Entregador agredido por ex-atleta de vôlei agradece apoio recebido: "Vou continuar lutando"
Max Ângelo dos Santos, que foi agredido por Sandra Mathias Correia de Sá, publicou um vídeo em que diz que não vai desistir do caso, ocorrido em São Conrado, em que apanhou com guia de coleira de cachorro
O entregador Max Ângelo dos Santos, que foi agredido pela ex-atleta e professora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá, usou seu perfil numa rede social para agradecer ao carinho e apoio que tem recebido após as cenas da agressão viralizarem. Nas imagens, gravadas no domingo de Páscoa, em São Conrado, na Zona Sul do Rio, Sandra aparece perseguindo Max, puxando a camisa dele e desferindo quatro golpes com a guia de uma coleira de cachorro. Em cinco dias, ele denunciou Sandra duas vezes, e diz que vai continuar com o caso, apesar da tristeza decorrente dos episódios.
Max tem usado seu perfil nas redes sociais para falar sobre o caso. Nas publicações, muitas mensagens de carinho e de apoio são enviadas por pessoas até mesmo de outros estados que souberam das agressões, após a grande repercussão na internet e em notícias. Já Sandra, tem recebido ofenças e xingamentos, não raro sendo chamada de racista.
"Meu nome é Max, eu sou entregador que sofreu aquela agressão da senhora Sandra Mathias, ocorrido no dia 9, domingo de Páscoa, e eu venho aqui hoje pedir, primeiro de tudo eu queria pedir desculpas a todos porque eu não consegui responder a todas as mensagens, né? Eu queria agradecer a todos pelo carinho, pela atenção, pelo comprometimento, pelo amor que vocês tiveram por mim, por vocês terem me abraçado e terem abraçado essa causa também que é a questão do racismo, que hoje ela está tão óbvia, né? Quero dizer para vocês que eu vou continuar lutando, né, ela tem que pagar, ela vai pagar pelo o que ela fez, tá bom?", disse Max em vídeo publicado em seu perfil do Instagram na noite de quinta-feira (13).
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O entregador conta que rever as cenas da agressão é sempre um momento de dor. Nos vídeos gravados que, após viralizarem, deram repercussão ao caso, ele aparece tendo a camisa puxada por Sandra, em um dos momentos. Isso aconteceu logo após ele intervir na agressão da ex-atleta contra Viviane Maria Souza, também entregadora, que estava no grupo que aguardava por pedidos de entregas no estabelecimento em São Conrado. Viviane foi a primeira a ser agredida física e verbalmente por Sandra. Ela pediu ajuda a Max quando a mulher mordeu sua perna.
Nas imagens, é possível ver que Sandra retira a guia da coleira do cachorro, o qual tinha levado para passear, e então a usa para bater nas costas de Max enquanto o persegue. Ele consegue se esquivar de apenas um dos quatro golpes desferidos.
"E queria dizer que, assim que eu puder, eu tive uma semana muito turbulenta, foi muita coisa em cima da hora, minha vida virou de cabeça para baixo da noite pro dia. Eu tô tentando ainda assimilar e digerir tudo o que aconteceu ainda, entendeu? Eu ainda fico triste, eu ainda choro durante a noite ou quando eu vejo a reportagem passando diariamente. Inclusive a minha esposa que tá sendo meu pilar no momento", disse o entregador no vídeo em seu perfil.
Na quarta-feira (12), Sandra e Max eram esperados para prestar depoimento na 15ª DP (Gávea), onde o caso foi registrado como injúria e lesão corporal no último domingo. No lugar da ex-atleta, somente compareceu o advogado de defesa, portando um atestado e solicitando o adiamento do comparecimento da cliente na delegacia. Sandra é esperada para prestar depoimento na próxima semana.
Max esteve na 15ª DP e, ao lembrar das agressões, disse que "nem animal é tratado desse jeito", se referindo às chicotadas. A ida dele foi acompanhada pela mãe, a cabeleireira Adriana de Souza Alves, que após ver o filho chorar, levantou a cabeça dele e abraçou e disse "você vai sair dessa, de cabeça erguida, porque eu te dei uma boa criação, mesmo morando na favela". A família mora na Rocinha, comunidade em São Conrado.
"Minha mãe apareceu na delegacia para me dar uma força, e aquilo me emocionou muito. Então eu quero agradecer a todos vocês pelo carinho, pela atenção com que vocês estão dando perante a esse evento que é lamentável. Em pleno século XXI ainda tem que estar passando por isso. Eu não digo só negros, né, mas eu digo também pela classe social, eu sou um entregador, sou um entregador de aplicativo", contou o entregador no vídeo.
Max trabalha há um ano e meio como entregador, após perder o emprego como porteiro em um prédio, também em São Conrado. No relato postado nas redes sociais, ele falou da dura rotina. No dia da agressão, ele e outros amigos estavam no estabelecimento no bairro onde sempre aguardam os pedidos para entrega. O local fica próximo ao apartamento onde mora Sandra, que sempre passava próximo e reclamava do grupo.
"É ralação total, é sol, é chuva. No momento em que a gente pode ter um lazer com a nossa família, a gente não tem porque a gente tá na rua, tem que trabalhar e levar pão nosso de cada para nossa família. Eu tenho três filhos, eu pago pensão, pago aluguel, entendeu? Então eu não posso ficar em casa a toa, de bobeira. Ano passado eu acabei perdendo o emprego, e tive que me dedicar totalmente ao aplicativo E é ele que me dá o sustento para levar comida para botar na minha mesa, entendeu?", disse Max.