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Empreendedorismo social: Casa Zero se consolida como organização estratégica para o setor

Organização é considerada o primeiro shopping sociocultural do Brasil

Fábio Silva é o idealizador da Casa ZeroFábio Silva é o idealizador da Casa Zero - Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Fim de ano é tempo de refletir sobre o que passou. Celebrar as conquistas. Analisar os desafios. Projetar, e sonhar, o futuro. Nessa perspectiva, a atmosfera social é tomada pelo sentimento de recomeço. E, muitas vezes, o ponto de partida surge exatamente… do zero. “Quem nunca começou do zero?”. Essa frase, que provavelmente faz muitos de nós refletir sobre nossas próprias trajetórias, marca a história de uma instituição pernambucana, que é considerada o primeiro shopping sociocultural do Brasil, e que em 2023 completou seu primeiro ano de funcionamento: a Casa Zero.

Com foco no empreendedorismo social, na solidariedade com engajamento e compromisso, a organização se despede de 2023 com resultados que muito orgulham aqueles que vislumbraram a sua concepção e, especialmente, aqueles que foram beneficiados pelas atividades oferecidas no local. Em meio à história da organização, um nome se torna referência ao avaliar a trajetória e a consolidação da Casa Zero como vetor do empreendedorismo social em Pernambuco e no Brasil. Trata-se de Fábio Silva, idealizador da iniciativa e CEO da Rede MudaMundo, um ecossistema de inovação social e engajamento cívico que, além do próprio shopping sociocultural, também abarca outras importantes entidades do setor: Porto Social, Transforma Brasil, Novo Jeito e Fábrica do Bem.     

Como destaca Silva, o empreendedorismo social contribui tanto para o desenvolvimento de cada pessoa individualmente, como para a sociedade como um todo, sendo um elo e promovendo conexões entre governos, empresas e sociedade civil organizada, reconhecidos como primeiro, segundo e terceiro setores sociais da economia.

“O empreendedorismo social, que já é uma realidade de desenvolvimento social junto com o desenvolvimento econômico na Europa, e principalmente nos Estados Unidos, chega no Brasil fortemente, conectando o capital, toda essa potência do segundo setor, o setor do mercado, com o primeiro setor, que é o setor do governo, mas principalmente com todo mundo que quer ajudar. Então, você laça tudo isso para que o desenvolvimento econômico não se desgrude do desenvolvimento social, porque senão a gente vai ter crescimento, mas quem mais precisa não está pronto para o emprego, não está pronto para a oportunidade, e a gente vai deixando um rastro muito grande de falta de oportunidade, de cuidar de quem mais precisa”, analisa.

A Casa Zero, assim como as demais entidades da Rede MudaMundo, atua para promover transformação de pessoas e de territórios, desenvolvimento humano, geração de renda e qualificação de famílias, com o objetivo de diminuir a pobreza e a desigualdade social. Entre as pessoas beneficiadas pela iniciativa estão, especialmente, moradores de comunidades da área central do Recife, a exemplo da comunidade do Pilar, localizada no Bairro do Recife, mesma região onde funciona a sede da instituição, instalada na Rua do Bom Jesus.

Casa ZeroEquipe da Casa Zero debate projetos na sede da instituição - Foto: Tulio Muniz/Casa Zero

De acordo com Silva, entre setembro de 2022 e setembro de 2023 quase 400 famílias foram impactadas pela atuação do shopping sociocultural e das atividades formativas desenvolvidas no espaço. A previsão é de que em 2024 esse número multiplique em uma escala dez vezes maior, chegando a quase três mil pessoas beneficiadas.

“Em seu primeiro ano, a Casa Zero conseguiu ajudar quase 400 famílias a sair desse lugar de vulnerabilidade, que muitas vezes as pessoas têm vontade de sair mas não têm qualificação, não têm oportunidade. Então, a Casa Zero fez o 360 graus de quase 400 famílias. E o que é 360 graus? É quem precisa tirar um documento, quem precisa ir para a sala de aula para um reforço escolar ou numa língua, ou na questão do desenvolvimento pessoal, mas também com muito desenvolvimento técnico. A gente qualificou gente para a área do turismo, para a área da construção civil, para a área do comércio, para a área da cultura, para a área da gastronomia, para a área da tecnologia”, pontua.

Os planos para o próximo ano incluem a criação de mais cinco unidades da Casa Zero, com a instituição passando a atuar como franquia social. “ Nós vamos qualificar, capacitar, quase três mil pessoas, ou seja, são três mil famílias que serão beneficiadas. A gente continua cuidando da comunidade oriunda do nascimento da Casa Zero, que é a comunidade do lado, a do Pilar, mas a gente amplia isso tudo para mais quatro quilômetros. Então, seis comunidades, quase 58 mil pessoas, serão beneficiadas pela Casa Zero. Além disso tudo, a gente virou uma franquia social, então a metodologia da Casa Zero, o que está acontecendo aqui, vão para outras Casas Zero. A gente quer abrir, em 2024, mais cinco unidades da Casa Zero, o projeto de transformação de territórios e de transformação humana da Rede MudaMundo.”

