Entidades criticam 'campanha de sabotagem' e pedem avanço na vacinação infantil
Em posicionamento divulgado nesta sexta-feira (21), entidades repudiaram as "declarações enganosas de autoridades do governo" com a finalidade de minar a confiança de pais.
Entidades signatárias do Pacto pela Vida e Pelo Brasil, lançado em 2020 face ao agravamento da pandemia no país, criticaram o que chamam de "campanha de sabotagem" à vacinação infantil e conclamaram o avanço da imunização em crianças e adolescentes. Em posicionamento divulgado nesta sexta-feira (21), repudiaram as "declarações enganosas de autoridades do governo" com a finalidade de minar a confiança de pais.
No manifesto, as entidades citam o desprezo ao direito à saúde e à vida, bem como o desrespeito à Constituição e ao Estatuto da Criança e doAdolescente (ECA) nas falas de integrantes e apoiadores do governo. O presidente Jair Bolsonaro (PL) recentemente atacou a vacinação infantil e minimizou as mortes de crianças com idade entre 5 a 11 anos. Embora tenha falado que o número de óbitos é "quase zero", o Ministério da Saúde contabilizou mais de 300 vítimas nesta faixa etária desde o início da pandemia.
No dia em que as primeiras doses de vacinas contra a Covid-19 foram aplicadas em crianças, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, evitou recomendar a imunização infantil e disse que os pais têm liberdade de escolha quanto a esta questão. O ministro já havia contestado a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de aprovar a vacinação nesse grupo. Ele também chegou a defender a apresentação de pedido médico para vacinar crianças sem comorbidade.
"Declarações enganosas de autoridades do governo, na contramão do que tem sido feitopela autoridade sanitária, a Anvisa, poderiam sugerir que o Brasil pouco ou nadaaprendeu nesses mais de dois anos de luta contra o vírus. Que falhamos como Nação.Que abrimos mão de compromissos éticos. Que retrocedemos no tempo. Mas, não nos enganemos: a sociedade brasileira não vive dentro da bolha do negacionismo", escrevem as entidades.
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As entidades conclamam que governadores e prefeitos tomem medidas para agilizar a vacinação e pedem que pais e familiares cobrem o Estado brasileiro. Elas lembram que o Brasil "conquistou reconhecimento internacional pelo seu programade imunização" e controlou doenças que afetavam o público infantil.
"Manobras para desacreditar as vacinas, com o bombardeio incessante de declaraçõesinfundadas, têm tão somente por finalidade minar a confiança dos pais diante do que écorreto e inadiável fazer: vacinar as crianças, garantindo-lhes proteção diante de umagente infeccioso grave", afirmam.
Assinam a manifestação a Conferência Nacional dos Bispos doBrasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom PauloEvaristo Arns, a Academia Brasileira de Ciências - (ABC), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência(SBPC).
Leia a íntegra do posicionamento:
PACTO PELA VIDA DAS CRIANÇAS BRASILEIRAS
"Nós, entidades signatárias do Pacto pela Vida e Pelo Brasil, lançado em 7 de abril de2020 face ao agravamento da pandemia, voltamos a unir nossas vozes no clamor poraqueles que assistem, silentes e sem poder de ação, a situações que colocam em riscoa sua própria vida. Falamos de milhões de crianças e adolescentes brasileiros, sobre osquais é urgente pensar com lucidez, responsabilidade e profundo sentido ético.
O enfrentamento da Covid-19, no curso de uma crise sanitária que abalou o mundo,prenunciou a necessidade de imunização da população infanto-juvenil, como já vemocorrendo em vários países. Sabia-se que a vacinação teria que chegar às crianças,protegendo-as de um vírus contagioso e mutante, com impactos diversos sobre oorganismo. No entanto, chegada a hora, mais uma vez armou-se o circo da insensatezno Brasil, buscando semear o tumulto e afastar o país do seu destino.
Manobras para desacreditar as vacinas, com o bombardeio incessante de declaraçõesinfundadas, têm tão somente por finalidade minar a confiança dos pais diante do que écorreto e inadiável fazer: vacinar as crianças, garantindo-lhes proteção diante de umagente infeccioso grave.
O Brasil, e não é de hoje, conquistou reconhecimento internacional pelo seu programade imunização. Gerações cresceram atendendo às convocações para vacinaçõesdiversas e assim foi possível controlar doenças que assombraram a população infantil etantas famílias - entre elas, o sarampo e a poliomielite. Imunizou-se muito e bem, numpaís de dimensão continental e grande desigualdade.
Hoje não se pode aceitar a campanha de sabotagem em torno da vacinação pediátrica,no curso de uma pandemia ainda longe de ser controlada, desprezando o direito à vidae à saúde de uma faixa etária com cerca de 69 milhões de brasileiros -- porque é dissoque se trata, em flagrante desrespeito à Constituição e ao Estatuto da Criança e doAdolescente (ECA). Estarrece constatar que tal situação esteja acontecendo no país que,tristemente, tornou-se um dos recordistas de mortes por Covid no planeta – cerca de622 mil óbitos até o momento, boa parte deles evitável.
Declarações enganosas de autoridades do governo, na contramão do que tem sido feitopela autoridade sanitária, a Anvisa, poderiam sugerir que o Brasil pouco ou nadaaprendeu nesses mais de dois anos de luta contra o vírus. Que falhamos como Nação.Que abrimos mão de compromissos éticos. Que retrocedemos no tempo. Mas, não nos enganemos: a sociedade brasileira não vive dentro da bolha do negacionismo. Elaconhece muito bem a dura realidade, sente na pele os desafios, escuta o que diz aciência e assim defenderá o direito à vacina infantil, contra o SARS-CoV-2.
Certos disso, conclamamos governadores e prefeitos a não poupar esforços para que aimunização pediátrica avance rapidamente pelo país, em grandes mutirões, alcançando todas as crianças, e sem esquecer jamais das que vivem em condição de vulnerabilidade. Conclamamos mães, pais, familiares e professores a exigir do Estado brasileiro o que é preciso neste momento, para garantir não só a saúde, mas o futuro dos mais jovens. E,por fim, mas não por último, conclamamos cidadãos e cidadãs a formar conosco um cinturão de lucidez no enfrentamento da pandemia, que esperamos ver superada. Como uma sociedade livre e democrática, construída sobre os pilares da ética, do bom senso e do bem comum, sairemos disso mais fortes".