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Coronavírus

Em 24 dias, morreram 37 dos pacientes transferidos de Manaus a outros estados

Quatro das mortes foram de pacientes transferidos para Pernambuco

Pacientes chegaram em voo da FABPacientes chegaram em voo da FAB - Foto: Rodrigo Baltar/Hospital das Clínicas/UFPE

Desde o início da crise da falta de oxigênio hospitalar no Amazonas, 37 pacientes transferidos de Manaus morreram em hospitais de outros estados, em um cenário de apagão de informações sobre infecções pela nova variante do coronavírus identificada no Amazonas e sua distribuição no país. Quatro das mortes foram de pacientes transferidos para Pernambuco.

A variante P.1. tem algumas mutações observadas também nas variantes de fora do país, que podem estar relacionadas a maior transmissibilidade e maior letalidade.

Médicos e gestores, porém, ainda não sabem o resultado dos sequenciamentos genéticos quase um mês após as primeiras
transferências para outras partes do país.

A escassez crítica de oxigênio em Manaus atingiu seu ápice em 14 de janeiro, quando a falta de insumo nos hospitais provocou mortes de pacientes por asfixia. O Ministério da Saúde começou, então, um movimento de transferência de pacientes que não estivessem em estado grave de saúde e que não dependessem, no momento do deslocamento, de um leito de UTI (unidade de terapia intensiva).

Até sábado (6), 570 pacientes haviam sido transferidos, a partir de uma coordenação do ministério. Desse total, 225 (39,4%) tiveram alta médica e 37 (6,4%) morreram longe de suas casas. Os 37 óbitos ocorreram no intervalo de 24 dias. A média é de 1,5 morte por dia.

 



As informações fazem parte do relatório mais recente fornecido pela Casa Civil da Presidência ao STF (Supremo Tribunal Federal). Em cumprimento da decisão do ministro Ricardo Lewandowski, o governo Jair Bolsonaro precisa atualizar ao Supremo, de 48 em 48 horas, um plano de atuação no Amazonas.

Não há um parâmetro para os números com as mortes por Covid-19 de pacientes que ficaram no Amazonas, uma vez que foram transferidas pessoas dentro de um critério específico e com atendimento difuso em hospitais em diferentes estados.

Uma situação comum constatada pela Folha, em conversas com médicos e gestores de unidades onde houve óbitos, é a demora para sequenciamentos genéticos e falta de respostas sobre as análises laboratoriais feitas. Esses exames poderiam mostrar se os pacientes foram infectados com a variante P.1.

O Ministério da Saúde afirma que o sequenciamento genético não é um método de diagnóstico e não é realizado para confirmar casos suspeitos da Covid-19. "Tampouco é indicado para ser feito para 100% dos casos positivos", afirma, em nota. "Contudo, a análise do resultado permite quantificar e qualificar a diversidade genética viral circulante no país."

É recorrente entre pacientes transferidos a evolução rápida para quadros gravíssimos da Covid-19, com comprometimento acelerado dos pulmões. Tanto que o mais comum foi a internação de pacientes em UTIs assim que chegaram aos hospitais de destino. Esta condição não existia em Manaus.

Uma outra característica constatada pela reportagem é a morte de pacientes jovens, entre 40 e 60 anos.

As principais transferências foram feitas para hospitais universitários federais, que se readequaram para ampliar vagas e receber os pacientes de Manaus.

O HC (Hospital das Clínicas) da UFG (Universidade Federal de Goiás) recebeu 35 pacientes. Até o dia 2, houve três óbitos. Em mais uma semana, houve mais três mortes.

Entre os óbitos mais recentes estão o de uma mulher de 41 anos e o de um homem de 47 anos. Eles apresentaram uma "aceleração intensa no agravamento do quadro em 24 horas", segundo o hospital, que já deu alta médica a outros 19 pacientes.

O HC não faz a análise genômica necessária para mapeamento da variante do novo coronavírus. Os dados são enviados a São Paulo. Até esta segunda (8), não havia qualquer resposta.

"Esses pacientes chegaram com gravidade avançada, com 90%, 95% de comprometimento do pulmão. Houve um caso em que não houve nem tempo para fazer os exames", afirmou o superintendente do HC da UFG, José Garcia Neto. "Tratamos como sendo infecções pela nova cepa. A Secretaria de Saúde do Amazonas adota o entendimento de que a grande maioria dos novos infectados é pela nova cepa", afirmou Neto.

O Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia, cidade colada a Goiânia, recebeu outros 14 pacientes do Amazonas. Houve, até agora, seis altas e cinco mortes. Três continuam internados.

"Os óbitos seguiram índices semelhantes ao que vínhamos acompanhando para a doença", disse Luciano Carvalho, superintendente de Avaliação e Controle da Secretaria Municipal de Saúde.

O Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública) de Goiás coletou amostras para sequenciamento genético, enviadas a São Paulo, mas as equipes de saúde ainda não têm respostas. "Não conseguimos afirmar se há alguma relação com a nova cepa. A evolução da doença é muito incerta", disse Carvalho.

Ao todo, foram feitos exames com amostras de 24 pacientes de Manaus levados a Goiás. A análise ficou a cargo do Instituto Adolfo Lutz, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.

A iniciativa partiu da Superintendência de Vigilância em Saúde em Goiás, e não do Ministério da Saúde, conforme gestores ouvidos pela Folha. A pasta só apareceu para tratar do sequenciamento genético de variantes em locais onde há aceleração ou circulação da cepa no fim da semana passada.

No Espírito Santo, que recebeu 36 pacientes de Manaus, houve cinco óbitos. O último foi nesta segunda-feira, de um homem de 43 anos que ficou hospitalizado por 17 dias.

Os pacientes que chegaram ao estado foram diretamente para a UTI, segundo o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes. No Amazonas, eles estavam em enfermarias. Cinco permanecem internados em UTI.

"Um dos pacientes teve sintomas no Natal. Até o último dia 29, o RT-PCR seguia dando positivo", afirmou o secretário. "Vinte e quatro pacientes têm condições de alta clínica. Para que isso ocorra, exigimos dois PCRs negativos, em um intervalo de 24 horas entre um e outro."

No Maranhão, houve três mortes até o fim da semana passada. O HC da UFMA (Universidade Federal do Maranhão) recebeu 39 pacientes de Manaus.

Um jovem de 36 anos, que tinha asma, foi uma das vítimas da Covid-19. Também morreram idosos transferidos do Amazonas.

"No caso do óbito mais recente, o paciente já estava de alta na enfermaria, e teve um AVC mesmo usando medicamento para evitar esses eventos", afirma Joyce Lages, superintendente do hospital.

A estatal que administra os hospitais universitários tem conhecimento, até agora, da detecção da variante P.1. apenas no Piauí. Era um caso leve da doença. O paciente já voltou a Manaus.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que vem emitindo comunicados aos estados com orientação sobre o sequenciamento de rotina do vírus. As análises são conduzidas por Adolfo Lutz, Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e Instituto Evandro Chagas.

Até o dia 5, houve a confirmação de 51 casos pela nova variante, sendo 44 no Amazonas, cinco em São Paulo e dois no Pará.

O ministério faz o sequenciamento de 1.200 amostras do vírus, de todas as unidades da federação, dentro de um projeto de rede nacional de sequenciamento genético, conforme a pasta.

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