Entenda o vínculo estreito entre a ONU e os palestinos a partir de uma linha do tempo
Em novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU adotou a Resolução 181, que dividia a Palestina -então sob mandato britânico- em dois Estados, um judeu e outro árabe
Desde a partição da Palestina entre judeus e árabes em 1947, a ONU tem estado intimamente ligada ao destino dos palestinos, que viram nesta quinta-feira (18) um novo esforço frustrado para serem considerados membros de pleno direito da organização mundial.
Os Estados Unidos, que no passado não hesitaram em usar seu poder de veto como membro permanente do Conselho de Segurança em apoio a Israel, recorreram a essa prerrogativa nesta quinta-feira para rejeitar um pedido palestino de adesão às Nações Unidas. A iniciativa apresentada pela Argélia obteve doze votos a favor, um contra e duas abstenções.
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Segue abaixo uma cronologia desta relação indissolúvel:
- Partição
Em novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU adotou a Resolução 181, que dividia a Palestina -então sob mandato britânico- em dois Estados, um judeu e outro árabe, e estabelecia uma zona internacional especial para Jerusalém.
Os líderes sionistas aceitaram a resolução, mas os Estados árabes e os palestinos se opuseram.
Israel declarou sua independência em maio de 1948, desencadeando a guerra árabe-israelense, que durou oito meses e foi vencida pelos israelenses.
Mais de 760 mil palestinos fugiram de suas casas ou foram expulsos, um evento conhecido como "Nakba", "catástrofe" em árabe, e que a ONU não reconheceu oficialmente até maio de 2023.
- Autodeterminação -
Após a Guerra dos Seis Dias de 1967, o Conselho de Segurança da ONU adotou a Resolução 242, que exigia a retirada das forças israelenses dos territórios ocupados durante o conflito, incluindo a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental.
No entanto, as ambiguidades linguísticas entre as versões em inglês e francês das resoluções complicaram a situação e não deixaram claro o alcance da retirada exigida.
Em novembro de 1974, Yasser Arafat, então líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), fez seu primeiro discurso perante a Assembleia Geral em Nova York, afirmando que carregava tanto "um ramo de oliveira quanto o rifle de um combatente pela liberdade".
Dias depois, a Assembleia Geral reconheceu o direito dos palestinos à autodeterminação e à independência. Concedeu o status de observador da ONU à OLP como representante do povo palestino.
- Conversações de Oslo, sem a ONU -
Uma das iniciativas de paz mais firmes entre as partes não surgiu das Nações Unidas.
Em 1993, Israel e a OLP -que em 1988 havia declarado unilateralmente um Estado independente da Palestina- concluíram meses de negociações secretas em Oslo.
Ambas as partes assinaram uma "declaração de princípios" sobre a autonomia palestina e, em 1994, Arafat retornou aos territórios palestinos após um longo exílio para formar a Autoridade Palestina, então o órgão de governo da Faixa de Gaza e da Cisjordânia.
- O papel dos Estados Unidos -
As decisões do Conselho de Segurança da ONU sobre como lidar com os palestinos sempre dependeram da posição dos Estados Unidos, que, como membro permanente, tem poder de veto.
Desde 1972, Washington usou essa prerrogativa mais de 30 vezes para apoiar seu aliado chave, Israel. Mas às vezes permite que resoluções-chave avancem.
Em março de 2002, o Conselho, a pedido de Washington, adotou a Resolução 1397, a primeira a mencionar um Estado palestino que existiria ao lado de Israel, com fronteiras seguras e reconhecidas.
Em dezembro de 2016, pela primeira vez desde 1979, o Conselho instou Israel a parar a construção de assentamentos nos territórios palestinos, uma medida que foi adiante graças à abstenção de Washington, pouco antes do fim do mandato de Barack Obama na Casa Branca.
Além disso, outra abstenção dos Estados Unidos, sob pressão da comunidade internacional, permitiu ao Conselho de Segurança, em março de 2024, exigir um cessar-fogo imediato no meio da ofensiva israelense contra o Hamas em Gaza, desencadeada pelo ataque mortal desse grupo islâmico em 7 de outubro.
Essa medida ocorreu depois que Washington bloqueou três projetos semelhantes.
- Pedido frustrado -
Em 2011, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, apresentou um pedido de adesão à ONU, mas este nunca chegou a ser votado no Conselho de Segurança.
A Assembleia Geral então aprovou conceder aos palestinos o status de observadores em novembro de 2012.
Com o pano de fundo da guerra em Gaza, os palestinos retomaram em abril de 2024 seu pedido de adesão, que naufragou nesta quinta-feira devido à oposição dos Estados Unidos.
A posição de Washington contrasta com a da maioria dos 193 Estados membros da ONU -137, segundo um levantamento das autoridades palestinas- que reconheceram unilateralmente um Estado palestino.