Venezuela

Eleição na Venezuela: Divergências travam comunicado conjunto entre Brasil, Colômbia e México

Presidentes dos três países poderiam se comunicar nesta quarta para conciliar nota sobre o processo eleitoral venezuelano; irritado, o colombiano Gustavo Petro divulgou um comunicado sozinho nesta terça

Nicolas MaduroNicolas Maduro - Foto: Yuri Cortez/AFP

Desde segunda-feira, os governos de Brasil, Colômbia e México estão tentando elaborar um comunicado conjunto sobre a situação política na Venezuela, que contenha um claro posicionamento sobre o resultado das eleições presidenciais divulgado na madrugada de segunda pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

As negociações estão, neste momento, travadas por divergências entre os três países, e trabalha-se numa comunicação telefônica entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Gustavo Petro e Andrés Manuel López Obrador, possivelmente nesta quarta-feira.

Segundo fontes diplomáticas que acompanham as conversas entre os três governos que adotaram o que vem sendo chamada de “uma terceira posição” (não aderiram às denúncias de fraude da oposição, mas tampouco reconheceram a reeleição de Maduro), o texto ainda não foi divulgado por várias razões, entre elas uma forte resistência do governo mexicano em aceitar vários dos termos propostos por colombianos e brasileiros. Para o Brasil é importante a participação do México, para dar mais peso ao comunicado.

Um dos pontos em discussão é como expressar a necessidade de que, se o governo de Nicolás Maduro eventualmente entregar as atas de votação, como pediram Brasil e Colômbia, entre muitos outros, essas atas sejam verificadas. A Colômbia, disseram fontes de Bogotá, defende uma verificação “internacional”.

O Brasil vem defendendo uma verificação “imparcial”. Na diplomacia, a semântica importa e muito.

Em Bogotá, fontes do governo de Gustavo Petro, que nesta terça divulgou sozinho uma nota na qual expressa que “as graves dúvidas sobre o processo eleitoral venezuelano podem levar seu povo a uma profunda polarização violenta”, asseguram que o Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva fez ressalvas ao termo "internacional".

O presidente colombiano, disseram as fontes, “ficou incomodado com a divulgação da comunicação entre Lula e o presidente americano, Joe Biden”. Petro, acrescentaram as fontes,

“está esperando a divulgação na nota trilateral desde segunda, e ao ver a comunicação de Lula e Biden decidiu falar sozinho”.

Uma das principais preocupações do presidente colombiano, expressado em seu comunicado unilateral, é que a Venezuela mergulhe numa guerra civil, como aconteceu na Colômbia durante mais de 50 anos.

“O povo colombiano sabe por sua própria história da gravidade que causa a polarização violenta construída pelo sectarismo político”. No mesmo texto, Petro pediu ao governo de Biden que suspenda “os bloqueis e decisões que afetam os cidadãos venezuelanos”em referência às sanções.

No México, existe, ainda, uma diferença entre o presidente e a presidente eleita, Claudia Sheinbaum. Enquanto López Obrador diz que não há provas da suposta fraude denunciada pela oposição, a presidente eleita pediu “transparência” no processo eleitoral.

"Ouvi o presidente [López Obrador] falando de 80% dos votos apurados, mas temos de esperar a apuração final ", declarou Sheinbaum.

Diante de uma das crises mais graves que enfrenta a Venezuela nos 25 anos em que o chavismo está no poder, a região está dividida. O Brasil, insistem fontes do governo Lula, “não fará nada que possa levar a uma ruptura [como aconteceu com o Chile de Gabriel Boric].

Isso já foi feito e não funcionou”. As mesmas fontes asseguram que muitos dos governos que questionaram com dureza o resultado do CNE e todo o processo eleitoral venezuelano estão em permanente contato com o Brasil, e, em muitos casos, pedem ajuda para resolver situações dentro da Venezuela, já que perderam qualquer canal de comunicação com o governo Maduro.

Uma dessas ajudas foi pedida pela chanceler argentina, Diana Mondino, ao chanceler Mauro Vieira.

Na embaixada argentina em Caracas estão refugiados seis colaboradores de María Corina, e nos últimos dias forças de segurança do governo chavista rondaram a sede diplomática, causando um clima de pânico entre os diplomatas argentinos. O Brasil, afirmaram as fontes, fez uma ponte com o governo Maduro para tentar contornar a situação.

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