Equipe de Navalny acusa Rússia de reter seus restos mortais para 'cobrir seus rastros'
Apesar do risco de serem presos, centenas de russos participaram de pequenas concentrações neste sábado (17) para homenagear o famoso detrator do Kremlin
A Rússia manteve o silêncio neste sábado (17) sobre a morte na prisão do opositor do Kremlin Alexei Navalny, cujo entorno acusa as autoridades de reter seus restos mortais para "cobrir seus rastros".
Apesar do risco de serem presos, centenas de russos participaram de pequenas concentrações neste sábado para homenagear o famoso detrator do Kremlin, que morreu ontem em uma prisão no Ártico russo.
Desde a sexta-feira, a polícia prendeu 401 pessoas, segundo a ONG de direitos humanos OVD-Info.
A equipe de Navalny afirmou que as autoridades se negam a entregar o corpo para sua mãe, argumentando que ainda não foi determinada a causa da morte.
"É evidente que os assassinos querem cobrir seus rastros e, por isso, não entregam o corpo de Alexei, escondendo-o inclusive de sua mãe", afirmou o entorno do opositor no Telegram.
A porta-voz de Navalny, Kira Yarmish, afirmou que os investigadores comunicaram ao advogado que os resultados de um novo exame ao qual o cadáver será submetido não estarão disponíveis até a próxima semana.
"É óbvio que estão mentindo e fazendo de tudo para evitar entregar o corpo", acrescentou. "Eles não querem que venha à tona o método que usaram para matar Alexei", disse.
Yarmish também indicou que a mãe de Navalny, Lyudmila Navalnaya, foi notificada com um "documento oficial" de que ele morreu em 16 de fevereiro às 14h17 locais (6h17 em Brasília).
"Alexei Navalny foi assassinado", acrescentou a porta-voz, exilada como muitos dissidentes para evitar a prisão.
Sua morte aos 47 anos, após três anos na prisão, priva uma oposição russa exausta de seu principal nome.
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- Silêncio e poucos detalhes -
O ativista, condenado por "extremismo", cumpria uma pena de 19 anos em uma remota colônia penitenciária do Ártico, após julgamentos, segundo muitas vozes, com motivações políticas.
As autoridades se limitaram a garantir que todos os esforços foram empenhados para reanimar o opositor, cuja saúde ficou debilitada com a prisão, um envenenamento em 2020 e uma greve de fome em 2021.
"O prisioneiro Navalny A.A. sentiu-se mal após uma caminhada e quase imediatamente perdeu a consciência", indicou o serviço penitenciário de Yamal em nota.
O presidente russo Vladimir Putin mantém silêncio desde que foi divulgada a notícia da morte de seu principal opositor, a um mês das eleições presidenciais que, previsivelmente, consolidarão o poder do mandatário.
Assim que soube do falecimento de Navalny, o presidente americano Joe Biden se disse "chocado" e afirmou que o chefe de Estado russo era responsável pela morte, uma mensagem compartilhada por outras lideranças ocidentais.
Os ministros de Relações Exteriores dos membros do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), reunidos em Munique, fizeram um minuto de silêncio por Navalny, indicou o gabinete do chanceler italiano Antonio Tajani.
Na sexta-feira, o Kremlin classificou como "totalmente inaceitáveis" as acusações dos países ocidentais.
- "Não se rendam" -
A China, um aliado cada vez mais importante do Kremlin, não quis comentar a morte de Navalny, alegando que se trata de um "assunto interno da Rússia".
As autoridades russas avisaram à população para que não organizassem nenhuma manifestação.
No entanto, alguns russos se reuniram neste sábado em diversas cidades para depositar flores em monumentos de memória a dissidentes políticos.
Em Moscou, a polícia prendeu pelo menos 15 pessoas, segundo o veículo de informação independente Sota. Pouco depois, jornalistas da AFP testemunharam uma nova prisão.
"Não se rendam!", "Jamais esqueceremos, jamais nos renderemos, a Rússia será livre", diziam as mensagens em folhas de papel espalhadas entre as flores sob o "muro do luto", perto da avenida Sakharov, lugar tradicional de concentrações da oposição e batizada com o nome de um famoso dissidente soviético.
Os tribunais, por sua vez, começaram a proferir as primeiras sentenças para os detidos, que variam até 15 dias de detenção, de acordo com organizações de direitos humanos.
Na quinta-feira, Navalny participou de duas videoconferências com um tribunal da região de Vladimir e não se queixou de seu estado de saúde, segundo a agência estatal de notícias Ria Novosti.
Sua mãe declarou que viu seu filho na segunda-feira "saudável e bem humorado", informou o jornal independente Novaya Gazeta, citando uma postagem no Facebook.
Na prisão, Navalny não deixou de criticar Putin durante as audiências de seus julgamentos e em mensagens difundidas através de sua equipe.
Em seu julgamento por "extremismo", denunciou "a guerra mais estúpida e sem sentido do século XXI", em referência à ofensiva russa na Ucrânia, lançada em 24 de fevereiro de 2022.