Para alavancar o empreendedorismo social e alcançar cada vez mais pessoas, a Casa Zero conta com o apoio de empresas que contribuem com o desenvolvimento das iniciativas realizadas pela instituição. Entre elas estão as Baterias Moura, o Grupo Boris Berenstein, a Karne Keijo Logística Integrada e o Ícone da Visão - Hospital de Olhos, capitaneadas respectivamente pelos empresários Paulo Sales, Boris Berenstein, Inácio Miranda e Álvaro Dantas. “Eles são embaixadores da Rede MudaMundo, são entusiastas com o trabalho que a Casa Zero tem feito. Participaram desde o início da concepção. São pessoas muito experientes, empregam muita gente, têm muita bagagem, desenvolveram grandes negócios, e agora entendem também que precisam estar conectados com a missão, com o propósito social”, comenta Fábio Silva.

“Eu falo que tudo que a gente está fazendo é só porque a gente tem conseguido fazer juntos. É uma grande coalizão empresarial conectada ao empreendedorismo social para apoiar a cidade do Recife, o estado de Pernambuco e o Brasil. Porque a gente sabe que a gente está desenvolvendo tecnologia de impacto, de transformação de território, com muito engajamento cívico, mas com muita inovação, e que já está sendo escalada pelo Brasil e também para Portugal e para o Chile”, completa. 

O oftalmologista Álvaro Dantas, nome à frente do Ícone da Visão, defende a atuação conjunta dos diferentes setores para que se busque uma sociedade com mais oportunidades.

“A gente não pode esperar o governo fazer tudo o que tem que ser feito. As pessoas e as empresas precisam se mobilizar no intuito de ajudar quem precisa. E o ajudar é muito amplo. Existe ajuda emergencial para quem passa fome e precisa comer, quem não tem teto e precisa de teto, mas existe a ajuda, aquela mais efetiva, que é o desenvolvimento de pessoas, que é oferecer oportunidades a pessoas para que essas pessoas possam efetivamente se desenvolver na vida, ter uma profissão, ter renda, e muitas vezes servir de exemplo e de muro de arrimo para uma família, para outros parentes e amigos”, disse.

Álavro DantasÁlvaro Dantas, do Ícone da Visão, é um dos embaixadores da Casa Zero - Foto: Divulgação

Para o cirurgião, a Casa Zero é uma corrente do bem que gera efetiva evolução da sociedade. “É uma efetiva melhora da qualidade de vida das pessoas. Esse é o grande diferencial da Casa Zero, o foco é gerar oportunidades para que pessoas que precisam tenham acesso, tenham chance de se desenvolver na vida”, pontua.

O pensamento é compartilhado pelo médico Boris Berenstein, fundador de um dos principais grupos de medicina diagnóstica do estado. “Eu acho que a Casa Zero, que esse movimento que Fábio Silva faz, é uma forma também de criar uma sociedade mais justa, de apoiar os mais humildes, os mais desprovidos de oportunidades, de construir uma melhor qualidade de vida”, analisa.

Segundo o empresário, além dos próprios recursos aportados pelo grupo, ele também busca atrair outros apoiadores para incentivar as ações desenvolvidas pelo shopping social.

“Porque o projeto é muito bonito, mas, por trás desse projeto, precisamos ter recursos financeiros para dar oportunidades a outras pessoas. E quem nunca começou do zero? Minha história é isso, comecei do zero e tenho muito orgulho da minha trajetória. E eu não poderia também apoiar outras pessoas a também começar do zero?”, refletiu, recordando que o viés solidário sempre esteve presente na sua família. “Eu me lembro muito, eu pequeno, nos encontros da minha família de emigrantes, meus pais e meus tios se encontravam uma ou duas vezes por semana na casa de um deles e sempre depois de uma conversa, depois de um jantar, minha minha mãe ou uma das minhas tias passava um prato vazio para que cada um colocasse uma colaboração e esse dinheiro no dia seguinte era entregue a uma instituição social da comunidade judaica”, contou.

Boris BerensteinBoris Berenstein é um dos embaixadores da Casa Zero - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Presidente do Grupo KarneKeijo, Inácio Miranda reforça que o empenho de pessoas engajadas com a responsabilidade social é importante para o desenvolvimento de todo o país. “Eu imagino que o futuro é o empreendedorismo social”, diz, enfatizando o conhecimento e a competência que tais organizações têm para cumprir a atividade e alcançar quem mais precisa.

Assim como as demais instituições mencionadas por Fábio Silva, a empresa, considerada referência em logística frigorífica e no setor atacadista do estado, atua junto à Casa Zero desde a sua concepção.

