RIO DE JANEIRO

Entregadora diz ter sido mordida por professora e mostra bicicleta quebrada: "Que mal a gente fez?"

Viviane Maria Souza aparece em vídeo que outro entregador também é agredido

Mulher agride grupo de entregadores, no Rio de JaneiroMulher agride grupo de entregadores, no Rio de Janeiro - Foto: Reprodução

Após a agressão ao entregador Max Angelo Alves dos Santos no Rio de Janeiro ter sido divulgada nas redes sociais, entregadores e comerciantes vizinhos ao endereço da professora Sandra Mathias Correia de Sá, na Estrada da Gávea, relatam que os embates da moradora são rotineiros. Viviane Maria Souza, de 38 anos, mora na Rocinha e trabalha há oito meses como entregadora de aplicativo. Nesta terça-feira, ela chegou ao local de trabalho mancando.

— Estou com dor por causa da mordida dela e por ficar correndo, porque já não sou novinha para ficar brincando de brigar — conta Viviane, que, no último domingo, questionou o tratamento da professora.

Segundo a entregadora, ela e os amigos estavam sentados nos degraus de frente à central de entregas, na Estrada da Gávea. Foi o momento em que Sandra Mathias passou caminhando com o cachorro e os tratou mal.

— Ela veio encarando a gente, cuspiu no chão e perguntei: “que mal a gente fez para a senhora?”. Ela já veio metendo o dedo na minha cara, falei para ela parar, e ela falando nome feio — lembra Viviane, que saiu correndo para acabar a confusão. — O Max que tirou ela da minha perna, foi quando ela esfolou nele. Falei que não queria brigar, mas ela respondeu “eu quero”. Ela tava possessa.

Segundo Viviane, após a briga, a bicicleta ficou danificada. Além do pedal quebrado, partes da estrutura estão frouxas.

Viviane é colega de trabalho de Max Angelo Alves dos Santos, que foi à delegacia duas vezes na última semana — a primeira na quarta-feira e outra no domingo — após ser agredido por Sandra.

— Quando voltei (de uma entrega) às 22h30, na terça-feira, ela tava parada com o cachorro, passei perto dela. Quando fui guardar as coisas na bag, ela veio na minha direção e começou: “você tem que me respeitar. Você tirou um fino de mim”, sendo que eu nem tinha encostado nela. Aí começaram as agressões verbais. Me chamou de marginal, preto, favelado, me mandou tomar em tudo quanto é lugar. Falei: “a senhora acha que tem que ficar sapateando em cima dos outros por causa disso” — relata Max, que, depois da discussão, disse que teve o local de trabalho invadido pela professora e, no dia seguinte, registrou uma ocorrência na 15ª DP. No domingo, o episódio se repetiu:

— Uma menina (Viviane) perguntou porque ela tem tanto ódio da gente, e aí começou a discussão delas. Foi quando ela começou a falar diversas palavras ofensivas, ameaçou a menina, avançou, agarrou a menina, puxou pelas pernas, mordeu. Ela ainda ficou correndo aqui, falou que ia matar a menina. Quando voltou, já voltou me agredindo. Soltou o cachorro e me agrediu. Te juro, nem acreditei, para mim ela ia pegar o cachorro e ir embora. Nunca me passou pela cabeça que ia me agredir com a coleira e me dar chicotada nas costas.

Max mora na Rocinha com a atual esposa, Jaqueline dos Santos Lopes, autônoma de 39 anos. Pai de três filhos, que moram com a ex-companheira no município de Queimados, na Baixada Fluminense, ele nem sabe como contará para os filhos sobre tudo que aconteceu. Max é o homem no vídeo publicado nas redes sociais em que Sandra aparece agredindo como uma coleira de cachorro.

— Complicado uma criança assistir um vídeo desses, é bem pesado. Acredito que a mãe deles não tenha deixado eles verem, mas que fique de exemplo: com certeza eles levam para vida deles, aprendem a não abaixar a cabeça para ninguém — desabafa Max, que diz que foi ameaçado pela professora, que disse ser parente de agentes da polícia.

Segundo a Secretaria municipal de Ordem Pública, Sandra Mathias Correia de Sá detém uma licença para o funcionamento de sua escolinha de vôlei no posto 12, no Leblon. Em nota, a pasta afirma que irá acompanhar as investigações, mas, ate o momento, o alvará se mantém ativo por não ter cometido nenhum ato ilícito no exercício da sua profissão.

Rotina de problemas
Max trabalha como entregador há um ano e seis meses, após perder o emprego como porteiro, que exercia também no bairro de São Conrado, na Zona Sul. Morador da Rocinha, sua rotina é descer a comunidade por volta das 8h da manhã e só encerrar o trabalho ao fim do dia, às 23h.

Cansado do dia de trabalho, após a adrenalina da confusão com a professora, ele só foi dormir de madrugada.

— No dia, ele foi dormir umas 4h. Logo que compartilhamos nas redes sociais, começou um monte de gente a ligar e mandar mensagem — conta a esposa, Jaqueline. — Fiquei chocada com aquele vídeo.

Vice-presidente da Associação de Moradores e Amigos de São Conrado (Amasco), Túlio Simões esteve no trabalho de Max e prestou solidariedade. Segundo Túlio, só após a divulgação do caso ficou sabendo de uma rotina de problemas envolvendo a professora.

— Nunca tinha recebido denúncia, nem sabíamos que ela já tinha criado tanto problema com os entregadores e com o pessoal do estacionamento da região.

Na rua em que Max foi agredido, os comerciantes locais relatam que são rotineiros os embates com a professora.

— Sou veterinária daqui. Ela já até me ameaçou. Até abandonou um cachorro para eu cuidar — conta Catharina Mattos, que trabalha numa clínica veterinária próximo ao prédio onde mora a professora.

Na manhã desta terça-feira, a todo momento, Max era cumprimentado por motoristas, mototaxistas e pedestres que passavam pela rua e o reconheciam. A doméstica Maria das Dores Rodrigues foi uma delas.

— Hoje a vira-lata não vem te bater? Eu ia pegar ela. Fiquei revoltada quando vi o vídeo — gritou a doméstica, enquanto seguia para o trabalho.

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