Em Moscou, voluntários russos organizam ajuda para milhares de deslocados por incursão ucraniana
No sábado, mais de 76 mil pessoas foram retiradas da área de Kursk, numa ordem prorrogada até esta segunda-feira
Em Moscou, voluntários se organizam para ajudar a população deslocada pela incursão ucraniana na região fronteiriça de Kursk, com doações que preenchem as lacunas deixadas pelo Estado.
Bolsas com roupas, sacos de dormir, comida para bebês, produtos de higiene, brinquedos ou itens para animais de estimação são empilhadas em um centro de coleta. Do lado de fora, na calçada, uma faixa escrita à mão diz: "Ajuda humanitária para o centro de coleta de Kursk".
Leia também
• EUA alerta para resposta "severa" se Irã transferir mísseis para Rússia
• Rússia luta para conter ofensiva ucraniana sem precedentes em seu território
Esta mobilização foi promovida pelos partidos de Ekaterina Duntsova e Boris Nadejdin, dois russos que tentaram participar nas eleições presidenciais de março com programas a favor da paz, mas cujas candidaturas foram invalidadas.
— Não é sobre política, são vidas humanas. Sinceramente, não me importa que tipo de pessoa eu ajudo. O importante é que eu os ajude — disse à AFP Ekaterina Dobrinina, uma voluntária de 22 anos, do partido de Duntsova.
Ofensiva
A Ucrânia, que luta contra uma ofensiva russa em seu território desde fevereiro de 2022, lançou uma incursão armada na região fronteiriça russa de Kursk no dia 6 de agosto.
No sábado, mais de 76 mil pessoas foram retiradas da área afetada pela incursão, segundo a Rússia. A ordem de evacuação foi prorrogada até esta segunda-feira na região de Kursk, bem como em um distrito vizinho em Belgorod.
Este centro foi inaugurado no sábado em um bairro relativamente central da capital russa. Os voluntários afirmam ter recebido dezenas de doações em apenas dois dias, com o auxílio das redes sociais e da estrela do rap russo Noize MC.
'O Estado não se preocupa'
Daria Shistopolskaya, uma parteira de 28 anos, foi ao local para entregar brinquedos.
— O Estado não se preocupa o suficiente com estas pessoas e o povo deveria ajudar nestas situações — declarou.
Ao seu lado, o filho se despede do dinossauro de pelúcia verde que dá aos voluntários.
Ucrânia e Rússia trocam acusações: Incêndio é registrado em central nuclear de Zaporíjia, mas sem risco de acidente
— Acho que os civis afetados [...] não recebem ajuda suficiente. Tudo o que posso fazer para ajudar, tento fazer hoje — lamentou Kirill Borzov, um cientista da computação que foi entregar comida para bebês.
Nesta segunda, o primeiro-ministro, Mikhail Mishustin, garantiu, no entanto, que quer prestar "o máximo apoio" e anunciou uma ajuda de cerca de 18 milhões de euros (cerca de R$ 108 milhões na cotação atual) às pessoas deslocadas que perderam suas casas.
O advogado Ivan, de 31 anos, foi entregar roupas e um sapato "em bom estado (...) que "alguém possa usar", disse.
— Nossos compatriotas estão sofrendo. Em tempos como este, devemos mostrar solidariedade — completou.
Mil disparos por minuto: Ucrânia passa a usar super-canhão alemão de defesa aérea no conflito contra Rússia
As doações são selecionadas e enviadas para Voronej, cidade a cerca de 200 quilômetros a leste da cidade de Kursk, de onde são distribuídas às pessoas necessitadas, explicou Ekaterina Dobrinina.
— Em primeiro lugar, ajudamos as pessoas. Não aos passaportes ou à associação religiosa, mas as próprias pessoas — disse, acrescentando que é "importante que as pessoas saiam destes locais perigosos ou vivam lá o mais confortavelmente possível".