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Epidemia de H3N2

Epidemia de H3N2: vacinação é recomendável apesar de imunizante não conter cepa Darwin; entenda

Vacina contra a gripeVacina contra a gripe - Foto: Marconi Meireles/Folha de Pernambuco

Com 2.449 casos confirmados da influenza A H3N2, Pernambuco atravessa uma epidemia de gripe em meio à pandemia de Covid-19. O aumento dos registros “provavelmente” foi causado pela variante Darwin do vírus, segundo informou, nesta quinta-feira (30), o secretário estadual de Saúde, André Longo

A vacina contra a gripe oferecida nas redes pública e privada este ano não protege contra essa nova cepa, identificada pela primeira vez na cidade de Darwin, no norte da Austrália. No entanto tomar o imunizante disponível é recomendável.

Isso porque, segundo o imunologista e professor da Universidade de Pernambuco (UPE) Rafael de Freitas e Silva, a vacina confere proteção contra os outros subtipos do vírus da gripe e é eficaz contra a “cepa-mãe” do H3N2, embora não contenha a variante Darwin.

“Todo ano, a gente tem uma formulação de vacina da gripe nova. Sempre tem na vacina da gripe o H1N1 e o H3N2”, explica o professor. Ele lembra ainda que a proteção contra a cepa Darwin vai ser incluída no próximo ano. “Isso não quer dizer que a vacina deste ano não pode ser tomada pelas pessoas, pois pode conferir uma proteção parcial contra esse subtipo [o H3N2]. Acreditamos que a vacina atual possa proteger parcialmente contra esse novo subtipo por conter partes conservadas da 'cepa-mãe'”, completa Rafael. 

O professor Rafael cita possíveis hipóteses para o desenvolvimento da epidemia de H3N2 em Pernambuco. "Ano passado houve uma baixa cobertura de vacinação contra a gripe no Brasil e uma baixa circulação do vírus da gripe", disse ele, lembrando o lockdown imposto pela pandemia do coronavírus, quando também "os outros vírus que causam doenças respiratórias deram uma diminuída”.

Agora, com o avanço da vacinação contra a Covid e a volta da circulação da população num cenário de baixa imunização contra a gripe, os casos de influenza subiram.

O Instituto Butantan produz anualmente 80 milhões de doses da vacina contra a influenza oferecidas na campanha nacional de vacinação. Como a doença é sazonal, o imunizante é modificado a cada ano baseado nos três subtipos do vírus influenza que mais circularam no último ano no Hemisfério Sul. 

Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) monitora os subtipos e indica a formulação da vacina todos os anos aos fabricantes em todo o planeta. A nova versão da vacina da influenza, que será distribuída em 2022, é trivalente, composta pelos vírus H1N1, H3N2 e a cepa B. Há expectativa de que, no futuro, seja ofertada na campanha a vacina tetravalente - que protege contra as cepas B Victoria e B Yamagata.

O Butantan anunciou, em 17 de dezembro, que começará, em janeiro, a produção da versão atualizada da vacina, que irá torná-la eficaz contra a linhagem Darwin. Em nota, o instituto afirmou que “a produção das vacinas que serão usadas em 2022 teve início em setembro e os bancos virais para a atualização do imunizante já estão sendo preparados”. 

“Em janeiro, inicia-se a produção dos Insumos Farmacêuticos Ativos incluindo a nova cepa Darwin”, informou o instituto.

Produção da vacina contra influenza no Butantan (Foto: Divulgação/Instituto Butantan)

Recomendações
O professor Rafael destaca ainda que a população precisa continuar com todas as medidas de contenção tomadas durante a pandemia de Covid-19 para conter o contágio e a transmissão da gripe, como o uso de máscaras de proteção, a etiqueta respiratória e a higienização das mãos. 

“Tudo isso pode ajudar a conter a circulação do vírus da gripe, que pode causar doença grave em crianças e idosos”, acrescenta o imunologista, citando que um quadro de febre alta, por exemplo, pode causar até convulsão. Ele ainda diz que não é fora do comum um surto de gripe nesta época do ano, de verão, apesar da ocorrência da doença ser bem mais frequente nos meses de inverno, entre junho e setembro.

Em caso de sintomas da H3N2, como febre, moleza no corpo, tosse, garganta inflamada, dor de cabeça, calafrio, fadiga e espirro, a pessoa deve ficar em isolamento por, ao menos, sete dias, até se recuperar da doença e para que outras pessoas não sejam contaminadas.

Vírus da gripe
Atualmente, são conhecidos três tipos de vírus da influenza: A, B e C. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os dois primeiros são mais propícios a provocar epidemias sazonais em diversas localidades do mundo, enquanto o último costuma causar casos mais leves. 

O tipo A da influenza é classificado em subtipos, como o A H1N1 e o A H3N2. Já o tipo B é dividido em duas linhagens: Victoria e Yamagata.

Embora possuam diferenças genéticas entre si, todos os tipos do vírus da gripe podem provocar sintomas parecidos.

Secretário estadual de Saúde de Pernambuco, André Longo (Foto: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco)

Cenário da influenza em Pernambuco
De acordo com o balanço atualizado SES-PE, Pernambuco registrou, até esta quinta-feira (30), 2.466 casos do tipo A da influenza confirmados em laboratório, Desse total, são 2.449 da cepa H3N2 e 17 não subtipáveis.

Quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) foi detectado em 139 pacientes, o equivalente a 5,6% do total. 

O total de óbitos subiu para 11, sendo cinco homens e seis mulheres. Segundo a SES-PE, os pacientes eram moradores do Recife (6), Ipojuca (1), Olinda (1), Goiana (1), Tracunhaém (1) e São Lourenço da Mata (1). 

As idades dos infectados variam entre 1 e 92 anos. As faixas etárias são: 1 a 9 (1), 20 a 29 (1), 30 a 39 (1), 40 a 49 (1), 60 a 69 (5) e 80 e mais (2). 

Ainda de acordo com a pasta estadual, todos os pacientes que faleceram apresentavam comorbidades e possuíam fatores de risco para complicação por influenza como diabetes, doença cardiovascular, doença renal crônica, cardiovasculopatias, hipertensão arterial e sobrepeso.

“As contaminações estão ocorrendo dentro das residências. Então, se você tiver qualquer sintoma de gripe, faça o autoisolamento e coloque a máscara, mesmo estando dentro de casa. Precisamos de uma atenção toda especial com os idosos, as crianças e pessoas com comorbidades severas, que são mais suscetíveis ao agravamento”, destacou André Longo.

O Estado também anunciou um plano de contingência, com a conversão de leitos na rede de saúde para atender pacientes com quadro de Srag. O governo abriu 193 vagas desde a última sexta-feira (24), sendo 36 de UTI. A expectativa para as próximas semanas é de abertura de mais 200 leitos, sendo 128 de terapia intensiva. 

Atualmente, o Estado conta com 1.496 leitos para pacientes com Srag, dos quais 741 são de UTI.
 

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