativo foi aprovado na segunda-feira passada na Câmara dos Deputados e, na terça-feira, no Senado. Houve um grande grau de comprometimento e de coordenação.

O Summit Valor Econômico Brasil-USA fez um minuto de silêncio em homenagem às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.

BID: força-tarefa

Também presente no Summit Valor Econômico Brasil-USA, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, disse que a instituição teve uma rodada de conversas com autoridades do Rio Grande do Sul e do governo federal para rapidamente liberar um pacote de R$ 5,5 bilhões para a região atingida. Segundo ele, o estado vai precisar de muitos recursos para reconstruir a nova infraestrutura após a tragédia das enchentes que ainda têm feito estragos na região.

- Parte disso é imediato, como recursos para ajuda humanitária e financiamentos para pequenas e médias empresas, e parte importante é para a reconstrução do Estado, para o desenvolvimento da infraestrutura - disse Goldfajn.

Além de prover recursos e inteligência nessa força-tarefa para tirar o Rio Grande do Sul da linha de crise, o executivo ressaltou a importância de pensar em mecanismos de proteção, dado que desastres climáticos tendem a se tornar cada vez mais frequentes:

- Temos que ser resilientes na reconstrução pensando nessa nova realidade.

Os recursos para o financiamento são escassos, disse Goldfajn. O processo requer uma ação coordenada de todos os públicos, trabalhando com o que já existe dentro dos bancos de desenvolvimento, melhorando seus balanços e alavancagem. O BID conseguiu aprovar uma capitalização de US$ 3,5 bilhões com os seus 48 membros para o BID Invest, o seu braço de financiamento privado. Neste modelo, a instituição financia o setor privado, mas não fica com grande parte dos projetos, detendo cerca de 10%, com outros investidores entrando conjuntamente.

- A parte fundamental é o tamanho dos recursos. Uma vez que tenha o recurso é importante saber o que está fazendo, o dólar bem investido é diferente do mal investido.

Dentro do BID, nas diversas iniciativas de impacto, Goldfajn disse que cada dólar vira US$ 7.

"Sem afetar o agro"

O presidente da Cargill Brasil, Paulo Souza, afirmou durante o evento que, apesar de o Rio Grande do Sul ser o terceiro maior produtor de grãos do país e segundo em produção de aves e suínos, a tragédia devido ao excesso de chuvas no Estado não vai impactar os números nacionais do agronegócio:

- Temos que nos sensibilizar com os funcionários e produtores gaúchos, claro, e regionalmente essas perdas serão um baque. Será um desafio reconstruir tudo, mas não afetará o país como um todo - disse o presidente da maior exportadora de soja e milho do Estado.

Souza também lembrou que o Rio Grande do Sul começou a agricultura moderna no país e as exportações profissionais na década de 1960 e que agora os produtores precisarão de “crédito, renegociação de dívidas e aberturas e facilidades na obtenção de seguro rural”.

- O desastre é comparável ao furacão Katrina nos EUA e atinge produtores que enfrentaram dois anos de seca e agora essa enchente. O setor privado pode e deve apoiá-los, mas a ação do governo será fundamental - afirmou.

Afora o Rio Grande do Sul, o executivo declarou que a infraestrutura de transporte é a questão mais importante para permitir o avanço do agro brasileiro, mais até que a armazenagem:

- Girar o estoque é melhor do que especular com ele. Claro, que uma produção crescente como a nossa exigirá cada vez mais locais para guardar o produto, mas escoar é que nos torna grande grande.

Fornecimento de água

No pico da crise provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul, a Aegea, que controla a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), teve um milhão de domicílios sem acesso a água. Hoje, são 140 mil, segundo o presidente da Aegea, Radamés Casseb, que esteve na plateia do Summit Valor. Ainda que os danos se concentrem na região metropolitana, há cidades ainda em que a infraestrutura está alagada. Segundo ele, a Aegea Corsan tem identificado os danos para restabelecer o fornecimento de água mesmo que de maneira precária num primeiro momento, até a intervenção definitiva:

- O investimento para o restabelecimento, que é grande, está coberto pelos aparatos de risco e seguro existentes na companhia, então o foco continua sendo no atendimento das pessoas.

Veja também

Sob protesto da esquerda, Macron nomeia novo governo e firma aliança com conservadores
FRANÇA

Sob protesto da esquerda, Macron nomeia novo governo e firma aliança com conservadores

EUA pede que cidadãos deixem o Líbano enquanto voos comerciais estão disponíveis
CONFLITO

EUA pede que cidadãos deixem o Líbano enquanto voos comerciais estão disponíveis

Newsletter