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Entenda por que o ritmo de vacinação contra a Covid-19 difere nos estados e capitais

Vacinação contra a Covid-19Vacinação contra a Covid-19 - Foto: Thomas Kienzle/AFP

A diferença no ritmo de vacinação contra Covid-19 nas capitais brasileiras tem provocado grande variação na cobertura vacinal em relação aos grupos etários. 

Enquanto São Luís, capital do Maranhão, começa a vacinar jovens de 24 anos nesta quarta-feira (16), Palmas, no Tocantins, e Porto Velho, em Rondônia, por exemplo, ainda aplicam doses apenas em pessoas a partir de 60 anos.

Fatores como organização, densidade populacional, disponibilidade de doses e decisões estratégicas dos municípios ajudam a explicar evoluções e atrasos na imunização.

São Luís (MA), Manaus (AM), Fortaleza (CE) e Recife (PE) são as capitais brasileiras que mais avançaram em relação à vacinação dos mais jovens. Na outra ponta estão Porto Velho (RO), Palmas (TO), Rio Branco (AC) e Boa Vista (RR).

A capital maranhense conseguiu acelerar a aplicação dos imunizantes após receber 210 mil doses extras da AstraZeneca/Oxford/Fiocruz em razão da cepa indiana do coronavírus ter sido detectada no estado no dia 20 de maio. 

Nesta quarta-feira, a cidade começa a aplicar a primeira dose em pessoas de 24 e 25 anos. Com 1,1 milhão de habitantes, São Luís é a 15ª cidade mais populosa do Brasil. A prefeitura decidiu criar centros independentes para vacinar até 20 mil pessoas por dia.

Diferentemente de outras capitais, não é preciso fazer agendamento prévio. "Basta comprovar a idade e ir em qualquer centro de vacinação. Desenvolvemos um aplicativo, o 'Filômetro', que indica locais mais cheios e mais vazios. Isso tem ajudado bastante nosso fluxo", explica o prefeito Eduardo Bride (Podemos).

Na cidade, a vacinação para cada grupo etário ocorre em um mesmo dia. Na terça-feira, por exemplo, receberam a primeira dose pessoas com 26 e 27 anos. Quem perde o dia deve aguardar a repescagem.

Já em Palmas, capital menos populosa do País, com cerca de 306 mil habitantes, é preciso fazer cadastro para garantir a vacina, que ainda segue sendo aplicada só em pessoas com comorbidades, com 60 anos ou mais, e em grupos de trabalhadores essenciais.

Via assessoria, a prefeitura afirmou que, considerando o número de doses recebidas, o percentual aplicado é alto em comparação com outras capitais, inclusive com São Luís.

A epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o PNI (Programa Nacional de Imunizações) de 2011 a 2019, diz que, além de pré-cadastro e maior ou menor grau de exigência para vacinar pessoas com comorbidades, outros fatores interferem na velocidade da imunização.

"Temos vacinações diferentes porque temos populações diferentes. Num cenário com poucas doses, a organização é complexa, o que impõe ritmos diferentes", explica. 

Ela lembra que vários grupos de trabalhadores foram incluídos no PNI, como portuários e metroviários, e outros ficaram de fora, como os bancários.

Isso ajuda a explicar a alta taxa de vacinação em Paranaguá, cidade portuária do Paraná, onde quem tem 35 anos está recebendo doses. Em Curitiba, capital do estado, a vacinação chegou a pessoas com 53 anos nesta quarta-feira (16).

Um modelo matemático criado por pesquisadores da UFPR (Universidade Federal do Paraná) estima que, pela média atual, 75% dos moradores de Paranaguá devem estar completamente imunizados até 15 de setembro. Em Curitiba esse índice só será alcançado em 20 de novembro.

O professor Giovani Vasconcelos, coordenador do grupo, observa que a variação na aplicação de doses na capital paranaense é grande, puxada especialmente pelo recebimento inconstante de vacinas pelo Ministério da Saúde. "Mesmo dentro de um mesmo estado, o Paraná, no caso, há uma grande disparidade", afirma.

Em comparação feita pelo pesquisador com São Luís, Maceió (AL), São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS), por exemplo, Curitiba deve ser a última a aplicar a segunda dose em 75% dos moradores.

"Para mim, foi equivocado colocar um monte de atividades essenciais como se uma profissão fosse mais importante do que outra", avalia Carla Domingues. 

Ela acredita que a vacinação escalonada por idade logo após o grupo de comorbidades agilizaria o processo. "Até porque é mais fácil demonstrar [que faz parte do grupo contemplado], é só apresentar o documento."

A densidade populacional e a alta taxa de integrantes dos primeiros grupos vacinados também explicam os diferentes índices de imunização.

Em Alcântara, cidade com 22 mil habitantes na região metropolitana de São Luís, foi iniciada uma força-tarefa nesta segunda-feira (14) para vacinar todos os moradores com 18 anos ou mais. 

Além de uma população pequena, o município tem o maior número de quilombos do Brasil. São 204 comunidades, onde vivem mais de 3.300 famílias.

Outras pequenas localidades, como o arquipélago de Fernando de Noronha, em Pernambuco (4.700 moradores), e Guaraqueçaba, no litoral do Paraná (7.500), já estão vacinando maiores de 18 anos.

"Não posso comparar o plano de vacinação de uma cidade menor ou mesmo de uma capital com média de 1 milhão de habitantes com São Paulo, por exemplo, que tem 12 milhões", diz Carla Domingues.

O número de pessoas com mais de 60 anos também fez com que cidades recebessem diferentes remessas de doses. No Brasil, esse índice gira em torno de 15% da população. Já no estado do Acre, esse percentual não passa de 8%.

À Folha o secretário de Saúde de Rio Branco, Frank Lima, disse que a cidade ultrapassou ou já chegou perto de atingir a meta de vacinação de todos os grupos prioritários. 

"Infelizmente, o Ministério tem uma plataforma lenta e um sistema de apuração de dados ineficiente que leva de três a cinco dias para atualizar as vacinas", justificou.

Nas cidades em que houve avanço na faixa etárias, a maioria das vacinas aplicadas têm janela de três meses entre uma dose e outra, a exemplo da AstraZeneca/Oxford/Fiocruz e da Pfizer/BioNTech. 

Assim, há menos risco, em tese, de utilizar logo a maioria das doses na primeira aplicação. Com mais tempo de espera para a segunda dose, é possível mudar planos caso ressurja o risco de chegarem menos vacinas.

Mas ele diz que o ideal é que os municípios guardem vacinas para garantir a segunda dose. "O adequado é guardar enquanto não houver regularidade de envio", afirma Lima.

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