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Estados Unidos

Em pleno 2024, deputada nos EUA associa eclipse na América do Norte a "sinais de Deus"

Marjorie Taylor Greene, trumpista fervorosa e ligada à teoria conspiratória QAnon, diz que fenômenos naturais são "recados" de que tempos ruins estão por vir

Pessoas aguardam eclipse solar em ponto de observação em Nova York Pessoas aguardam eclipse solar em ponto de observação em Nova York  - Foto: Charly Harly Triballeau/AFP

Enquanto os olhos de moradores da América do Norte estão voltados para o céu (de preferência, devidamente protegidos) para acompanhar um eclipse solar na região, celebridades trumpistas — incluindo uma deputada — inundaram as redes sociais com teorias que seriam perfeitamente adequadas há alguns séculos ou milênios.

Ainda na semana passada, Marjorie Taylor Greene associou o iminente eclipse, um fenômeno natural e devidamente explicado pela ciência, à ocorrência de um terremoto de escala 4,8 no Nordeste americano, na sexta-feira, afirmando que seriam “sinais de Deus”.

“Deus está mandando aos EUA sinais fortes para que nos arrependamos. Terremotos e eclipses e muitas outras coisas virão. Rezo para que nosso país escute”, escreveu Taylor Greene no X, o antigo Twitter, na sexta-feira. Horas depois da publicação, uma nota da comunidade, espécie de “contestação” à publicação original, apresentou dados sobre terremotos nos EUA e sobre os eclipses solares.

A pregação apocalíptica foi reverberada pelo namorado da deputada eleita pelo estado da Geórgia, Brian Glenn, produtor em um canal ligado à extrema direita americana. Em um vídeo publicado no sábado, ele afirmou que o eclipse e o terremoto são os primeiros sinais de uma série de crises que atingirão a humanidade, incluindo "uma nuvem mortal de gafanhotos adormecidos, e uma iminente guerra contra o Irã. Essas ideias figuram há tempos em círculos conspiracionistas, e têm como base uma interpretação da Bíblia que associa o eclipse dessa segunda-feira a uma "era de desastres".

No caso do hipotético conflito, Glenn, que assim como Taylor Greene é apoiador fervoroso de Donald Trump, não cita que o agravamento das tensões enter Washington e Teerã tem raízes recentes na decisão do ex-presidente de rasgar um acordo obre o programa nuclear iraniano, em 2018, e no assassinato, em 2020, de um dos principais comandantes da Guarda Revolucionária, Qassem Soleimani.

Joe Biden, apesar de não ter cumprido a promessa de retomar o acordo nuclear, e de manter sanções contra os iranianos, não dá sinais de que pretenda iniciar um conflito que analistas veem como “potencialmente catastrófico”.

Como esperado, o discurso conspiracionista de um dos casais mais conhecidos da extrema direita dos EUA repercutiu mal nas redes sociais, e comentários irônicos se multiplicaram. Sobre o vídeo de Glenn, não foram poucos os que questionaram sua sanidade mental ou se ele havia feito uso de álcool ou substâncias entorpecentes. No caso de Taylor Greene, uma comparação recorrente com discursos de líderes religiosos na Idade Média.

No domingo, a deputada se pronunciou sobre as críticas, mesclando o discurso religioso com uma percepção, ainda que básica, dos conceitos científicos que explicam os eclipses e os terremotos.

“Muitos fizeram piada, trataram de forma jocosa e ainda incluíram notas da comunidade na minha publicação”, afirmou Taylor Greene no X, citando uma passagem da Bíblia que trata de fenômenos naturais. “Sim, eclipses são previsíveis, terremotos acontecem e sabemos quando cometas passam. Mas Deus criou todas essas coisas, e as usa como sinais para aqueles de nós que creem.”

Glenn foi um pouco menos diplomático.

“Essas coisas foram previstas na Bíblia como sinais/lembretes de que Deus é real e prenunciam o retorno de Jesus”, escreveu no X. “Rezo pelos não crentes que gostam de zombar de mim e do simbolismo do que está acontecendo agora. Tem muita gente boa que irá direto para o inferno.”

Marjorie Taylor Greene foi alçada à fama durante o governo de Donald Trump, e se elegeu deputada pela Geórgia com uma campanha na qual professou crenças profundas em teorias da conspiração. Apesar de rejeitar publicamente o rótulo, ela é uma seguidora do chamado movimento QAnon, que engloba uma série de conceitos clássicos usados por conspiracionistas e que passou a frequentar abertamente o meio político por volta de 2018, contando com o apoio indireto do próprio Trump.

Recentemente, seu nome passou a ser ventilado como uma possível vice na chapa republicana à Presidência, e ela parece confortável com a ideia.

— Teria que pensar nisso e considerar a ideia — disse Taylor Greene, em agosto do ano passado. — Se fala muito nisso, e sei que meu nome está em uma lista, mas meu foco agora está em servir o distrito que me elegeu.

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