EUA

Enquanto moradores sofrem com incêndios no Havaí, turistas lotam hotéis e resorts

Tragédia revela realidades distintas na ilha, que depende do turismo como "motor econômico"

Incêndio no HavaíIncêndio no Havaí - Foto: Patrick T. Fallon /AFP

Depois que incêndios florestais devastaram partes da ilha havaiana de Mauí, um dos destinos turísticos mais populares dos Estados Unidos, autoridades alertaram os turistas para não viajarem para a região. Mas milhares continuando chegando aos resorts, irritando os moradores após a tragédia.

Após os incêndios florestais, os mais mortais da história moderna dos Estados Unidos, a frustração com os turistas que optaram por continuar curtindo as férias aumentou. Muitos em Mauí dizem que a devastação mostrou o que é conhecido como os "dois Havaís" — um construído para o conforto dos visitantes e outro, bem mais difícil, deixado para os havaianos.

Em uma das faces do Havaí, os moradores locais enfrentam uma grave crise habitacional. Muitos moram em casas modestas de um andar em bairros como Kahlui e Kihei, alguns em residências multifamiliares, com cada família separada por uma cortina ou uma parede fina de compensado. Ter vários empregos é comum, disseram moradores à BBC, para arcar com o aumento crescente dos custos.

Neste Havaí, os efeitos dos incêndios estão por toda parte. Em lojas e mercearias, moradores desabrigados buscam itens essenciais, e tentam substituir seus pertences perdidos com o pouco dinheiro que resta. Nos restaurantes, trabalhadores podem ser vistos nas cozinhas segurando as lágrimas e fazendo ligações para ajudar a coordenar os esforços de socorro.

No outro Havaí, dentro da praia de Wailea, em Mauí, condomínios fechados fazem fronteira com campos de golfe, conectados a hotéis de luxo. Dentro dos hotéis, funcionários prestativos oferecem aulas de surfe e refeições à beira da piscina.

No dia seguinte aos incêndios, um visitante da Califórnia perguntou se ainda poderia fazer sua reserva para jantar no Lahaina Grill, um restaurante em uma das áreas mais atingidas da cidade. Outros reclamaram que as atividades programadas na ilha, como passeios a cavalo e tirolesa, haviam sido canceladas.

Na segunda-feira, quando mais de 90 pessoas haviam sido mortas pela tragédia na região, hotéis de luxo na praia de Wailea, estavam cheios e seus hóspedes se espalhavam pela areia. Em um deles, um cartaz anunciava um fundo de ajuda para os funcionários do resort — o primeiro sinal da destruição em Lahaina, a apenas 48 km dali.

— É tudo borboleta e arco-íris quando se trata da indústria do turismo — disse um morador de Mauí e funcionário do hotel à rede BBC. — Mas o que está realmente por trás disso é meio assustador.

Na quarta-feira passada, um dia após o início dos incêndios florestais, o condado pediu aos turistas que deixassem Lahaina o mais rápido possível. A ordem era que visitantes evitassem totalmente a ilha, exceto para viagens essenciais.

“Nos próximos dias e semanas, nossos recursos coletivos e atenção devem se concentrar na recuperação de residentes e comunidades que foram forçadas a serem retirados”, disse em nota a Autoridade de Turismo do Havaí.

Muitos seguiram o conselho: cerca de 46 mil pessoas deixaram a ilha nos primeiros dias. Mas milhares não. Alguns turistas ignoraram os pedidos para deixar Mauí imediatamente, enquanto mais visitantes chegavam ignorando a tragédia.

Outro morador de Mauí disse à BBC que os turistas estavam nadando nas "mesmas águas em que nosso povo morreu há três dias" — uma excursão de mergulho foi realizada na sexta-feira a apenas 18 quilômetros de Lahaina. A empresa de snorkel mais tarde se desculpou pelo passeio, dizendo que primeiro "ofereceu a embarcação durante a semana para entregar suprimentos e resgatar pessoas, mas o design não era apropriado para a tarefa".

A ilha, no entanto, depende economicamente dos viajantes. O Conselho de Desenvolvimento Econômico de Mauí estimou que a indústria de turismo responde por cerca de US$ 4 de cada 5 dólares gerados na região.

— Você meio que foi criado para odiar turistas — disse o jovem funcionário do hotel. — Mas essa é realmente a única maneira de trabalhar nas ilhas. Se não foi no setor de hospitalidade, é no setor de construção.

Há alguns meses, espalharam-se rumores de corretores de imóveis abordando proprietários de imóveis em Lahaina, sondando sobre possíveis vendas. Vários moradores disseram à BBC que temem que Lahaina seja transformada em outro Waikiki, a elegante orla de Honolulu, dominada por arranha-céus à beira-mar e lojas de luxo de marca.

— Não precisamos de outro Waikiki — disse Chuck Enomoto à BBC. — Mas é inevitável.

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