Enfermeira nigeriana da ONU escapa após seis anos sequestrada por jihadistas
Alice Loksha foi levada junto com duas parteiras nigerianas, Saifura Khorsa e Hauwa Liman, que trabalhavam para o Comitê Internacional da Cruz Vermelha
Uma enfermeira nigeriana que foi sequestrada por jihadistas afiliados ao Estado Islâmico escapou após seis anos em que foi forçada a se casar por duas vezes.
Os militares nigerianos apresentaram Alice Loksha, que trabalhava na área da saúde da agência da ONU para a infância, Unicef, no nordeste do país, a repórteres em uma base militar na cidade de Maiduguri.
Loksha foi capturada em 1º de março de 2018, quando combatentes do grupo Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP) realizaram um ataque mortal a um campo humanitário que abrigava 60 mil pessoas deslocadas.
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Mais três profissionais de saúde da Unicef foram mortos no ataque, junto com oito soldados nigerianos.
Loksha foi levada junto com duas parteiras nigerianas — Saifura Khorsa e Hauwa Liman — que trabalhavam para o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Os funcionários do órgão foram assassinados mais tarde, e vídeos macabros de suas mortes foram divulgados.
O ISWAP disse que matou a dupla porque eles eram muçulmanos que -- na visão dos jihadistas -- deveriam saber das consequências de trabalhar para agências internacionais.
Loksha, eles disseram, seria poupada e transformada em escrava sexual por ser cristã. Em 24 de outubro deste ano, Loksha conseguiu escapar de um acampamento na ilha Dogon Chukwu, no Lago Chade, disse o major-general do exército nigeriano Kenneth Chigbu aos repórteres. Cinco dias depois, ela contatou as tropas nigerianas na cidade de Geidam, no estado vizinho de Yobe, disse ele.
Outra mulher nigeriana, Faina Ali Kelawos, que foi mantida presa pelo ISWAP por dois anos, também conseguiu escapar e apareceu na entrevista coletiva.
Casamento forçado
Enquanto estava em cativeiro, Loksha foi forçada em diferentes momentos a "se casar" com dois comandantes diferentes do ISWAP e teve um filho do primeiro casamento, disse Chigbu.
O pai da criança, um comandante jihadista identificado como "Abu Omar", foi morto em um tiroteio com tropas nigerianas há dois anos, disse o general.
Após a morte de Abu Omar, Loksha foi forçada a um novo casamento com outro comandante do ISWAP, Abu Simak, que mais tarde foi banido por seus companheiros por um motivo desconhecido. Loksha era casada e já tinha dois filhos antes de sua captura. Uma fonte da ONU na região disse à AFP que eles estavam tentando resolver "complicações" em torno de seu futuro.
"Temos uma situação delicada em mãos porque o marido dela se casou novamente após o sequestro, pensando que ela já estava morta, e agora ela está aqui com o filho de outro homem", disse a fonte.
A fonte disse que eles estavam preocupados com o estigma que Loksha e seu filho enfrentariam se ela "eventualmente retornasse para sua família, que dificilmente receberia a criança em seu seio". O ISWAP se separou dos notórios insurgentes nigerianos Boko Haram em 2016 devido a diferenças ideológicas, e, desde então, se tornou o grupo jihadista dominante na região.
Os dois grupos rivais são famosos por sequestros em massa, especialmente de mulheres e crianças, que muitas vezes são forçadas a se tornarem homens-bomba ou escravas sexuais.
O conflito de 15 anos matou mais de 40 mil pessoas e deslocou cerca de dois milhões no nordeste do país mais populoso da África, de acordo com as Nações Unidas.
A violência também se espalhou para os vizinhos Níger, Chade e Camarões, promovendo uma coalizão militar para combater os militantes.