Enfermeiros britânicos convocam greve sem precedentes em dezembro
O sindicato exige um aumento salarial superior a uma inflação histórica de mais de 11%
O sindicato dos enfermeiros do Reino Unido convocou uma greve de dois dias em dezembro para exigir melhores salários, uma ação sem precedentes em seus 106 anos de história em meio a uma crise da saúde pública.
Enfermeiros na Inglaterra, no País de Gales e na Irlanda do Norte vão parar de trabalhar nos dias 15 e 20 de dezembro, anunciou o sindicato Royal College of Nursing (RCN) nesta sexta-feira (25).
Leia também
• Aliados históricos da Rússia começam a se distanciar de Putin
• Capital da Coreia do Sul lança linha de ônibus que circula sem motorista
• México e Equador concordam em reativar cooperação contra o narcotráfico
"Os enfermeiros estão cansados de serem ignorados, com salários baixos e falta de pessoal, sem poder dar aos nossos pacientes o cuidado que merecem", declarou a secretária-geral do sindicato, Pat Cullen, em um comunicado.
"A menos que façamos isso, não vemos nenhuma perspectiva de que as coisas mudem tão cedo", afirmou a diretora do RCN na Inglaterra, Patricia Marquis, pedindo desculpas aos pacientes pelos transtornos.
A greve ocorrerá no contexto de uma crescente crise do custo de vida. O sindicato exige um aumento salarial superior a uma inflação histórica de mais de 11%.
Nos últimos meses, o Reino Unido tem sido palco de uma multiplicação de greves em diversos setores.
A mobilização dos enfermeiros será intercalada por paralisações dos trens, enquanto os Correios vão parar no Natal.
O ministro da Saúde, Steve Barclay, declarou-se "extremamente grato pelo trabalho árduo e pela dedicação" dos enfermeiros e lamentou a greve, garantindo que as interrupções serão minimizadas e que os serviços de emergência vão funcionar.
"São tempos difíceis para todos e a conjuntura econômica faz as reivindicações do RCN, exigindo um aumento salarial de 19,2%, a um custo de 10 bilhões de libras (US$ 12 bilhões) por ano, serem impossíveis de pagar", disse.
O RCN denuncia que os salários dos enfermeiros caíram 20% em termos reais desde 2010, devido aos sucessivos aumentos abaixo da inflação.
Na Escócia, o sindicato suspendeu a convocação depois que o governo autônomo regional reabriu as negociações, oferecendo aumentos de 11,3% para os salários mais baixos e um aumento médio de 7,5%.
Saúde em crise
Autoridades da saúde pública britânica disseram em setembro que alguns enfermeiros começaram a pular refeições para alimentar e vestir seus filhos e tinham dificuldades para pagar as contas.
Um em cada quatro hospitais na Inglaterra montou bancos de alimentos para seus funcionários, de acordo com o NHS Providers, que representa grupos hospitalares.
"Estamos exaustos. Precisamos de um aumento para viver", disse Ameera, enfermeira de um hospital londrino que votou a favor da greve, em entrevista à AFP.
Para ela, que não quis revelar o sobrenome, "o governo britânico brinca com a saúde dos pacientes, ao não aumentar os salários".
O Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês) vem sofrendo de subfinanciamento há anos.
O governo de Rishi Sunak anunciou este mês um aumento de 3,3 bilhões de libras no orçamento para os próximos dois anos, visando, principalmente, a reduzir as longas listas de espera para exames médicos e tratamentos.
De acordo com o RCN, há 47 mil vagas de enfermagem não preenchidas na Inglaterra, em parte devido à "má remuneração".
Muitos enfermeiros, liderados pelos espanhóis, deixaram o Reino Unido como resultado do Brexit, que pôs fim ao sistema que lhes permitia contabilizar sua experiência britânica em seus países de origem.
Mais de sete milhões de pessoas aguardavam atendimento em hospitais na Inglaterra em setembro, um número recorde desde que esse indicador foi criado em 2007.