"É uma segurança para mim", disse suspeita de envenenar namorado sobre conta conjunta
Júlia Andrade Cathermol Pimenta está foragida da Justiça, que decretou sua prisão. Caso é investigado pela 25ª DP (Engenho Novo)
A psicóloga Júlia Andrade Cathermol Pimenta, de 29 anos, suspeita de envenenar o namorado com um brigadeirão contendo 50 comprimidos de um forte analgésico, o empresário Luiz Marcelo Antônio Ormond, de 44, afirmou, em depoimento à polícia, que teria o convencido a abrir uma conta conjunta no banco por uma questão de "segurança" dela. Ela diz que estava em processos de se casar com o empresário, e que foi com ele a um cartório, no Méier, na Zona Norte do Rio, no início de maio.
No mesmo dia que foram ao cartório, segundo Júlia, o casal foi ao banco abrir a conta, em que ela seria segunda titular de uma conta já existente do namorado.
"(...) É uma segurança para mim. Poxa, vamos lá, né? A gente precisa ter uma conta conjunta. Qualquer coisa você deixa um dinheiro lá e eu uso. Vai que acontece alguma coisa? Vai que tem uma emergência? Aí eu fico sem nada", disse a psicóloga à polícia.
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'Segurança para mim', diz psicóloga suspeita de envenenar namorado sobre conta conjunta
A uma amiga, Ormond deixou claro que ela pressionava por uma oficialização do relacionamento, mas que ele não pretendia acelerar esse processo. Ao mesmo tempo, no áudio enviado, obtido pelo RJTV da RV Globo, Luiz Marcelo reflete sobre sua condição de um homem solitário, sem filhos e sem pais vivos: "Eu também tenho que ter uma companhia, né? Eu, se eu morrer amanhã, as minhas coisas ficam todas pro Estado; Eu não tenho ninguém pra deixar minhas coisas".
No mesmo áudio, o empresário deixa claro que Júlia com quem vivia uma relação esporádica há pelo menos 10 anos, tornada mais estável desde abril deste ano, quando a convidou para morar com ele se mostrava ansiosa para sacramentar a união: "A gente tem que tentar né? Mas, assim, também não é nada pra ontem, não... ela que tá na maior pressão pra...Já viu, já, já foi, já no cartório, na segunda, pra ver negócio de casamento. Mas, assim, eu tô segurando, não vou fazer nada pra ontem não", disse.
Em abril, Luiz Marcelo alterou seu perfil numa rede social, informando que havia se casado. Pessoas próximas chegaram a alertar sobre o que consideravam uma relação Em 17 de maio, foi filmado dando um beijo na amada no elevador do prédio. Em uma das mãos, levava um prato no qual, segundo investigadores, estava o brigadeirão envenenado que causou sua morte. Foi a última vez que foi visto com vida. Três dias depois, seu corpo foi encontrado, já em avançado estado de decomposição, na sala de casa.
As versões de como o casal se conheceu são conflitantes. Para alguns amigos, Marcelo contou que foi por meio de redes sociais; para outros, que viu Júlia pela primeira após bater de carro, acrescentando que ela o ajudou. Foi esse segundo relato que chegou ao conhecimento de uma cabeleireira, amiga da vítima, que estava sempre em contato com Marcelo.
Em depoimento, ela disse que gostava de Luiz Marcelo "como um filho" e que o relacionamento dele com Júlia era "complicado", porque o empresário sabia que a namorada tinha um relacionamento com outra pessoa, com quem passava os fins de semana.
A cabeleireira contou ainda que, ao saber que Luiz Marcelo havia feito um pagamento de R$ 2.600 a um agiota a pedido de Júlia, que se dizia ameaçada de morte, alertou o empresário para "largar esse relacionamento, porque é perigoso". Marcelo não ouviu o conselho e seguiu investindo na paixão. O empresário, segundo a amiga, "chegou a comentar que tinha a intenção de se casar com Júlia e que estava muito apaixonado".
A mulher conta ainda que, em 11 de maio, Luiz Marcelo chegou ao seu salão "extremamente estranho, sonolento, com a fala mole, dizendo que estava se sentindo mal", mas não sabia dizer o motivo. Isso, segundo ela, se repetiu nos dois dias seguintes. A situação levou a amiga a perguntar, de forma incisiva, se ele "estava fazendo uso de drogas, o que foi prontamente negado". Após ver as últimas imagens do empresário com vida, ao lado de Júlia no elevador, ela disse ter reconhecido, no vídeo, o mesmo estado "sonolento, mole" do amigo.
Outra testemunha ouvida pela polícia, que conhecia Luiz Marcelo desde a adolescência, disse aos policiais que se preocupou quando o empresário falou das "intenções de levar Júlia para morar com ele" e afirmou que o alertou de que a namorada "não era a pessoa certa, devido ao fato de se relacionar com outra pessoa ao mesmo tempo, ter relações escusas com agiotagem e nunca estar presente quando Luiz Marcelo mais precisou", referindo-se ao enterro da mãe dele, um ano antes.
A Justiça do Rio decretou a prisão de Júlia, que, até o fechamento desta edição, seguia foragida. De acordo com as investigações, ela preparou o brigadeirão com cerca de 50 comprimidos de um remédio à base de morfina, com a intenção de roubar pertences de Luiz Marcelo. Após a morte do namorado, Júlia passou três dias no apartamento com o cadáver, aguardando a chegada de um cartão da conta conjunta dos dois. Horas após recebê-lo, foi embora. No mesmo dia, depois de vizinhos estranharem o mau cheiro, o corpo foi encontrado.
A principal motivação para o crime, de acordo com as investigações, seria financeira: os investigadores acreditam que a namorada queria ficar com os bens da vítima. O Disque Denúncia (21 2253-1177) divulgou um cartaz em que pede informações sobre o paradeiro de Júlia.