Logo Folha de Pernambuco

guerra no oriente médio

Erdogan "esnoba" Blinken e visita de secretário de Estado dos EUA provoca protestos na Turquia

Chefe da diplomacia americana é recebido com frieza, em meio a giro diplomático que tem como principal objetivo evitar que o conflito se espalhe

Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, é recebido pelo chanceler turco, Hakan Fidan, em AncaraSecretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, é recebido pelo chanceler turco, Hakan Fidan, em Ancara - Foto: Jonathan Ernst/Pool/AFP

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, encerrou, nesta segunda-feira (6), mais uma etapa do novo giro diplomático pelo Oriente Médio, com poucos avanços em torno da tentativa de conter a escalada do conflito na região.

Na Turquia, Blinken teve uma recepção pouco calorosa, assim como nas demais paradas da visita. Ele se reuniu com o chanceler turco, Hakan Fidan, no que foi interpretado por observadores internacionais como uma "esnobada" do presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, que sequer estava em Ancara.

Um protesto contra a visita foi organizado em frente à Embaixada dos EUA no país, no domingo. Conforme a agência de notícias estatal Anadolu, embora pequeno, o grupo de manifestantes deu o tom antiamericano das manifestações, aos gritos de “Blinken assassino, fora da Turquia”. A recepção popular a Blinken envolveu ainda outro protesto em frente a uma base aérea americana no sul da Turquia, que terminou em tentativa de invasão do local e confronto com a polícia, informou o jornal britânico The Guardian.

A conversa de Blinken com o homólogo turco durou duas horas e meia, segundo o Departamento de Estado dos EUA. Uma fonte do governo de Ancara indicou à agência de notícias Reuters que Fidan disse ao secretário americano que um cessar-fogo precisa ser declarado com urgência em Gaza e que Israel tem que evitar atingir civis e expulsar a população do enclave.

A Turquia tem papel-chave em esforços de mediação que envolvam o Hamas. O país, que é integrante da Otan – a aliança militar ocidental encabeçada pelos EUA – recebe altos integrantes do grupo palestino que controla Gaza e não o classifica como terrorista, como já faziam Israel e as potências ocidentais mesmo antes dos ataques terroristas de 7 de outubro.

A intensificação da resposta ao atentado levou Erdogan a elevar o tom das críticas a Israel. O presidente turco também expôs críticas aos EUA e defendeu que as potências ocidentais iniciem negociações para uma saída de longo prazo para o cenário pós-conflito em Gaza.

No domingo (5), em visita surpresa à Cisjordânia, O secretário de Estado dos EUA se reuniu por cerca de uma hora em Ramallah com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas. Na conversa, Blinken afirmou que a ANP deve desempenhar um papel central no futuro de Gaza, enquanto Abbas pediu um cessar-fogo imediato. Desde 2007, quando o Fatah, o grupo político de Abbas, foi expulso de Gaza, a ANP não tem influência na gestão do enclave e, segundo analistas, perdeu boa parte de sua representatividade entre os palestinos da região.

"Pausa humanitária"
A Casa Branca tem evitado aderir ao clamor por um cessar-fogo, argumentando que isso permitiria ao Hamas se reorganizar e voltar a atacar Israel. Blinken tem defendido "pausas humanitárias", temporárias e com o único propósito de fornecer ajuda à população de Gaza, sem que se precise firmar qualquer acordo para a suspensão do conflito. A postura está por trás da resposta fria das lideranças regionais a Blinken, que percebem o engajamento americano como visando a principalmente evitar que a guerra entre Hamas e Israel arraste outros atores para o conflito, principalmente o Hezbollah, no Líbano, e o Irã.

O secretário de Estado dos EUA também visitou o Chipre, neste domingo — onde conversou com o presidente Nikos Christodoulides sobre as propostas cipriotas para a criação de um corredor humanitário marítimo para entregar ajuda à Faixa de Gaza.

Blinken fez ainda uma parada no Iraque, antes de voar para Ancara, no domingo à noite. Em Bagdá, ele afirmou que os EUA vão revidar se ocorrerem ataques de milícias radicais islâmicas iraquianas contra alvos americanos no país. Muitas destas milícias são vinculadas e financiadas pelo regime iraniano. No domingo, o ministro da Defesa do Irã, Mohammad-Reza Ashtiani, ameaçou "atingir duramente" os EUA caso Washington não defenda um cessa-fogo em Gaza junto a Israel. A declaração foi divulgada por uma agência de notícias semi-estatal iraniana.

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter