Eleitores pressionam políticos democratas por mais combatividade contra ações de Trump
As duras críticas vêm enquanto os democratas estão fora do poder em todos os níveis do governo federal e sem um líder claro, expondo profundas divisões dentro e fora do partido

Políticos democratas enfrentaram uma onda de críticas de seus próprios eleitores durante assembleias municipais nesta semana, em meio à frustração com a atuação do partido frente às ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e da maioria republicana no Congresso.
Leia também
• 'As pessoas têm medo': economia dos migrantes sofre com as políticas de Trump
• Dólar sobe por cautela com tarifas de Trump e queda de commodities
• Aliado de Trump, senador Steve Daines visita China em meio a tensões comerciais
As duras críticas vêm enquanto os democratas estão fora do poder em todos os níveis do governo federal e sem um líder claro, expondo profundas divisões dentro e fora do partido.
Nos eventos realizados em estados como Arizona, Maryland e Illinois, senadores e deputados ouviram apelos por mais combatividade e estratégia política.
Os senadores do Arizona, Mark Kelly e Ruben Gallego, segundo a CNN, foram instruídos por eleitores a “lutar de forma mais suja” e “entrar na lama” com os republicanos.
— Queremos que você mostre um pouco da espinha dorsal e do brilhantismo estratégico que Mitch McConnell teria na minoria — afirmou um eleitor ao deputado Glenn Ivey, de Maryland. Já em Illinois, durante um encontro com o deputado Sean Casten, uma participante desabafou.
— Eles deveriam tentar lutar de verdade pelo menos uma vez. Eles deveriam tentar ser realmente o partido da oposição — disse a mulher.
O estopim
A tensão entre os legisladores democratas e seus eleitores veio à tona dias depois que a Câmara e o Senado, liderados pelos republicanos, evitaram por pouco uma paralisação ao aprovar uma medida de gastos governamentais de curto prazo — com a ajuda do líder da minoria no Senado, Chuck Schumer.
Republicanos também enfrentaram resistência em assembleias, apesar da orientação para evitarem eventos públicos durante o recesso legislativo.
A maioria dos republicanos atendeu a esses chamados. Aqueles que não atenderam, como o deputado Mike Flood, de Nebraska, e a deputada Harriet Hageman, de Wyoming, foram vaiados por eleitores preocupados com cortes em áreas como pesquisa médica e educação.
— Quero ouvir que ele e outros republicanos vão defender a democracia — disse Carol Moseman, eleitora republicana de Flood, em entrevista à CNN.
Já Hageman enfrentou críticas em seu distrito sobre cortes de gastos federais e subsídios congelados.
A professora de jardim de infância Tomi Sue Wille disse que apoia a iniciativa de Trump de desmantelar o Departamento de Educação, mas teme que o financiamento federal crucial para crianças com necessidades especiais não chegue aos seus alunos.
Após demissão em massa no Departamento de Educação: Secretários de Justiça democratas processam governo Trump
— Eu acredito que o Congresso precisa assumir algum controle para garantir como esse financiamento ainda é distribuído aos estados — disse Wille à CNN.
Eleitores indignados com o papel dos democratas
Em uma assembleia em Maryland, o deputado Glenn Ivey foi confrontado por eleitores indignados com o papel que os democratas, particularmente Schumer, desempenharam em ajudar os republicanos do Congresso a aprovar a resolução contínua para evitar uma paralisação do governo.
— Não é que vocês estejam em minoria, é que vocês nem estão trabalhando juntos em uma estratégia compartilhada. E isso é fracasso. Queremos que você mostre que luta e você não está lutando — gritou um eleitor identificado como John.
Outra participante, Donya Williams, também criticou o deputado por desconhecer as pessoas de seu distrito.
— Você não sabe nada sobre um podcast, e como um democrata (legislador) que representa todas essas pessoas, você não sabe como alcançá-las. Então, portanto, você não nos conhece — protestou Williams.
Ivey respondeu que ele e outros membros do Congresso estão tentando fazer mais para se conectar com eleitores mais jovens nas mídias sociais.
— A chave é garantir que nos voltemos uns para os outros e não uns contra os outros ao fazer o alcance — disse ele.
Uma mulher o elogiou por manter a compostura, mas foi direta: “Precisamos que você seja menos educado”.
'Temos que lutar contra eles'
No Arizona, os senadores Kelly e Gallego enfrentaram uma audiência tensa. Questionados sobre o apoio à liderança de Schumer, preferiram se esquivar. “Estamos nos concentrando nisso agora”, respondeu Gallego.
Uma das vozes mais impactantes foi a de Quianna Brown, mãe de uma criança de 10 anos com cobertura do Medicaid ameaçada.
— O que fazemos? Nós nos sentimos incrivelmente impotentes tentando planejar para nossa família. Não podemos esperar até que isso esteja feito. Precisamos saber como nos preparar para o que pode vir pela escotilha. Estamos tentando nos proteger antes de sermos feridos, e não sabemos como — disse Brown.
Kelly descreveu a história de Brown como “incrivelmente poderosa” e pediu seu nome para compartilhá-la com os republicanos em Washington. Gallego disse que os democratas “todos adorariam poder estalar os dedos agora mesmo e ter essa solução, mas não vai acontecer dessa forma”.
— Temos que lutar contra eles. Temos que moê-los até o ponto em que desistam dessa luta. Porque se você ceder um centímetro, eles vão levar tudo — afirmou Gallego.
Quando Kelly e Gallego argumentaram que havia um caminho para convencer os republicanos a preservar o Medicaid, Jacie Czerwinski, um democrata que é dono de uma academia de escalada, reagiu.
— Quando eles vão tirar as luvas e realmente fazer alguma coisa — disse ele em voz baixa. — Eles estão pregando para convertidos.
Segundo uma pesquisa da CNN, a aprovação do Partido Democrata caiu para 29%. Entre os eleitores democratas e independentes que se alinham ao partido, 57% disseram que a prioridade deve ser bloquear a agenda republicana, enquanto apenas 42% defendem buscar acordos.