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SAÚDE

Em novo livro, educadora afirma que cultivar a gentileza reduz risco de depressão e ansiedade

Mãe de cinco filhos, Traci Baxley defende que o 'comportamento pró-social', que requer compaixão e empatia, deve ser ensinado desde cedo às crianças

Crianças brincam em roda num parque Crianças brincam em roda num parque  - Foto: Pixabay

As férias logo chegarão. O que te faria sentir melhor: receber um presente ou dar um a alguém necessitado? A pesquisa deixa claro que, como diz o provérbio, é melhor dar do que receber.

"Fazer coisas boas faz você se sentir melhor", disse Andrew Miles, sociólogo da Universidade de Toronto. "Isso atende a uma necessidade psicológica básica, como dar ao nosso corpo uma alimentação adequada. Ajuda você a sentir que sua vida tem valor."

Miles está atualmente conduzindo um amplo estudo controlado com o objetivo de quantificar as maneiras pelas quais fazer o bem pode ajudar a conter a ansiedade e a depressão que atualmente prejudicam a saúde e o bem-estar de muitas pessoas em todas as esferas da vida.
 

E a necessidade de praticar a gentileza pode nunca ter sido maior. As tensões econômicas, educacionais e vocacionais associadas à pandemia continuam presentes. Além disso, a mídia, a Internet e até mesmo as ruas dos bairros estão frequentemente repletas de ameaças físicas e comentários odiosos dirigidos a grandes segmentos da população.

Embora membros de grupos minoritários, sejam eles raciais, étnicos, religiosos ou sexuais, estejam cada vez mais dispostos a rebater ataques verbais e físicos e discriminação, muitos indivíduos-alvo continuam a sofrer em silêncio. Não é de admirar que as taxas de ansiedade e depressão permaneçam altas.

As crianças, que podem sentir prontamente a angústia emocional de seus cuidadores, muitas vezes compartilham a dor. Mas os especialistas dizem que existe um antídoto que pode beneficiar a todos. Eles chamam isso de “comportamento pró-social”, ou agir de forma a ajudar outras pessoas.

Em seu livro recentemente publicado, “Social Justice Parenting” (Parentalidade com Justiça Social, sem versão para o português), Traci Baxley, professora associada de educação na Universidade Florida Atlantic, enfatiza as recompensas de ensinar compaixão e gentileza para uma nova geração. Seu objetivo em promover um mundo mais justo para todos é criar filhos “que possam, no fim das contas, se auto-defender, ter empatia com os outros, reconhecer a injustiça e se tornarem proativos para mudá-la”.

Seu livro, que achei difícil largar, está repleto de excelentes exemplos e conselhos que podem ajudar os pais a criar os filhos com uma autoimagem saudável e consideração pelo bem-estar dos outros. Ela escreveu: “É nossa obrigação ensinar nossos filhos a se levantarem e serem aliados de grupos marginalizados e silenciados”.

Baxley, mãe de cinco filhos, disse que, ao retornarem à escola após a quarentena pandêmica, muitos jovens experimentaram um aumento na depressão e na ansiedade social que pode ser neutralizada por um comportamento pró-social.

"Apenas ver um gesto de compaixão e gentileza libera substâncias químicas no cérebro que os ajudam a se acalmar", afirmou. "Isso diminui a frequência cardíaca e libera serotonina, que neutraliza os sintomas da depressão."

O comportamento pró-social pode vir naturalmente para alguns. Mesmo crianças de 2 ou 3 anos podem compartilhar espontaneamente uma guloseima ou brinquedo com um amiguinho que esteja triste. Mas a maioria das crianças provavelmente precisará aprender isso com as mesmas pessoas que as ensinam a dizer “por favor” e “obrigado”, e quanto mais cedo isso acontecer, melhor.

Para começar, o comportamento pró-social requer compaixão e empatia, a capacidade de reconhecer e se preocupar com as necessidades e o bem-estar dos outros. Mas a compaixão sem ação não beneficia ninguém. O segundo passo é a gentileza, também conhecida como compaixão em ação. Você pode ficar angustiado ao ver uma pessoa idosa carregando sacolas pesadas, mas a menos que você se ofereça para ajudar ou expresse um desejo de ajudar, mas explique por que você não pode, sua compaixão não serve de nada.

Um dos meus momentos de maior orgulho como avó foi aprender que um neto, então na primeira série, consolou um colega de classe que ficou enjoado durante uma viagem escolar de ônibus. Enquanto outras crianças no ônibus se afastavam enojadas, meu neto colocou o braço sobre a criança que estava passando mal e perguntou se ele se sentia melhor.

À medida que meus quatro netos continuaram a crescer, percebi que todos eles tinham "coisas" demais e fui negligente ao aumentar a pilha de roupas e brinquedos com meus presentes de Natal. De agora em diante, eu disse a eles, lhes daria dinheiro para doar a qualquer grupo sem fins lucrativos que eles escolhessem e que trabalhasse para melhorar a vida de outras pessoas ou do mundo. Um dos meninos escolheu um programa de tutoria para crianças carentes; outro escolheu um programa esportivo; outro com enviou seu presente para a organização American Forest, dedicada a proteger e restaurar ecossistemas florestais; e o mais novo, de 10 anos, doou para um banco de alimentos local.

Baxley relata episódios semelhantes em "Social Justice Parenting". Ela conta sobre a empolgação de um filho ao encontrar uma nota de US$ 20, logo depois de dá-la a uma família de imigrantes segurando uma placa que dizia "Você pode nos ajudar com o nosso aluguel?"

Com muita frequência, os pais valorizam mais tirar boas notas ou bom desempenho esportivo do que ajudar as pessoas que precisam, afirmou Baxley. Segundo ela, também é importante promover o bem-estar emocional de uma criança aceitando e estimulando o filho que você tem, não tentando criar à força aquele que você deseja. Uma criança que não tem habilidade atlética e rejeita esportes não deve ser levada a participar de um porque os pais valorizam isso, disse ela.

Como mãe de crianças birraciais e educadora, Baxley reconhece os desafios que os pais enfrentam ao lidar com questões delicadas como raça, deficiência, inconformidade de gênero e falta de moradia. Mas ela exorta os pais a não permitirem que o medo atrapalhe as conversas produtivas. Ela afirma que mesmo os tópicos mais difíceis, como racismo, bullying, sexismo e morte, podem ser discutidos com sensibilidade e sinceridade em termos adequados à idade.

Aqui estão algumas de suas sugestões.

Em vez de tentar encontrar soluções para as preocupações de seus filhos, “preste atenção e compreenda seus sentimentos. Não se precipite e tente consertar o problema nem tente ter as respostas ‘certas’ para suas perguntas.”

Você nem sempre saberá a coisa certa a se dizer, mas é importante reconhecer os sentimentos da criança. Evite ser crítico, diga o que pensa sem julgamento e solicite comentários. Por exemplo, se seu filho perguntar por que um sem-teto está tão sujo, explique que a pessoa não tem casa nem banheiro e talvez até sugira fazer uma doação de roupas ou alimentos para um abrigo.

Ao lidar com grandes eventos e questões de justiça social, como uma catástrofe ambiental, a morte de um ente querido, assassinatos de negros pela polícia ou protestos contra a injustiça, esforce-se para esclarecer a desinformação. Talvez leiam juntos um livro que ajude as crianças a lidar com acontecimentos dolorosos e discuta que ação elas podem tomar para atenuar as circunstâncias.

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