Rio de Janeiro

"Ela quer justificar o injustificável", diz entregador após acusações de homofobia por ex-atleta

No depoimento à polícia nesta segunda-feira, a ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias disse ter sofrido preconceito de gênero e negou racismo

Professora Sandra Mathias Correia de Sá aparece em vídeo dando chicotadas no entregador Max Angelo Alves dos Santos Professora Sandra Mathias Correia de Sá aparece em vídeo dando chicotadas no entregador Max Angelo Alves dos Santos  - Foto: Reprodução

O entregador Max Ângelo dos Santos, de 36 anos, compareceu na tarde desta terça-feira (18) a 15° DP (Gávea) junto de seu advogado, Joab Gama, para acesso ao depoimento de Sandra Mathias Correia de Sá e de testemunhas.

Max negou a versão da mulher, que afirmou, em seu depoimento à polícia na última segunda-feira, ter sofrido homofobia por parte do entregador. Sandra, que foi flagrada desferindo golpes semelhantes a chibatadas no entregador disse à polícia que se sentia ameaçada e confirmou a briga iniciada dias antes.

— Ela quer reverter a situação. Isso nunca existiu, ela quer justificar o injustificável. Eu jamais iria ser homofóbico com ela, eu sou negro e acho que racismo e homofobia são igualmente ruins. É triste ver que a pessoa errou, mas se nega a reconhecer — contou.

Sandra prestou depoimento na 15ª DP (Gávea) na última segunda-feira. Segundo o G1, à polícia, a mulher negou as acusações de racismo e disse que usou a guia da coleira de seu cachorro para "se defender".

Ela confirmou, no depoimento, que a briga começou no dia 4 de abril, após Max passar muito perto dela com a bicicleta, o que entendeu como "desrespeito".

Sobre a ocasião, Sandra contou ainda que foi até a loja de entregas e pediu um telefone para fazer uma queixa contra o entregador, mas que, enquanto esperava, Max a filmava e dizia "palavras homofóbicas e provocativas", e que ela disse: "Você é homofóbico", mas não prestou queixa.

Ela negou que tenha feito ofensas racistas ou preconceituosas, que só lembra de ter xingado ele de "filho da p*ta" e o mandado "se f*der", e que as agressões verbais foram recíprocas.

— Não passei tão próximo dela com a bicicleta como ela alega e nada seria suficiente para que ela fizesse aquilo — disse.

Sobre a briga do dia 9, a ex-jogadora de vôlei relatou que passeava com sua cachorra quando Viviane Maria Teixeira, outra entregadora, falou: "E aí, mano? Quando você vai parar de me cuspir?"; no que ela respondeu que nunca cuspiu em ninguém na vida. Segundo o depoimento de Sandra, Viviane continuou as provocações e iniciou ameaças: "Eu vou te amassar... Você é fraquinha... Vou te quebrar, sua velha", e Max apoiava as agressões, falando: "Você mora aqui, é rica e acha que pode nos denunciar?".

Ela disse ainda que os entregadores já estavam irritados porque ela fazia constantes reclamações sobre a bagunça na região e que "já acionou a Guarda Municipal diversas vezes". Sobre as agressões físicas, ela admitiu que resolveu dar um soco em Viviane após "ser ofendida", e que Viviane chutou o seu rosto por duas vezes, enquanto Max a segurou. Após ser agredida, a mulher relatou que caiu do degrau da escada e agarrou a perna de Viviane, mas não mordeu – como diz Viviane.

A ex-jogadora relatou que "após ser agredida por Viviane, com a ajuda de Max, resolveu pegar a guia de sua cachorra para se defender da 'covardia" de Max (que a teria segurado). Segundo ela depôs, o desentendimento era entre "duas mulheres" e que Max interferiu para ajudar Viviane.

Sandra chegou à delegacia às 13h50, usando máscara e acompanhada pelo seu advogado. Na saída, já sem máscara, Sandra disse apenas: "não tenho nada para falar, dá licença, por favor", demonstrando impaciência ao ser indagada pelos jornalistas sobre os motivos das agressões. Alegando que a investigação está sob sigilo, Roberto Butter, o advogado de Sandra, também não quis comentar o depoimento.

A Polícia Civil já ouviu uma testemunha e intimou outras três pessoas que presenciaram as agressões. O caso foi registrado como lesão corporal e injúria simples. Segundo a delegada a frente do caso, ainda não há elementos suficientes para que o caso seja tipificado como injúria racial. Ela aguarda pelo menos mais três depoimentos para juntar mais elementos.

— Estamos aguardando mais pessoas que serão ouvidas juntando mais elementos. Até o momento, ainda não temos testemunhas que tenham ouvido palavras racistas contra Max — disse.

O entregador pede que testemunhas que tenham presenciado os ataques e os xingamentos racistas sofridos por ele, vão até a delegacia e prestem depoimento para que sua versão não seja descredibilizada pela fala da mulher.

O advogado de defesa reforça que o seu cliente jamais ofendeu Sandra e que as imagens são claras em relação à agressão que seu cliente sofreu. Joab reforça que as falas da mulher podem configurar calúnia contra Max.

— As imagens mostram claramente o que aconteceu. Ela tirou a coleira do cachorro para agredir Max e não foi visto ninguém fazendo algo com ela — disse, acrescentando que o seu cliente nem mesmo tinha o conhecimento de que ela era homossexual: — As falas dela não são reais, se ela não pode comprovar, pode ser citada por calúnia.

O que aconteceu com Max Ângelo?
A professora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá desferiu ao menos quatro chibatadas contra o entregador Max Angelo Alves dos Santos no último domingo

Ao passar por entregadores, começou a atacar verbalmente o grupo, dizendo para eles "voltarem para a favela".

Max registrou duas ocorrências contra Sandra Mathias, que foi banida de plataforma de delivery após o caso

Após a repercussão, Max ganhou do iFood uma motocicleta e uma bicicleta elétrica

Uma vaquinha para entregador agredido por ex-atleta de vôlei comprar casa própria já arrecadou de R$ 100 mil em menos de um dia

*Estagiária sob supervisão de Leila Youssef

Veja também

Eleições EUA: Harris tem 50% e Trump 48% em nova pesquisa da Fox News
Estados Unidos

Eleições EUA: Harris tem 50% e Trump 48% em nova pesquisa da Fox News

Advogado diz que González foi vítima de "chantagem" para deixar a Venezuela
González

Advogado diz que González foi vítima de "chantagem" para deixar a Venezuela

Newsletter