“Sempre que eu posso, contribuo com algum projeto que está sendo feito por lá, contribuí para a construção da Casa Zero, estou contribuindo agora com a energia da Conta do Bem”, disse. “Nem sempre é questão de dinheiro, é também sobre incentivar as pessoas, os colaboradores, a participarem. Botar esforço e fazer as pessoas contribuírem, criar redes, é muito gratificante”, ressalta. 

inacio mirandaInácio Miranda, da KarneKeijo é um dos embaixadores da Casa Zero - Foto: Caio Alencastro/Divulgação

Para Paulo Sales, presidente do Conselho de Administração da Rede Moura, é preciso que as organizações sociais participem ativamente da construção de um país com menos desigualdades. “Para a gente resolver os problemas crônicos do Brasil, nós precisamos do envolvimento da sociedade civil organizada. E não só no que diz respeito ao empreendedorismo, mas também no que diz respeito a essa questão social. Eu acho que a gente precisa encontrar uma forma de minimizar a desigualdade”, frisa.

Ele comenta, ainda, que, após os 65 anos de idade, passou a se envolver mais efetivamente com projetos que olham mais para a população do que para a empresa ou os interesses pessoais. Foi assim que conheceu a Caza Zero e contribuiu, entre outros fatores, com a estratégia de ação da empresa.

“Percebi que havia, na minha visão, alguns GAPs [lacunas], de gestão, de posicionamento no mercado, que a gente teria como melhorar a capacidade de fazer o bem da CasaZero, através de gestão, através de um formato mais voltado para produtividade, mesmo sendo uma empresa do terceiro setor”, destacou. 

paulo salesPaulo Sales é um dos embaixadores da Casa Zero - Foto: Grupo Moura/Divulgação

Ao longo do ano, a Casa Zero sediou cursos e capacitações profissionais que buscam desenvolver e preparar as pessoas atendidas pelos programas para atuarem em mercados formais e, também, para desenvolverem seus próprios negócios sociais. Moradora do Pilar e mãe de dois filhos, Micaela de Oliveira, de 27 anos, participou da primeira turma do curso de Velas Aromáticas e Naturais promovido pela instituição.

“Para mim mudou muita coisa a partir deste curso porque no momento eu estava passando por uma situação bem difícil, estava desempregada, preocupada, sem saber como que eu ia levar o pão de cada dia para mim e para os meus filhos. E, no momento que eu fiz o curso, eu não tinha nem expectativa se iria gerar uma renda para mim. Mas depois que eu me inscrevi, que eu fiz o curso e o pessoal da Casa Zero deu todo o apoio, tanto para mim como para as outras mulheres, eu comecei a empreender, através dessa oportunidade, já com o material das velas aromáticas, que eles também deram”, contou.

 
Miacela de Oliveira, alunda da Casa ZeroMicaela de Oliveira participou do curos de velas aromáticas oferecido pela Casa Zero - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Desde então, ela comercializa os produtos por conta própria e também nas ações promovidas pela instituição.

“Eu fui procurando me capacitar cada vez mais, hoje eu tenho a minha marca de velas aromáticas, que se chama Lumiar (@lummiarvelas, no Instagram), e graças a Deus eu recebo encomenda de pessoas que desejam lembrancinhas para aniversário, para casamento, para chá de bebê”, comenta. Até o próximo dia 6 de janeiro, inclusive, ela participa da feirinha na Vila do Natal montada na Avenida Rio Branco, no Bairro do Recife.

Afastada do mercado de trabalho há cerca de dois anos, Edvania Francisco, de 41 anos de idade, participou do curso de culinária oferecido na Casa Zero. Ele mora com o esposo e os dois filhos na comunidade do Coque, na Ilha Joana Bezerra, e viu na capacitação uma oportunidade de se aperfeiçoar na área e gerar renda para a família. “Eu percebi a necessidade de voltar a fazer cursos, fiz o de pastelaria e panificação, que foi para aprender a fazer pão, enroladinho. E, por último, agora, eu fiz o de Sobremesas Natalinas”, contou.

Edvania Francisco, alunda da Casa ZeroEdvania Francisco busca capacitação nos cursos oferecidos pela Casa Zero - Foto: Arquivo Pessoal

Ela destaca, ainda, que tem buscado investir nas capacitações, inclusive nas áreas de marketing e vendas, tendo criado um perfil no Instragram (@eeli_cakes) para receber encomendas. “Eu fui buscar esse conhecimento porque como eu estava muito em casa, eu estava um pouco perdida de como estava o mundo na área da confeitaria. Também participei de uma aula sobre o Instagram, para aprender a divulgar o meu trabalho”, disse.

“O fato de voltar para esse mercado da culinária foi gratificante, porque a partir do momento que eu me movimentei, eu me conectei com outras pessoas, e a oportunidade que a Casa Zero está passando para a gente, com esses cursos gratuitos, é uma oportunidade única”, completou.

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