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Caso Flordelis

Em interrogatório, Flordelis é questionada por jurado se seu choro é real

A ex-deputada e pastora está no banco dos réus ao lado de três filhos e uma neta pela morte do pastor Anderson do Carmo; Julgamento chega a sexto dia

Julgamento da Ex-deputada FlordelisJulgamento da Ex-deputada Flordelis - Foto: Reprodução/ Twitter

O julgamento dos cinco acusados de envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo — entre eles a ex-deputada Flordelis dos Santos de Souza — entra no sexto dia neste sábado, quando começam a ser interrogados os réus. Às 11h45, a pastora começou a ser ouvida. Em alguns momentos respondendo com voz trêmula, a pastora foi perguntada por um jurado se o choro era real. Ela disse que sim. O interrogatório, iniciado às 11h45, durou cerca de 40 minutos.

Flordelis, que seria a última a falar, foi a segunda do dia. O filho afetivo André Luiz Oliveira foi o primeiro. Rayane Oliveira, neta da pastora, foi a terceira. Após pausa para almoço, às 15h18 começou o interrogatório de Marzy Teixeira, filha afetiva da ex-deputada Por último será Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica da pastora.

A ex-deputada respondeu as perguntas apenas da defesa e dos jurados. A advogada Janira Rocha conduziu o interrogatório e perguntou quem é o autor do homicídio do pastor Anderson do Carmo, marido de Flordelis.

"Eu não posso acusar ninguém. Não estava presente no local, não vi. Não posso afirmar", disse a pastora.

A advogada questionou o motivo do crime:

"É muito difícil pra mim falar, mas foi a ciência, os abusos. Os abusos na minha casa", disse a pastora. "Eu não tinha conhecimento. Eu amava meu marido. Ele era tudo para mim, era minha vida. Houve desconfiança uma única vez, com minha filha Kelly."

A advogada pediu que Flordelis falasse sobre os abusos que sofria e se sabia se outras mulheres da família passavam por isso.

"No início do nosso casamento era muito bom, foi um início muito bom. Quero ressaltar que casei com ele por causa dos problemas muito fortes que tinha na época. Sempre tive costume de assinar documentos sem ler. Depois de casada, começou a me bater. Ele me batia. Depois ele parou com essa prática de me bater. Depois ele se tornou uma coisa assim, muito doída, muito sofrida."

Ao ser perguntada se alguém presenciou Anderson batendo nela, Flordelis respondeu que algumas filhas tentavam evitar agressões separando o casal e que o filho Alexsander Felipe Matos Mendes, na casa chamado de Luan, também teria visto.

" Sim. O Luan, algumas filhas entravam na frente. Depois do aconselhamento de um pastor, Abílio Santana, ele não bateu mais em mim. Nunca mais", disse. "Teve uma época que começou a ficar agressivo no ato sexual. Só sentia prazer se me machucasse."

Seguindo a estratégia da defesa, além das perguntas de seus advogados, a ex-deputada respondeu apenas aos questionamentos dos jurados. Nesse momento, ela disse não se recordar do episódio de uma troca de mensagens em que falava não poder se separar do marido para não "escandalizar o nome de Deus". Perguntada sobre o que falaria em sua defesa, Flordelis respondeu:

"Eu não tenho que pagar pelos erros de ninguém. Há três anos e pouco, excelência, estou pagando por uma coisa que não fiz. Estou sendo chamada de mandante do assassinato da pessoa que eu mais amava nessa vida. Eu só tinha seis meses de mandato na Câmara, eu precisava dele para que meu mandato desse certo."

Ela também afirmou ter tomado conhecimento dos abusou apenas após a morte de Anderson. Nesta semana durante o julgamento, o nome de Kelly, uma das filhas afetivas, foi citado por outras testemunhas, como Daiane Freires, que disse saber que a irmã era abusada pelo. Kelly teria contato para a mãe e ouvido: "Se a mulher está ciente que o marido procura outra, não é pecado". Rayane, neta de Flordelis, que foi a terceira interrogada neste sábado, disse ter contato que Kelly sofreu abuso em casa e que a pastora não teria acreditado.

Neta é ouvida
A terceira a ser ouvida foi Rayane. Por cerca de 1 hora, a neta da pastora e filha de Simone afirmou que sofreu episódios de abuso sexual por parte do pastor Anderson do Carmo. Ao responder perguntas da defesa, ela disse, quando estava em Brasília, ter acordado com o avô no quarto.

"De manhã, acordei com meu avô em cima de mim, passando a mão em mim. Quando eu senti que a mão dele estava chegando perto da minha vagina, virei, pra ver se ele parava", disse Rayane, que completou:

"Eu estava em Brasília porque ele me deu essa oportunidade. Tinha medo de contar, esse assunto vazar e eu perder essa oportunidade. Depois da morte, contei para minha mãe, para a Flor, para a Lorrane. Já não estava mais aqui, então falei: ‘agora posso falar’. Minha mãe (Simone) nunca tocou no assunto. Sempre falou que não tinha o que fazer."

Ela disse ter presenciado situações na casa da família, em Niterói, no Rio de Janeiro.

"Presenciei essas situações que até já foram ditas aqui sobre a minha mãe (Simone), de desespero dela, de estar em casa e meu telefone tocar, e ser ela (mãe). Sempre passando a mão nas pernas, tudo que foi dito aqui, infelizmente, é verdade. E da Kelly."

