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Eleições na França: Mais de 160 candidatos anunciam desistência do 2º turno

Estratégia repetida em pleitos anteriores envolve reduzir as opções consideradas 'democráticas' para concentrar os votos dos eleitores e reduzir chances de radicais

Manifestantes participam de protesto em Paris após vitória da extrema direita no 1º turno das eleições na França Manifestantes participam de protesto em Paris após vitória da extrema direita no 1º turno das eleições na França  - Foto: Dimitar Dilkoff/AFP

Obedecendo a instruções partidárias para diminuir as chances de vitória de candidatos de extrema direita no 2º turno das eleições legislativas francesas, candidatos da coalizão Renascimento, do presidente Emmanuel Macron, e da Nova Frente Popular, de esquerda, começaram a anunciar suas desistências de disputas envolvendo três ou mais candidatos.

De acordo com uma atualização do jornal Le Monde, na tarde desta segunda-feira, 167 candidatos já haviam retirado suas pretensões de concorrer, em uma estratégia para concentrar os votos na opção mais viável contra a extrema direita.
 

O sistema político francês divide o país em 577 círculos eleitorais, cada um deles representado por apenas um deputado. Para ser eleito, o deputado precisa conquistar maioria simples (50% + 1 voto) no 1º turno ou ser o mais votado (proporcionalmente) em um 2º turno disputado não apenas por dois, mas pelo número de postulantes que alcançar um mínimo de 12,5% dos votos. Essa peculiaridade da política francesa cria a possibilidade das chamadas disputas triangulares — quando há três candidatos no 2º turno.

Ainda de acordo com o Le Monde, a votação em 1º turno criou 306 disputas triangulares. Entretanto, o número na prática será menor, considerando a desistência dos candidatos governistas e de esquerda, que seguiram às recomendações de seus partidos.

Na noite de ontem, tanto líderes da Nova Frente Popular, como Jean-Luc Mélenchon, do França Insubmissa, e Raphaël Glucksmann, do Partido Socialista, quanto o premier Gabriel Attal, protegido de Macron, anunciaram que seus correligionários que se qualificaram para o 2º turno como terceiros mais votados em seus círculos eleitorais deveriam retirar suas candidaturas, para facilitar o enfrentamento contra candidatos do Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen e Jordan Bardella.

A estratégia de isolar a extrema direita é conhecida na França como "cordão sanitário". Ela já foi usada em outros pleitos em que a extrema direita chegou ao 2º turno com chances de vitória, como em 2002, quando o candidato de direita Jacques Chirac, dos Republicanos, recebeu apoio de partidos de centro e esquerda para derrotar Jean-Marie Le Pen, da então Frente Nacional.

Mesmo se funcionar, o cordão sanitário só deve ser capaz de reduzir danos, uma vez que as pesquisas apontam que o RN deve acabar como o partido com mais cadeiras ao fim das eleições. Impedir que a legenda chegue ao governo pela primeira vez, no entanto, parece ser um objetivo unificados.

A coalizão de esquerda havia anunciado antecipadamente que retiraria as candidaturas em círculos eleitorais que seus representantes estivessem em condição menos favorável para derrotar a extrema direita. A dúvida permanecia sobre os partidos da coalizão de Macron, que fez uma campanha aberta contra os extremos da política francesa, equiparando o Reagrupamento Nacional à França Insubmissa, que integra a Nova Frente Popular.

Embora os candidatos tenham começado a se retirar, as mensagens na noite de domingo não foram totalmente esclarecedoras. Attal fez um pronunciamento, no qual defendeu que "nenhum voto" deveria ser dado ao RN, instando a retirada das candidaturas. Édouard Philippe, ex-premier e líder do Horizon, que compõe a coalizão, disse que os candidatos pelo partido só deveriam se retirar da disputa se o 2º turno não se tornasse uma disputa entre o França Insubmissa e o Reagrupamento Nacional.

A quantidade final de candidatos envolvidos nas disputas de 2º turno será conhecida na noite de terça-feira, prazo final para que os partidos e candidatos confirmem quem continua e quem abandona a disputa.

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