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Tragédia

Emoção marca missa de sétimo dia da família de professor em Petrópolis

Alessandro Garcia perdeu filhos, esposa e sogros e a casa onde moravam na Rua Teresa

Alessandro GarciaAlessandro Garcia - Foto: reprodução/WhatsApp

Cerca de 200 pessoas participaram da missa de sétimo dia em memória da família do professor Alessandro Garcia, que morreu na tragédia que devastou Petrópolis na semana passada, vitimando mais de 200 pessoas, entre mortos e desaparecidos. A solenidade, realizada na noite desta quarta-feira (23) na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no Quitandinha, foi realizada pelo bispo de Nova Iguaçu, Dom Gilson Andrade, e acompanhada pelo bispo de Petrópolis, Dom Gregório Paixão.

— As lágrimas nunca serão suficientes para lavar essa dor dentro de mim. Mas tem um sentimento além disso tudo: a gratidão a vocês, a todos que me ajudaram das mais diferentes formas. Se depois de toda essa ajuda eu ainda puder pedir algo a vocês, eu peço que vocês abracem seus filhos, suas mãe, seus irmãos. Entrem em contato com seus amigos. Peçam perdão. Ofereçam perdão. Cada dia pode ser o último e, um dia, inevitavelmente, vai ser. O que me consola é que meu último dia com eles foi muito feliz. Não sei como vou seguir, não sei como vou fazer isso direito, mas eu prometo que vou tentar — disse Alessandro, emocionado.

Alessandro tem 38 anos e morava na Rua Teresa com os dois filhos, Bento, de 5 anos, e Sophia, de 1 ano e sete meses, a esposa Carolina da Silva, de 37 anos, e os sogros Élcio José de Freitas e Maria Expedita. Sua casa foi destruída pela enxurrada de lama e destroços provocada pelas fortes chuvas. Ele foi o único sobrevivente da família, sofrendo apenas uma lesão na perna direita e leves escoriações.

O professor fez questão de elencar as qualidades de cada um dos seus entes queridos perdidos

.— A dona Maria pode ser resumida em uma palavra: cuidado. Era um cuidado que se estendia a todos, era a mãe de todo mundo. Apesar dos problemas que enfrentava, era uma mulher de muita fé. O seu Elcio era o contrário da dona Maria: ela era calma e ele elétrico, não parava de jeito nenhum. E nessas diferenças, eles se amavam. Era um homem trabalhador incansável, com enorme vontade de ajudar. A maior alegria dele era ver a família reunida e festejando — disse ele, que também relembrou os momentos com seus filhos.

— A Sophia nasceu na pandemia. Mas o isolamento, ao que parece, atiçou seu gosto por gente. Ela gostava de dança, fazia coreografias, gostava de ser vista. Nesses últimos dois anos, ela foi a melhor das notícias. O Bento, o nosso Bentinho, foi o menino mais bonito que já conheci. Era muito apegado a mim, gostava de carinho e abraço. Tinha a capacidade de fazer as pessoas se apaixonarem por ele em todos os lugares. Vivia com seu violão e se encantou pelos livros. Ele tinha espectro autista e me revelou os maiores desafios da vida. Bentinho era raro. Era precioso.

Durante seu discurso, Alessandro também lembrou que sua esposa "era a pessoa que eu mais conhecia e que mais me conhecia".

— Carol foi uma pessoa de luz. Casei com ela nessa igreja. Tive o privilégio de casar com uma das melhores pessoas que já conheci. Era uma pessoa boa no sentido mais forte que essa palavra pode ter. Conseguia se manter presente na vida de todos. Ela era fé, amor e esperança: esperava o melhor até nos maiores desafios. O céu para a Carol nunca foi uma questão, mas sim uma certeza — lembrou.

Dom Gilson Andrade disse palavras de fé e carinho a Alessandro e a todos os enlutados pelas mortes:

— A vida que Deus nos oferece é uma vida maior, uma vida eterna. Diante de fatos tão dolorosos como o que Alessandro está vivendo, é preciso seguir caminhando buscando a força na fé, em Deus. Por isso, querido Alessandro e outros que estão enlutados, mais forte do que a tragédia, está sendo a manifestação de solidariedade e de afeto. Quem tem fé, não teme a morte. Porque após a morte, vamos cair nas mãos de Deus.

O bispo de Petrópolis, Dom Gregório Paixão, também deixou seu gesto de aconchego a Alessandro e aos presentes.

— Alessandro, você tem cinco pessoas no céu que estão vivas diante de Deus, no reino dos céus. De lá, elas oram por você. E daqui, você também pode sentir a presença deles. Aceite as nossas lágrimas e solidariedade — concluiu.

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