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Entregador volta a trabalhar uma semana após ser agredido por ex-jogadora de vôlei

Max Ângelo dos Santos, que foi agredido por Sandra Mathias, voltou a trabalhar nesta segunda-feira. Segundo ele, após uma vida inteira de batalhas diárias, não consegue ficar parado

Professora Sandra Mathias Correia de Sá aparece em vídeo dando chicotadas no entregador Max Angelo Alves dos Santos Professora Sandra Mathias Correia de Sá aparece em vídeo dando chicotadas no entregador Max Angelo Alves dos Santos  - Foto: Reprodução

Max Ângelo Alves dos Santos buscou, na manhã desta segunda-feira (17), a bicicleta elétrica que ganhou e foi direto para o trabalho. Esse é o primeiro dia que o entregador volta ao serviço após ser agredido pela ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias, há uma semana. Durante o trajeto do Catete, onde retirou a bicicleta, a São Conrado, conta ter sido parado por diversas pessoas que demonstravam carinho e o apoiavam.

— Sempre trabalhei e estar voltando agora, depois de uma fase turbulenta, é muito bom. Fico feliz de reencontrar meus colegas aqui. A vida do entregador não para. Eu não consigo ficar parado, fico elétrico. Se eu ficar em casa muito tempo, começo a ficar agoniado — disse, com um sorriso no rosto.

Segundo ele, o retorno para o local onde as agressões acontecerem não trouxe nenhuma ansiedade ou medo de represálias:

— Sempre trabalhei aqui. Trabalho em várias áreas, mas foi aqui onde tudo começou. Fico muito feliz, o pessoal ali me recepcionou muito bem quando eu comecei. Hoje, dou muito valor a esse trabalho. Confesso que, há um tempo atrás, antes de começar, eu sentia vergonha, mas a necessidade supera qualquer coisa.

A violência sofrida, no entanto, não será esquecida:

— Estou me sentindo bem melhor. Claro que não é uma coisa que a gente vai esquecer da noite para o dia, porque se trata de um assunto muito complexo. Eu sempre vou lembrar. É o que venho falando: quando acontece com outra pessoa, você vê, mas não enxerga. Mas quando acontece com a gente, a gente passa a ver aquilo com outros olhos — ponderou.

Relembre o caso
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o momento em que Sandra, que estava passeando com o cachorro, passou por alguns entregadores que trabalham em uma loja do bairro. Ela parou e começou a atacar verbalmente o grupo, dizendo para eles “voltarem para a favela”. Depois, ela tirou a coleira do cachorro e chicoteou as costas de Max Ângelo.

Após a repercussão do caso, uma vaquinha virtual foi criada para ajudar Max a sair do aluguel e comprar uma casa própria para ele e sua família, cuja meta era arrecadar R$ 190 mil, superou as expectativas e em menos de 48 horas já passou de R$ 210 mil de mais de 7.200 doadores. A iniciativa tem o apoio do apresentador Luciano Huck e do ator João Vicente de Castro.

O que aconteceu com Max Ângelo?
A professora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá desferiu ao menos quatro chibatadas contra o entregador Max Angelo Alves dos Santos no domingo, dia 9.

Ao passar por entregadores, começou a atacar verbalmente o grupo, dizendo para eles “voltarem para a favela”.

Max registrou duas ocorrências contra Sandra Mathias, que foi banida de plataforma de delivery após o caso.

Após a repercussão, Max ganhou do iFood uma motocicleta e uma bicicleta elétrica.

Uma vaquinha para entregador agredido por ex-atleta de vôlei comprar casa própria já arrecadou de R$ 100 mil em menos de um dia.

— Moro de aluguel e, ter uma casa própria, me ajudaria a juntar dinheiro e pagar cursos para as crianças. Quero que eles tenham acesso à educação que, infelizmente, eu e meus irmãos não tivemos. Espero que minha história faça algum efeito — disse Max, em depoimento a O GLOBO.

Ouvido novamente neste domingo o entregador disse que não quer se precipitar e ainda não procurou nenhum imóvel. Ele está esperando a vaquinha ser concluída. Enquanto isso tenta voltar a vida normal. Contou que sua história sensibilizou muita gente, não só no Rio. Max contou que soube por meio de amigos da Rocinha quer estão vivendo no exterior, que a repercussão de sua história ultrapassou as fronteiras do país.

— Minha história sensibilizou todo mundo e fico feliz, porque foi uma coisa que aconteceu da forma mais horrível. Não joguei o vídeo (da agressão) nas redes sociais buscando fama, mas justiça. Isso que está acontecendo é o reconhecimento de que nossa classe de entregadores vem sendo muito hostilizada. Fico triste que esse tipo de coisa (discriminação e racismo) ainda aconteça. Meu caso tem sensibilizado outras pessoas que foram vítimas de racismo. Quando elas me procuram eu digo que o problema não vai acabar, mas se denunciarmos, como fiz, poderá ajudar a reduzir.

O entregador também ganhou uma motocicleta e uma bicicleta elétrica na sexta-feira. Nas redes sociais, circula um vídeo em que o entregador recebe as chaves da moto. Além disso, o rapaz contou que também está recebendo diversas propostas de emprego. Nessa segunda-feira, disse que vai comparecer a uma entrevista de trabalho na Barra da Tijuca, mas preferiu não dar detalhes, para não atrapalhar.

— Quero continuar trabalhando, tento uma vida normal.

Até setembro do ano passado, Max trabalhava como porteiro em um prédio na Zona Sul. Paralelamente atuava como entregador de aplicativo. O que era para servir de reforço na renda acabou virando sua principal remuneração, com o desemprego. As entregas rendem em média R$ 1 mil, por mês. Somente o aluguel (R$ 600 mensais) e pensão dos filhos R$ 400), consomem integralmente esse valor.

Max tem usado seu perfil nas redes sociais para falar sobre o caso. Nas publicações, muitas mensagens de carinho e de apoio são enviadas por pessoas até mesmo de outros estados que souberam das agressões, após a grande repercussão na internet e em notícias. Já Sandra, tem recebido ofensas e xingamentos, não raro sendo chamada de racista.

Relembre o caso
Vídeos que circulam nas redes sociais mostraram o momento em que Sandra Mathias Correia de Sá, que estava passeando com o cachorro por uma rua de São Conrado, bairro da Zona Sul do Rio, passou por alguns entregadores que trabalham em uma loja do bairro. Ela parou e começou a atacar verbalmente o grupo, dizendo para eles “voltarem para a favela”. Depois, ela tirou a coleira do cachorro e chicoteia as costas de um deles, Max Angelo dos Santos.

Após a agressão, o entregador foi à delegacia, prestou depoimento e passou por exames no Instituto Médico Legal (IML), onde foram confirmadas os hematomas causados pela agressão.

Na terça-feira, Sandra foi intimada a comparecer à 15ª DP (Gávea) por duas novas acusações: injúria e lesão corporal contra dois entregadores negros. A confusão, no último domingo, teria começado por insatisfação da mulher ao ver entregadores andando de moto na calçada em que ela passeava com o cachorro. A mulher já havia sido convocada para depor na quarta-feira passada, mas não compareceu. Sua defesa apresentou um atestado na ocasião, alegando que a sua cliente estaria machucada.

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