Argentina

Eleição de Milei na Argentina lança dúvidas sobre acordo UE-Mercosul, afirmam deputados europeus

Para legisladores, retórica do ultradireitista contra o multilateralismo ameaça postergar ainda mais acordo comercial entre os blocos

Javier Milei ganhou as eleições argentinas com 55,7% dos votos Javier Milei ganhou as eleições argentinas com 55,7% dos votos  - Foto: Luis Robayo/AFP

A eleição do ultradireitista Javier Milei à Presidência da Argentina afetará o andamento das negociações do acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, afirmaram membros do Parlamento Europeu, em Bruxelas, nesta terça-feira.

A chegada do ultraliberal ao poder "terá um impacto porque nem ele nem ninguém de sua equipe acredita no multilateralismo como uma ferramenta para resolver desafios comuns, nem na Europa nem na América Latina", disse à AFP a eurodeputada Mónica González, vice-presidente da delegação do Parlamento Europeu para as relações com o Mercosul.

Para a legisladora espanhola, a UE terá que encontrar uma forma de continuar seus programas na Argentina, como os relacionados à questão ambiental ou de gênero.

— Os programas tradicionais de cooperação na Argentina são mais necessários do que nunca — observou, considerando que durante o governo de Milei "vamos precisar apoiar e defender as ONGs argentinas".

— Se levarmos em consideração a retórica da campanha de Milei, deveríamos estar muito preocupados porque não só o acordo com a UE, mas a própria aliança do Mercosul tem sido questionada — disse a eurodeputada portuguesa Maria Manuel Leitão Marques.

Segundo Leitão Marques, se esta retórica "se confirmar em ações e se transformar em uma política, poderá colocar em risco não só o acordo da UE com o Mercosul, mas também o bom relacionamento do país com a União Europeia".

— [É necessário] defender o apoio da UE às organizações da sociedade civil que lutam pelos direitos humanos, incluindo os direitos das mulheres — disse ela.

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Negociações demoradas
A UE e os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) anunciaram o fim bem-sucedido do diálogo em 2019, mas o processo de ratificação do acordo rapidamente estagnou porque as nações europeias exigiram um capítulo adicional sobre questões ambientais.

As negociações entre os dois blocos ficaram praticamente paralisadas durante o governo de Jair Bolsonaro, mas foram retomadas com a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao poder.

Agora, com Milei na presidência argentina, ressurgiram as dúvidas sobre a finalização do acordo ainda em 2023, como pretendia a Comissão Europeia, braço Executivo da UE.

Neste contexto, o eurodeputado espanhol Miguel Urbán criticou o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, por ter mencionado o acordo com o Mercosul na declaração em que parabenizou o argentino por sua vitória eleitoral.

— A UE deixa claro que, quem quer que governe, os interesses das elites europeias serão defendidos — disse o legislador, membro da Assembleia Parlamentar euro-latino-americana. — Não se importa se os gatos são pretos ou brancos, desde que continuem a caçar ratos.

A eurodeputada espanhola María Eugenia Rodríguez opinou, por sua vez, que o impacto da eleição de Milei deve ser analisado regionalmente e não exclusivamente em relação ao acordo entre os blocos.

—É preciso ver do ponto de vista estrutural, e ver o que acontecerá se este tipo de opções antissistema, antidemocráticas e anti-institucionais se reproduzirem, como um efeito dominó, na América Latina e na Europa — adicionou.

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