Argentina: tudo o que você precisa saber sobre a votação mais importante desde a redemocratização
Sergio Massa e Javier Milei se enfrentam no segundo turno da votação que definirá o novo ocupante da Casa Rosada neste domingo (19)
O atual ministro da Economia, o peronista Sergio Massa, e o radical de direita Javier Milei se enfrentam neste domingo no segundo turno da eleição que definirá o novo ocupante da Casa Rosada, sede da Presidência da Argentina, em uma disputa que deverá ser acirrada e na qual cada voto contará. Entre acusações não comprovadas de fraude eleitoral, uma economia em frangalhos, a inflação nas alturas e candidatos com altos índices de rejeição, essa será a eleição mais polarizada na Argentina desde 1983, quando o país retornou à democracia após a última ditadura militar.
Veja abaixo tudo o que você precisa saber sobre a eleição presidencial na Argentina:
Quem são os candidatos?
Javier Milei, o profeta da dolarização da Argentina que disputará a Presidência, é conhecido por seus acessos de raiva, cultiva uma imagem de roqueiro e percorreu o país com uma motosserra para simbolizar cortes nos gastos públicos. Antes de se candidatar, o economista de 53 anos era frequentemente convidado na televisão da Argentina, devido ao seu estilo excêntrico e a sua retórica antissistema que atraíam grande audiência.
O candidato trabalhou no setor privado até 2021, quando ganhou um assento como deputado por Buenos Aires integrando a recém-formada coalizão A Liberdade Avança. Desde então, dominou a agenda midiática com comentários polêmicos.
Assim, Milei se tornou, nos últimos anos, um fenômeno do mundo digital e, aos poucos, conquistou uma legião de fãs em redes como YouTube, Instagram e TikTok. Num país mergulhado na decadência econômica e acostumado aos permanentes escândalos de corrupção, as falas de Milei cativaram, sobretudo, os mais jovens, base de sua militância mais radical.
Leia também
• Às vésperas das eleições, Milei é vaiado no Teatro Colón, em Buenos Aires
• Justiça Eleitoral convoca reunião de urgência com campanhas de Massa e Milei
• Campanha de Milei recua em alegação de fraude no 1º turno na Argentina após pressão de aliados
Um dos pilares de sua campanha é, como diz, "dinamitar" o Banco Central, considerando também qualquer intervenção do Estado um excesso. Milei ainda é conhecido por sua forte oposição ao aborto, seu compromisso de eliminar o Ministério da Mulher e sua negação da disparidade salarial entre homens e mulheres.
Massa, por sua vez, tem mais de 30 anos de carreira política, sendo o atual ministro da Economia do país. Figura de destaque no governo peronista de centro-esquerda da Argentina, Massa concorre pela segunda vez à Presidência, depois da derrota em 2015. Na ocasião, ficou em terceiro lugar no primeiro turno das eleições, vencidas pelo direitista Mauricio Macri.
Aos 51 anos e adepto do diálogo, Massa fez acordos com empresários, sindicatos e com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas não conseguiu controlar a inflação de três dígitos, principal preocupação dos argentinos atualmente.
Massa foi membro do Gabinete do governo de Cristina Kirchner (2007-2015) e funcionário do governo de seu marido e antecessor, Néstor Kirchner (2003-2007). Em 2013, no entanto, rompeu com o kirchnerismo e liderou uma campanha para evitar o que ele, na época, chamou de "tentativa de ter uma Cristina eterna".
Em 2019, porém, aliou-se novamente à ex-presidente, eleita vice-presidente naquele ano, sob a gestão de Alberto Fernández.
O que dizem as pesquisas?
As pesquisas mais recentes apontaram um empate técnico no segundo turno. Nas últimas 15 sondagens registradas, a média de Milei era de 51,1% votos favoráveis, enquanto Massa aparecia com uma média de 48,8%. A margem de erro da maioria das pesquisas é de 2,3 pontos para mais ou para menos.
Embora mais pesquisas parecem apontar para uma vitória de Milei do que de Massa, o erro mais substancial entre as médias do primeiro turno e o resultado final foi justamente a subestimação do candidato governista. Já nas Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (as chamadas Paso, que definiram quem seriam os candidatos ao pleito), o erro favoreceu Milei.
O cenário, portanto, é muito nebuloso e incerto. Isso porque, no geral, a campanha oscilou entre os sentimentos de irritação com a política tradicional representada por Massa e de medo com as ideias disruptivas de Milei, que já defendeu a venda livre de armas e chegou a declarar que a oferta de órgãos humanos poderia constituir "mais um mercado".
A decisão fica na mão dos indecisos. Conforme as sondagens, o percentual de intenção de votos oscila de 5% a até quase 18%, e cerca de 40% dos eleitores não se identificam com nenhum dos dois candidatos.
Que horas começa a votação?
Os eleitores de toda a Argentina terão, ao todo, 10 horas para se dirigirem às suas seções correspondentes e votarem em seu candidato à Presidência — isto é, das 8h às 18h. Segundo as autoridades eleitorais, aqueles que estiverem dentro dos locais antes do horário de encerramento poderão permanecer por mais alguns minutos até chegar a sua vez de votar.
Que horas sai o resultado?
Espera-se que resultados parciais comecem a ser divulgados pela Direção Nacional Eleitoral (Dina), do Ministério do Interior, a partir das 21h locais (mesmo horário de Brasília), em torno de três horas após o encerramento da votação. Já o oficial deve ser divulgado em menos tempo do que no primeiro turno, em 22 de outubro, possivelmente na segunda-feira.
Como foi o primeiro turno?
No primeiro turno, em 22 de outubro, o ministro da Economia ficou em primeiro, com 36,78% dos votos, superando o rival de A Liberdade Avança, que obteve 29,99%. Ficaram de fora do segundo turno a ex-ministra Patricia Bullrich, da Juntos pela Mudança, com 23,81%, e o governador de Córdoba, o peronista Juan Schiaretti, com 6,83%.
Quando o novo presidente assumirá o cargo?
O presidente eleito assumirá o poder em 10 de dezembro para um mandato de quatro anos. (Com agências internacionais.)