ENTREVISTA

Embaixadora do Reino Unido: "Prioridades com Brasil são clima, combate à pobreza e democracia"

Diplomata diz que é preciso enfrentar a extrema-direita, afirma que Brasil precisa melhorar comunicação para não dar a impressão de que apoia a Rússia na guerra e cita possível colaboração em energia limpa

Stephanie Al-Qaq Stephanie Al-Qaq  - Foto: Divulgação

Festejada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a vitória de Keir Starmer, do Partido Trabalhista, como premier do Reino Unido terá como consequência o reforço nas relações com o Brasil, com novas prioridades. É o que afirma a embaixadora britânica em Brasília, Stephanie Al-Qaq.

Em entrevista ao Globo, a diplomata, que está no Brasil desde novembro de 2022, cita como pontos que serão reforçados na agenda bilateral o clima, a redução da pobreza, a defesa da democracia e o crescimento sustentável.

Com a eleição de Keir Starmer, haverá novas prioridades nas relações bilaterais?
Com certeza. Vimos que há muito alinhamento de prioridades do Brasil e do Reino Unido. E acho que a amizade e a mensagem do presidente Lula mostra que ele tem muita vontade de trabalhar com o Reino Unido. Uma prioridade muito forte é o clima.

O primeiro-ministro já falou bastante sobre a importância de trabalhar com países liderando o combate ao aquecimento global e, com certeza, o Brasil é o primeiro da fila. O novo governo também quer recuperar a liderança do Reino Unido e já fala em uma nova aliança visando à energia limpa. O Brasil já tem uma matriz energética muito limpa, e temos muito em comum para compartilhar.

 

O Brasil defende, na presidência do G20, o combate à pobreza. A proposta conta com o apoio do Reino Unido?
Ouvi, recentemente, numa reunião com membros da equipe do novo governo, que temos de ter o mundo livre de pobreza num planeta habitável e sustentável. Então as perspectivas do G20 são muito parecidas. Vamos ter alinhamento entre nossas prioridades para o G20. Planejamos a vinda de nossas ministras do Desenvolvimento e da Fazenda para reuniões do G20.

Lula tem defendido a democracia em seus discursos para os públicos interno e externo. Há perspectiva de parceria nessa área?
O presidente Lula fala em democracia, que é algo que temos de proteger, porque há muitas ameaças. É preciso proteger a democracia e enfrentar a extrema-direita. Todos os países têm problemas com extremismo agora, mas sempre estamos pensando que extrema-direita vem de dentro de um país, enquanto as raízes desses grupos estão ligadas, como ocorre no Reino Unido, França, Brasil e outros.

Quando o Reino Unido saiu da União Europeia, falou-se em um acordo de livre comércio com o Mercosul. Existe expectativa de que isso ocorra?
Teria que ser algo que faça sentido para os dois lados. O Brasil precisa ter uma posição aberta, pois tenta um acordo com a União Europeia há cerca de 20 anos e não tem sido tão simples assim. Mas, até o momento, não há nenhuma decisão, pois o novo governo tem de primeiro ver todos os acordos já encaminhados.

O Reino Unido avalia que o Brasil deveria ser mais firme com a Rússia na guerra com a Ucrânia?
O Brasil é muito franco sobre o princípio da integridade territorial. Sabe muito bem as consequências de deixarmos países grandes invadirem outros países. Vamos deixar a Venezuela entrar na Guiana? O Brasil também tem como princípio um mundo baseado na lei internacional e na Carta da ONU. É preciso melhorar a comunicação para não darmos espaço para a Rússia dizer que o Brasil está do lado deles, quando não é verdade. O Brasil quer uma solução diplomática e sabemos que, ao fim de todos os conflitos, tem sempre uma solução diplomática. Todos queremos um caminho para a paz. A guerra pode acabar amanhã, ou hoje, se a Rússia sair da Ucrânia. A voz do Brasil é importantíssima: as conversas que mantém com a China, com a Rússia e outros países. Com certeza, o novo governo vai ouvir as vozes do Sul Global sobre esse e outros assuntos.

O mesmo se pode dizer em relação ao Oriente Médio?
Nosso governo tem como posição, há bastante tempo, a defesa de um cessar-fogo imediato, a ajuda humanitária irrestrita e a libertação dos reféns israelenses. O novo governo disse que a posição será equilibrada.

Como lidar com a extrema-direita europeia?
Foi um tema discutido na eleição. Porém, na Europa temos governos muito próximos, como Alemanha e Espanha. Todas as democracias da Europa devem realmente prestar atenção por causa da extrema-direita e das fake news.

A senhora tem sido procurada por autoridades brasileiras. Que perguntas são mais frequentes sobre as ações do novo primeiro-ministro?
De forma geral, são sobre as prioridades. Estão implementando o programa político apresentado na eleição. O crescimento econômico é fundamental em nosso país, assim como a liderança sobre clima e enfrentamento do crime organizado e da violência.

Veja também

Tufão Yagi castiga Mianmar, que tem evacuações em massa
METEOROLOGIA

Tufão Yagi castiga Mianmar, que tem evacuações em massa

ONU: agência para refugiados palestinos diz que funcionário morreu em operação israelense
ONU

ONU: agência para refugiados palestinos diz que funcionário morreu em operação israelense

Newsletter