Empresa que forneceu urnas para eleição na Venezuela é argentina e tem histórico de reclamações
Listada como empresa de tecnologia biométrica, empresa realizou projeto de transferência e digitalização de tecnologia para o Conselho Nacional Eleitoral do país em 2007
Nicolás Maduro foi proclamado presidente na Venezuela, e uma empresa argentina foi envolvida no meio de acusações de fraude eleitoral.
Trata-se de Ex-Clé, responsável pelo fornecimento das máquinas e também pelo design do software de votação. Fundada em 1998 por Luis San Agustín, a empresa é hoje liderada pelos filhos: Eduardo, na Argentina; e Guilherme, na Venezuela, atuando focada na gestão de soluções biométricas, serviços financeiros digitais, automação eleitoral e gestão e digitalização de documentos.
A empresa abriu escritórios na Venezuela em 2004, através da criação da subsidiária Ex-Clé Soluciones Biometricas. Listada como empresa de tecnologia biométrica, a empresa realizou o projeto de transferência e digitalização de tecnologia para o Conselho Nacional Eleitoral do país em 2007.
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Naquela época, a Smartmatic – empresa global especializada em soluções eleitorais – era responsável pelo software e pelo hardware de votação, enquanto que a parte de identificação biométrica ficava com a Ex-Clé.
Assim, em 2012, a Ex-Clé implementou o sistema de validação de identidade nas eleições presidenciais. Por meio dele, segundo dados da empresa, foram cadastrados 19 milhões de eleitores habilitados.
Mais tarde, em 2017, a Ex-Clé substituiu a Smartmatic e desenvolveu um sistema eleitoral abrangente, que realizou todo o processo de votação, com identificação biométrica para verificação do cidadão no momento da votação. Isso ocorreu depois de a Smartmatic ter se distanciado dos resultados eleitorais dos deputados perante a Assembleia Legislativa anunciados pelo Governo, afirmando que não correspondiam à sua informação.
Histórico de reclamações
Anos mais tarde, após as eleições legislativas realizadas em dezembro de 2020, a Ex-Clé Soluciones Biometricas foi sancionada pelo governo dos Estados Unidos por fraude.
“Os Estados Unidos estão sancionando a empresa biométrica venezuelana Ex-Clé e dois dos seus representantes pelo apoio prestado ao regime ilegítimo de Maduro durante as eleições fraudulentas de 6 de dezembro. Aqueles que procuram minar eleições livres e justas na Venezuela devem ser responsabilizados”, indicou o então secretário de Estado, Mike Pompeo, na sua conta no Twitter.
Segundo dados do governo dos EUA, a Ex-Clé teria auxiliado o Conselho Nacional Eleitoral na compra de milhares de urnas eletrônicas de fornecedores estrangeiros que passaram por Teerã, no Irã, através da Mahan Air e da Conviasa, ambas anteriormente sancionadas pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros, órgão dependente do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.
“Ex-Clé assinou contratos de milhões de dólares com o regime de Maduro”, indicou a organização em comunicado.
A compra do equipamento que atualmente é utilizado durante as eleições ocorreu em 2020, após um incêndio cujas causas foram consideradas “estranhas” pela oposição.
A partir deste episódio, em que foram perdidas cerca de 50 mil máquinas, todas as máquinas Smartmatic foram substituídas. A sanção chegou a Guillermo San Agustín e ao codiretor da subsidiária venezuelana, Marcos Machado Requena: todos os seus bens nos Estados Unidos foram bloqueados.
Segundo comunicado oficial dos Estados Unidos, havia outro sócio-chave do negócio: “San Agustín fez parceria na Ex-Clé com o cidadão venezuelano Marcos Javier Machado Requena e com Carlos Enrique Quintero Cuevas, anteriormente nomeado pela OFAC, que é reitor suplente da CNE e membro das forças militares venezuelanas, e é o principal responsável pela gestão diária da atividade eleitoral e contratual corrupta dentro da CNE em nome da Ex-Clé".
Paralelamente, ao longo destes anos, a empresa também participou em outros negócios com entidades estatais. Entre eles, por exemplo, está o desenvolvimento e a implementação do sistema de arrecadação de impostos da Prefeitura do Município Libertador, em Caracas.
Além disso, a implementação de tecnologia biométrica no Banco da Venezuela, que segundo informações do site da empresa, permitiu “evitar casos de fraude relativa em mais de 3.500 terminais de controle”.
Por sua vez, em 2016, a Ex-Clé Soluciones Biometricas criou o BioPos, que possibilitou pagamentos por impressão digital em lojas na Venezuela. O La Nacion tentou contatar repetidamente o escritório da Ex-Clé em Buenos Aires, mas não obteve resposta.
Por sua vez, fontes próximas do processo eleitoral garantiram ao La Nacion sobre a metodologia: “Anteriormente, os resultados eram publicados tabela por tabela no site do Conselho Nacional Eleitoral, minutos depois de os dirigentes da CNE divulgarem os resultados.
Assim, cada partido político poderia auditar as cópias que as testemunhas recebiam no centro de votação versus as informações publicadas no site. Esta é uma medida que não vemos hoje”.
“A oposição diz que só tem entre 30-40% das atas. E a justificativa do Governo, baseada em um ataque cibernético, é extremamente estranha, porque há sempre ataques a sistemas em eleições automatizadas, e, quando são implementadas medidas para os mitigar, o fluxo de informação não é afetado. É estranho que a CNE diga que não tem ferramentas para isso”, acrescentaram.