Eleição na Venezuela: Brasil fala em caráter "pacífico", mas não reconhece resultado
Assessor especial da Presidência brasileira e enviado como observador a Caracas, Celso Amorim afirmou ao Globo que a falta de transparência no país vizinho 'incomoda'
Horas após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciar a vitória do presidente Nicolás Maduro nas eleições do país, o governo brasileiro afirmou, em nota, que o pleito ocorreu ontem com “caráter pacífico” no território, mas que “acompanha com atenção” a apuração dos votos. A postura está alinhada com a de outras lideranças internacionais, que exigiram transparência e não reconheceram imediatamente a reeleição do chavista.
No comunicado, o Itamaraty citou “o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados”. O órgão brasileiro disse aguardar a publicação pelo CNE de ‘dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”. Mais cedo, representantes dos Estados Unidos e de países da América e da Europa também cobraram a divulgação de todas as atas.
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Ainda nesta segunda-feira, o assessor especial da Presidência do Brasil Celso Amorim afirmou que a falta de transparência “incomoda” – e que o governo brasileiro aguardava os dados para se manifestar sobre o resultado. Amorim foi enviado à Venezuela pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para acompanhar o pleito venezuelano e pretendia deixar Caracas depois do almoço de hoje, mas, segundo o próprio ex-chanceler disse ao Globo, só deve retornar ao Brasil nesta terça.
Amorim declarou que, sem as atas verificadas, “fica difícil o reconhecimento” do pleito. O assessor especial conversou com o presidente Lula na noite de domingo e já pela manhã desta segunda-feira. Ele também confirmou já ter falando com o dirigente opositor Gerardo Blyde, coordenador da oposição nos diálogos com o chavismo e um dos principais interlocutores do assessor do petista na oposição venezuelana. Não há previsão de contato entre Lula e Maduro.
O resultado anunciado pelo conselho na madrugada desta segunda-feira, com 80% das urnas apuradas, indicou a reeleição do chavista para um terceiro mandato de seis anos, com mais de 5,1 milhões de votos (cerca de 51,2%) contra 4,4 milhões (44,2%) obtidos pelo candidato opositor, Edmundo González Urrutia. A oposição denuncia não ter tido acesso a 100% das atas de votação, e contesta o resultado final, apontando que González Urrutia é o verdadeiro vencedor.
A oposição denuncia não ter tido acesso a 100% das atas de votação e contesta o resultado final, apontando que o candidato González Urrutia é o verdadeiro vencedor. González acusou o CNE de “violar as normas” e destacou que seu grupo político lutará para que “a vontade do povo seja respeitada”. A líder da oposição, María Corina Machado — que chegou a vencer as primárias mas foi impedida de disputar o pleito —, anunciou que nos próximos dias sua coalizão agirá para “defender a verdade”.
Em sua primeira declaração após os resultados, Maduro agradeceu aos eleitores e afirmou ser um “homem de paz e de diálogo” e pediu respeito ao CNE e à Constituição venezuelana. No poder desde 2013, o chavista agora tem a perspectiva de permanecer na Presidência por 18 anos, até 2031. Ao final do novo mandato, penas o ditador Juan Vicente Gómez terá governado por mais tempo que ele, com 27 anos no total (1908-1935). (Com AFP)