Erdogan "esnoba" Blinken e visita de secretário de Estado dos EUA provoca protestos na Turquia
Chefe da diplomacia americana é recebido com frieza, em meio a giro diplomático que tem como principal objetivo evitar que o conflito se espalhe
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, encerrou, nesta segunda-feira (6), mais uma etapa do novo giro diplomático pelo Oriente Médio, com poucos avanços em torno da tentativa de conter a escalada do conflito na região.
Na Turquia, Blinken teve uma recepção pouco calorosa, assim como nas demais paradas da visita. Ele se reuniu com o chanceler turco, Hakan Fidan, no que foi interpretado por observadores internacionais como uma "esnobada" do presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, que sequer estava em Ancara.
Um protesto contra a visita foi organizado em frente à Embaixada dos EUA no país, no domingo. Conforme a agência de notícias estatal Anadolu, embora pequeno, o grupo de manifestantes deu o tom antiamericano das manifestações, aos gritos de “Blinken assassino, fora da Turquia”. A recepção popular a Blinken envolveu ainda outro protesto em frente a uma base aérea americana no sul da Turquia, que terminou em tentativa de invasão do local e confronto com a polícia, informou o jornal britânico The Guardian.
A conversa de Blinken com o homólogo turco durou duas horas e meia, segundo o Departamento de Estado dos EUA. Uma fonte do governo de Ancara indicou à agência de notícias Reuters que Fidan disse ao secretário americano que um cessar-fogo precisa ser declarado com urgência em Gaza e que Israel tem que evitar atingir civis e expulsar a população do enclave.
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A Turquia tem papel-chave em esforços de mediação que envolvam o Hamas. O país, que é integrante da Otan – a aliança militar ocidental encabeçada pelos EUA – recebe altos integrantes do grupo palestino que controla Gaza e não o classifica como terrorista, como já faziam Israel e as potências ocidentais mesmo antes dos ataques terroristas de 7 de outubro.
A intensificação da resposta ao atentado levou Erdogan a elevar o tom das críticas a Israel. O presidente turco também expôs críticas aos EUA e defendeu que as potências ocidentais iniciem negociações para uma saída de longo prazo para o cenário pós-conflito em Gaza.
No domingo (5), em visita surpresa à Cisjordânia, O secretário de Estado dos EUA se reuniu por cerca de uma hora em Ramallah com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas. Na conversa, Blinken afirmou que a ANP deve desempenhar um papel central no futuro de Gaza, enquanto Abbas pediu um cessar-fogo imediato. Desde 2007, quando o Fatah, o grupo político de Abbas, foi expulso de Gaza, a ANP não tem influência na gestão do enclave e, segundo analistas, perdeu boa parte de sua representatividade entre os palestinos da região.
"Pausa humanitária"
A Casa Branca tem evitado aderir ao clamor por um cessar-fogo, argumentando que isso permitiria ao Hamas se reorganizar e voltar a atacar Israel. Blinken tem defendido "pausas humanitárias", temporárias e com o único propósito de fornecer ajuda à população de Gaza, sem que se precise firmar qualquer acordo para a suspensão do conflito. A postura está por trás da resposta fria das lideranças regionais a Blinken, que percebem o engajamento americano como visando a principalmente evitar que a guerra entre Hamas e Israel arraste outros atores para o conflito, principalmente o Hezbollah, no Líbano, e o Irã.
O secretário de Estado dos EUA também visitou o Chipre, neste domingo — onde conversou com o presidente Nikos Christodoulides sobre as propostas cipriotas para a criação de um corredor humanitário marítimo para entregar ajuda à Faixa de Gaza.
Blinken fez ainda uma parada no Iraque, antes de voar para Ancara, no domingo à noite. Em Bagdá, ele afirmou que os EUA vão revidar se ocorrerem ataques de milícias radicais islâmicas iraquianas contra alvos americanos no país. Muitas destas milícias são vinculadas e financiadas pelo regime iraniano. No domingo, o ministro da Defesa do Irã, Mohammad-Reza Ashtiani, ameaçou "atingir duramente" os EUA caso Washington não defenda um cessa-fogo em Gaza junto a Israel. A declaração foi divulgada por uma agência de notícias semi-estatal iraniana.