É preciso mudar "rumo" da gestão da água, diz secretário-geral da ONU
Mais de 2,3 bilhões de pessoas vivem em países com estresse hídrico
A humanidade depende de "um novo rumo" na gestão da água, alertou, nesta sexta-feira (24), o secretário-geral da ONU, António Guterres, no encerramento da Conferência sobre a Água.
Diante do risco iminente de uma crise hídrica mundial, "todas as esperanças de futuro da humanidade dependem [...] de que se trace um novo rumo baseado na ciência para dar vida à agenda de ação pela água", garantiu Guterres.
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"A água deve estar no centro da agenda política", instou Guterres, ecoando em seu discurso os muitos apelos pela nomeação de um enviado especial sobre este recurso, que não conta com uma agência dedicada à sua defesa no sistema ONU.
A conferência, a primeira desde 1977 e que contou com 10 mil participantes em três dias, revelou uma "verdade central", segundo o secretário-geral: a água é o "bem comum mais precioso que une a todos nós".
Guterres destacou o papel-chave da água na saúde, no saneamento, na higiene, na prevenção de doenças, na paz, no desenvolvimento sustentável, na pobreza, na alimentação, no trabalho e na prosperidade.
"Nossas esperanças dependem de compromissos inovadores, inclusivos e orientados à ação para tornar a água e o saneamento seguros, sustentáveis e geridos de forma inteligente, ao alcance de todos no planeta."
"Não pode haver desenvolvimento sustentável sem água", argumentou, antes de concluir: "Agora é a hora de agir."
ONGs, governos e o setor privado ofereceram quase 700 compromissos antes e durante os três dias do encontro da ONU. As promessas variavam desde a construção de banheiros até a restauração de 300 mil quilômetros de rios degradados e de grandes áreas alagadas.
Contudo, este programa não é vinculante para fazer frente a um problema global cada vez mais premente, agravado pela mudança climática, pelo uso insustentável deste recurso vital e pela poluição.
Segundo o relatório de especialistas do clima da ONU (IPCC, na sigla em inglês) publicado na segunda-feira, "cerca de metade da população mundial" sofre "grave" escassez de água durante pelo menos uma parte do ano.
Mais de 2,3 bilhões de pessoas vivem em países com estresse hídrico. Em 2020, aproximadamente de 2 bilhões de pessoas careciam de acesso à água potável, cerca de 3,6 bilhões não tinham instalações sanitárias e 2,3 bilhões não tinham como lavar as mãos em casa.
Resultado modesto
"Pode parecer um resultado um pouco modesto", disse à AFP um membro da delegação espanhola, que pediu anonimato. "Mas é preciso considerar que o primeiro passo é o mais difícil", acrescentou.
Também destacou a importância da cooperação internacional para atacar um problema que "não é horizontal", pois não se pode abordar separadamente a parte econômica, a social ou a ambiental, lembrou.
Embora "nem tudo seja rosa", e que "alguns compromissos não sejam tão fortes" como se espera, estou "agradavelmente surpreso", disse à AFP Stuart Orr, da ONG WWF.
"Muitas vezes, neste tipo de conferência, há muitas promessas [...] aqui tenho a impressão de que é diferente", disse, ao assinalar que houve uma energia gerada na comunidade de atores da água até agora "frustrada" pela falta de atenção a este elemento imprescindível para a vida.
"O problema não vai desaparecer, vai piorar. Acredito que é por isso que muita gente começa a pensar que é hora de fazer algo", declarou.
Em 2015, o mundo estabeleceu que, para 2030, a população do planeta teria acesso aos serviços de água e saneamento, mas os últimos relatórios indicam que estamos muito longe disso.
Em um exercício de imaginação, a jovem holandesa Anniek Moonen, do movimento de jovens pelo clima, dirigiu-se à conferência como se estivesse 27 anos no futuro para lembrar que este evento poderia representar um ponto de inflexão para a gestão mundial da água, que "mudou para se tornar mais sustentável e justa".
"O futuro fala com vocês, não se esqueçam de ouvir", aconselhou Moonen aos delegados.