PORTUGAL

Eleições em Portugal: caminho para novo governo passa por extrema direita ou Gabinete minoritário

Cálculo político após divulgação dos resultados das urnas mostra uma realidade de fragmentação, apesar da guinada à direita no Parlamento

Apoiadores comemoram resultado eleitoral em Portugal Apoiadores comemoram resultado eleitoral em Portugal  - Foto: Miguel Riopa/AFP

Com uma guinada à direita revelada pela abertura das urnas nas eleições gerais de Portugal, mas sem nenhuma sigla consolidando ampla maioria na Assembleia da República, as principais forças políticas portuguesas iniciam, a partir desta segunda-feira, as negociações para construir a aliança de governo que liderará o país. Com a margem curta entre os principais concorrentes e o avanço da sigla de extrema direita Chega, a costura do novo governo deve ser particularmente sensível, e deixa poucas opções de resolução.

O Ministério da Administração Interna de Portugal apresentou resultados provisórios que apontam a vitória da Aliança Democrática — liderada por Luís Montenegro, do Partido Social Democrata (PSD), de centro direita, em coligação com o Centro Democrático e Social-Partido Popular (CDS-PP, direita conservadora) e o Partido Popular Monárquico (PPM) — com 79 cadeiras. A margem para o segundo colocado, o Partido Socialista (PS), de Pedro Nuno Santos, foi de apenas 2 assentos. Na terceira posição, o Chega, liderado por André Ventura, foi o partido que mais cresceu, com 48 deputados eleitos — 36 a mais do que nas eleições anteriores.

Apenas uma aliança envolvendo dois dos três partidos seria capaz de fazer com que o futuro Gabinete de governo alcance mais da metade das 230 cadeiras do Parlamento. Contudo, diferenças ideológicas e promessas de campanha afastam, ao menos em um primeiro momento, um acordo imediato entre os partidos.

A maior distância para um acordo está entre PS e Chega. Separados por um abismo ideológico e alvos mais frequentes de ataques trocados, a chance de uma conversa entre os dois é nula. Principal partido de esquerda da política nacional, o PS também informou que não pretende negociar um governo de unidade nacional com a AD — com seu líder do partido, Nuno Santos, falando abertamente que a sigla integrará a oposição.

— O PS será oposição, nós vamos liderar a oposição. Seremos oposição, renovaremos o partido e procuraremos recuperar os portugueses descontentes com o PS — disse o líder da legenda, em um discurso na noite de domingo.

Embora estejam à direita no campo político, um acordo entre AD e Chega é tão improvável do que o acordo com o PS — ao menos inicialmente. Ao longo da campanha eleitoral, Montenegro afirmou que o partido não faria uma aliança com a extrema direita, o que voltou a reiterar em seu discurso na noite de domingo.

— Naturalmente, cumprirei a minha palavra— disse Montenegro sobre o "não" ao Chega. — Nunca faria a mim mesmo, ao meu partido e à democracia tamanha maldade que seria não cumprir compromissos que assumi de forma tão clara.

Por outro lado, o líder da sigla de extrema direita, André Ventura, demonstrou interesse em integrar o futuro governo. Celebrando o resultado eleitoral do domingo, Ventura classificou a noite como histórica e disse que os portugueses teriam dado uma mensagem clara sobre o destino político do país — algo que usou para pressionar a liderança da AD.

— Só um líder muito irresponsável deixará o PS governar quando temos nas mãos fazer um Governo de mudança — disse Ventura.

Xadrez político
Caso o bloqueio ao Chega seja mantido, nenhuma das siglas mais votadas será capaz de formar um governo de maioria. Recairá sobre o presidente do país, Marcelo Rebelo de Sousa, nomear então um dos partidos para tentar formar um governo de minoria — algo que é permitido em Portugal, mas que só aconteceu três vezes na história, desde 1976. O risco político, neste caso, é o da instabilidade para o Gabinete, que fica na dependência de acordos pontuais em cada votação de projeto.

A Presidência portuguesa informou, após os resultados iniciais, que as lideranças de todos os partidos serão ouvidas entre a terça-feira, 12, e o dia 20. A escolha do novo primeiro-ministro será divulgada ao final das reuniões, e apenas após a contabilização dos resultados dos círculos de emigração, que elegem os quatro últimos deputados, ainda de acordo com as informações iniciais.

Uma vez que a diferença entre AD e PS foi de apenas dois deputados, os socialistas poderiam tomar a dianteira caso vencessem as cadeiras votadas no exterior — vencendo as quatro, chegariam a 81.O número poderia se ampliar caso conseguisse agregar forças minoritárias mais próximas à esquerda que à direita ideologicamente, como o CDU, que inclui os comunistas portugueses, o Bloco de Esquerda, o Livre e o PAN. Os partidos somados fariam o Gabinete hipotético — e altamente fragmentado — chegar a 95 cadeiras.

Sem o Chega, o máximo de deputados que o AD conseguiria garantir no Parlamento seria 91, considerando que conquistasse as quatro cadeiras reservadas aos círculos de emigração e os oito deputados do Iniciativa Liberal, que conquistou oito deputados. Montenegro não disse se convidaria representantes da IL, que tem uma visão ultraliberal na economia e das políticas públicas, para o seu gabinete, mas almoçou com o líder da sigla, Rui Rocha, há alguns meses, para expressar sua vontade de chegar a acordos pós-eleitorais.

Apesar da incerteza sobre quem ocupará o cargo de primeiro-ministro, a sinalização inicial do Partido Socialista é de que não irá impor obstáculos para que a AD monte o seu gabinete. O funcionamento do futuro governo e sua "vida útil", no entanto, é incerto. (Com El País e AFP)

Veja também

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela
Venezuela

Maduro diz que González Urrutia lhe pediu 'clemência' para sair da Venezuela

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios
Queimadas

'Estamos tentando evitar o fim do mundo': Flávio Dino defende gastos com incêndios

Newsletter