Hoje, Rayane disse que Kelly contou a ela, uma semana antes de casar, que sofria abusos. A neta afirmou ter contado para a avó e ela não acreditar. Isso contradiz o que foi ditos, minutos antes por Flordelis durante o interrogatório, de que teria tomado conhecimento apenas após a morte de Anderson.

Rayane nega duas acusações contra ela: a de que teria pedido para Erica dos Santos de Souza o contato de um bandido e também de que teria contratado um matador para executar Anderson, em um plano anterior para assassinar a vítima.

Filho afetivo foi primeiro réu ouvido
Primeiro a ser ouvido, às 10h27, em seu interrogatório, questionado pela advogada Janira Rocha, André Luiz narrou que chegou à casa de Flordelis quando a ex-deputada ainda morava na favela do Jacarezinho, nos anos 90. Na época, ele era adolescente e se tornou filho afetivo da pastora. André se casou com Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, com quem teve três filhos biológicos — Lorrane, Rafaela e Ramon. Eles ainda têm uma filha afetiva, Rayane dos Santos de Oliveira, e um adotivo, Moisés. Rayane e Simone também são rés pela morte de Anderson do Carmo.

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Apesar de ter apenas um ano a menos do que Anderson, André se refere ao pastor como pai. Ele afirma que desde o início, ao chegar à casa de Flordelis, a vítima já tinha uma posição de liderança na família.

André negou a existência de rituais na casa, inclusive envolvendo sexo, e também que tenha passado por uma “lavagem cerebral”. Ele também negou que Flordelis impedisse que ele tivesse contato com sua família biológica.

"Pelo contrário. Ela incentivava. Pedia que eu fosse ver minha família",  afirma.

A advogada continuou com perguntas sobre a relação de Anderson e de Flordelis dentro e fora de casa. Uma delas sobre se André presenciou, alguma vez, agressões do pastor à ex-deputada.

"Agressão física não, mas meu pai era rígido na palavra, no falar. Minha mãe estava falando algo e ele interrompia. Sempre foi nesse tom. Houve momento dele afastar ela de situações quando eles estavam discutindo alguma coisa", respondeu André.

Ao ser perguntado se Flordelis tinha autonomia sobre o dinheiro da casa, o filho afetivo negou e disse que até mesmo a verba vinda da arrecadação das igrejas, que tinham o nome da ex-deputada, era controlada. segundo André, era arrecadado R$ 170 mil por mês com os espaços religiosos.

"Não. Quem comandava a igreja era meu pai e Misael. Eles que comandavam o dinheiro. Gastos, o que comprava, o que não comprava. O que pagava, o que não pagava. Eu era tesoureiro, mas minha função era fazer o que eles pediam."

Em seu interrogatório durante as audiências de instrução e julgamento do processo respondido por ele, André ficou em silêncio e não deu qualquer declaração.

O filho afetivo de Flordelis negou que tenha contratado um matador para executar o pastor, meses antes do crime. Uma testemunha no processo, Luana Rangel, cunhada de André, afirma que ele pagou um homem que teria sido contratado pela filha Rayane para matar a vítima.

"Isso nunca aconteceu",  declarou.

André também negou as tentativas de envenenamento de Anderson e afirmou que o pastor tinha diversos problemas de saúde, até mesmo por ser muito ansioso.Ele responde por ter participado do assassinato de Anderson e de tentativas anteriores de matá-lo por envenenamento, além de associação criminosa armada.

O acusado admitiu que teve conhecimento de um plano para matar a vítima no início de 2019. Segundo ele, o próprio pastor contou que havia descoberto que alguém da casa queria matá-lo. Segundo as investigações, Anderson encontrou em seu Ipad uma mensagem com um plano que foi escrito por Marzy Teixeira, também ré no processo, e enviado para Lucas Cezar dos Santos, já condenado por ter ajudado a comprar a arma do crime.

"Meu pai nos falou que alguém estava querendo matá-lo. Mas para mim não disse quem era a pessoa. Salvo engano foi no quarto dele. Estava eu e Carlos e ele falou que tinha alguém da casa querendo matá-lo, mas que estava resolvendo ou ia resolver."

"Eu sou inocente. Não tive nada a ver com isso", disse André ao encerrar o interrogatório.

Ritos do julgamento
Após o interrogatório dos réus, começará os debates entre a defesa e a acusação. Há a possibilidade deles ocorrerem imediatamente após os depoimentos ou se a sessão será suspensa. Caso o julgamento não seja interrompido, os debates devem ser feitos na noite e madrugada de sábado. Primeiro terá palavra a acusação – promotor de Justiça e em seguida o assistente de acusação. Eles poderão falar por duas horas e meia, dividindo esse tempo, pedindo pela absolvição ou condenação dos réus, a depender das provas apresentadas no julgamento. Depois, terão direito a falar também por duas horas e meia a defesa dos acusados. Eles terão que dividir o tempo total disponível. Os mesmos advogados defendem Flordelis, Rayane, André e Marzy. Apenas Simone é representada por outra advogada, Daniela Grégio.

Após a explanação da defesa, MP e assistente de acusação terão duas horas de réplica e em seguida, os advogados terão mais duas horas de tréplica. Devido ao número de réus, a defesa deve pedir que o tempo do debate seja aumentando.

Os jurados votarão quesitos, formulados pela juíza, sobre a existência ou não do crime, autoria ou participação dos réus, se devem ser absolvidos, se existem causas de aumento de pena, entre outros. A votação acontece na chamada sala secreta. Após a votação, a magistrada elabora a sentença e estipula a pena, de acordo com os quesitos votados pelos jurados.


 

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