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Guerra

Enquanto Trump se diz irritado com impasse, Putin anuncia maior convocação de recrutas em 14 anos

Decreto emitido pelo Kremlin determinou meta de 160 mil alistamentos no primeiro semestre, como parte de plano para elevar o contingente militar para 1,5 milhão de homens

Recrutas russos acompanham treinamento em unidade de tanques Recrutas russos acompanham treinamento em unidade de tanques  - Foto: Nanna Heitmann/TNYT

Diante de um dos momentos mais cruciais destes 1.134 dias de invasão da Ucrânia, quando negociações mediadas pelos EUA parecem obter avanços pontuais, mas seguem longe de um desfecho, a Rússia anunciou a maior convocação de recrutas desde 2011, como parte de seu esforço para ampliar o contingente do país para até 1,5 milhão de militares.

Segundo o decreto do Kremlin, emitido na segunda-feira, a meta é alistar 160 mil homens até meados de julho, como parte da rodada semestral de recrutamento para o serviço militar.

O número é maior do que o registrado nos “alistamentos de primavera” de 2024, quando foram chamados 150 mil recrutas, e bem acima de 2022, primeiro ano da guerra, quando houve 134,5 mil alistados.

Desde o ano passado, a idade máxima de alistamento passou de 27 para 30 anos, e os selecionados receberão mensagens através da plataforma oficial do governo, o Gosuslugi, embora a imprensa local afirme que alguns moradores de Moscou receberam convocações.

Nas redes sociais e em sites de oposição ao governo é possível encontrar “guias” para evitar o alistamento obrigatório, que vão desde um pedido prévio para prestar serviços comunitários — cada vez menos aceito — até cometer pequenos crimes, o que não é recomendado em hipótese alguma.

— As autoridades estão criando novas formas de repor o Exército — alertou o advogado de direitos humanos Timóteo Vaskin, em declarações a veículos independentes russos.

Um grande temor dos homens russos, que deixaram o país em números consideráveis desde a invasão da Ucrânia, é de serem enviados para as linhas de frente, embora as autoridades militares neguem isso de forma veemente — nos últimos anos, Kiev relatou ter capturado recrutas russos, e o presidente Vladimir Putin chegou a reconhecer que alguns deles foram parar em unidades de combate “por engano”.

Para aumentar o clima de incerteza, o vice-chefe do Departamento Principal de Organização e Mobilização do Estado-Maior Russo, vice-almirante Vladimir Tsimlyansky, disse à agência Tass que um terço deles será enviado para treinamento de unidades e formações militares, onde, em um prazo de até cinco meses, aprenderão a operar equipamentos militares modernos e obterão uma especialidade militar.

— Após a conclusão do treinamento, eles serão enviados para as tropas em conformidade com as habilidades que adquiriram — disse o militar, sem detalhar se essas tropas atuariam na linha de frente na Ucrânia.

A meta de alistamento é a maior desde 2011, quando 200 mil homens foram chamados, e se encaixa nos planos anunciados por Putin no ano passado para elevar a até 1,5 milhão de homens o número de militares na ativa nas Forças Armadas — há três anos, quando seus tanques entraram na Ucrânia, a Rússia tinha um milhão de homens em suas linhas.

Além dos militares de carreira, Moscou também conta com um elevado número de homens com contratos profissionais — ou mercenários, como são chamados pelos ucranianos — vindos da Rússia e de outros países.

A Coreia do Norte, com quem Putin vem estreitando laços desde o estouro da guerra, passou a fornecer, além de armas, algumas de suas tropas de combate, que somariam 14 mil soldados, de acordo com a inteligência sul-coreana. Centenas teriam sido mortos, feridos e capturados em operações como a retomada da região de Kursk, em solo russo.

Mais do que ampliar suas tropas, a Rússia busca também “compensar” as perdas humanas no campo de batalha: segundo levantamento da rede BBC com o site russo Mediazona, 100 mil soldados russos morreram em combate, mas o número pode ser quase o dobro.

Em fevereiro, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que seu país havia perdido 46 mil soldados desde o início da invasão.

A decisão de acelerar os alistamentos ocorre em meio a contínuas ofensivas russas no leste da Ucrânia, com avanços rumo à cidade estratégica de Pokrovsk, na região de Donetsk, e também no momento em que os EUA buscam algum tipo de acerto entre Moscou e Kiev, mesmo que a toque de caixa e com termos em aberto.

Nesta quarta-feira, o negociador russo Kirill Dmitriev chegou aos EUA para conversas com integrantes do governo de Donald Trump, que incluem, além da guerra, passos para a normalização dos laços entre as duas maiores potências nucleares do planeta.

Na semana passada, o novo embaixador russo em Washington, Alexander Darchiev, chegou à capital americana, e a expectativa é de que dezenas de diplomatas voltem aos seus postos.

Mas se os laços parecem sair de um gelo prolongado a passos rápidos, o mesmo não se pode dizer sobre um acordo para encerrar o conflito.

Apesar de algumas concessões, como a promessa de não atacar infraestruturas de energia, o Kremlin tem feito exigências amplas, incluindo o fim das sanções e até a saída de Zelensky, para aceitar passos mais ousados.

No domingo, em uma reveladora entrevista à rede NBC, Trump disse que está "muito irritado" e "furioso" com Putin, e ameaçou impor novas tarifas e sanções contra ele.

— Se não for feito um acordo [de cessar-fogo entre Moscou e Kiev], e se eu achar que a culpa foi da Rússia, vou impor sanções secundárias à Rússia. Isso significa que, se você comprar petróleo da Rússia, não poderá fazer negócios nos EUA — disse Trump.

— Haverá uma tarifa de 25% sobre o petróleo e outros produtos vendidos nos Estados Unidos, tarifas secundárias

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