Guerra

Escalada com Hezbollah impacta vida de israelenses na fronteira com o Líbano

Confrontos se multiplicaram desde a onda de explosões na semana passada de pagers e walkie-talkies utilizados por membros do grupo xiita, atribuídas a Israel

Bandeira de Israel pendurada em prédio alvo de ataque do Hezbollah em Haifa Bandeira de Israel pendurada em prédio alvo de ataque do Hezbollah em Haifa  - Foto: Jack Guez/AFP

Sirenes de alerta soaram na noite desta segunda-feira na cidade de Haifa, uma das maiores cidades de Israel, perto da fronteira com o Líbano, levando os moradores a buscar segurança nos abrigos antiaéreos diante de mais um ataque do Hezbollah.

Aproximadamente 180 projéteis e um drone entraram no espaço aéreo israelense em várias partes do norte do país, segundo o Exército de Israel, embora a maioria tenha sido interceptada pelo Domo de Ferro, o sistema de defesa aérea israelense, ou caído em áreas abertas.

O ataque ocorre em um contexto de escalada de tensão na região, com trocas de artilharia de ambos os lados, e no mesmo dia em que Israel bombardeou cerca de 1.300 alvos do Hezbollah no sul do Líbano e no Vale do Bekaa, deixando 356 mortos, incluindo mulheres e crianças, e mais de 1.240 feridos.

— Não tenho medo por mim, mas pelos meus três filhos — comentou à AFP Ofer Levy, um funcionário da alfândega de 56 anos, morador de Kiryat Motzkin, no norte de Israel. — Nenhum país pode viver assim.

No domingo, o grupo xiita libanês lançou mais de 100 foguetes, mísseis de cruzeiro e drones em direção ao norte de Israel.

A maioria também foi interceptada pela defesa antimísseis, mas pelo menos um atingiu um bairro residencial em Kiryat Bialik, cidade no distrito de Haifa, incendiando carros, danificando gravemente meia dúzia de casas e quebrando janelas.

Diante do ataque, o Ministério da Saúde de Israel ordenou que hospitais da região transferissem seus pacientes para áreas protegidas, afetando dois centros médicos em Haifa, um em Safed, um em Nahariya, um em Afula, um em Tiberíades e dois hospitais em Nazaré. Além disso, todas as cirurgias eletivas foram canceladas.

Em Haifa, o Hospital Rambam também precisou transferir o atendimento médico para seu estacionamento subterrâneo fortificado, com cirurgias sendo realizadas mediante aprovação, segundo o Times of Israel.

Segundo o New York Times, a ideia de mover o hospital para o subsolo em caso de ataque foi concebida em 2006 — o ano da guerra no Líbano entre o Hezbollah e Israel — e as obras de construção começaram quatro anos depois, de acordo com David Ratner, um porta-voz do hospital.

O Ministério da Educação, por sua vez, determinou o fechamento de escolas em várias localidades no norte, próximas à fronteira com o Líbano, impactando cerca de 500 mil estudantes, segundo o Canal 12. Só o distrito de Haifa tem 110 mil alunos, informou o Times of Israel. Ainda não há informações atualizadas sobre se a suspensão das aulas continuará na quarta-feira.

Além disso, desde sábado reuniões em grupo ficaram limitadas a 10 pessoas ao ar livre e 100 em locais fechados. Locais de trabalho, por sua vez, só podem funcionar se houver abrigos por perto. As regras, em vigor até esta segunda-feira, são mais rigorosas que as anteriores, que permitiam maiores encontros.

Em torno da Faixa de Gaza, as restrições são

"Mau pressentimento"
Cerca de 45 mil pessoas vivem em Kiryat Bialik, uma comunidade com laranjeiras carregadas nos subúrbios ao norte de Haifa. Os moradores de lá diziam se sentir vulneráveis mesmo antes do ataque de domingo.

— Tive um mau pressentimento de que o próximo passo seria lançar foguetes mais profundamente do que os que vimos até agora — disse Yana Klibaner, 40, uma consultora de turismo que mora numa rua atingida por um míssil.

Klibaner estava deitada na cama nas primeiras horas da manhã de domingo, ouvindo as explosões se aproximando.

Ela finalmente se levantou "pouco antes das sirenes soarem", disse ela, pegou seus dois filhos mais novos e correu com sua filha mais velha para o abrigo antiaéreo em sua casa.

— Vidros se estilhaçaram ao nosso redor e sentimos a explosão vindo da rua — disse ela.

Por causa das sirenes de alerta, a maioria dos moradores conseguiu chegar a abrigos subterrâneos ou salas seguras e apenas três pessoas precisaram de tratamento hospitalar, de acordo com um porta-voz do Hospital Rambam.

Em Kiryat Bialik, no domingo, havia uma sensação de pressentimento, mas também de resignação, quanto à possibilidade de mais ataques. Alguns moradores, como Klibaner, pareceram críticos à abordagem do governo.

— Sinto que Israel está prolongando isso em vez de dar esperança aos seus cidadãos e trazer os reféns de volta — disse ela.

Mas outros, como Malka Barabi, uma professora de jardim de infância de Kiryat Motzkin, disseram:

— É hora de Israel agir com mais poder agora e o governo terá mais apoio do público por causa do sofrimento contínuo na área norte, e porque viver nessas condições se tornou impossível.

Para alguns moradores, o ataque foi um lembrete preocupante da guerra de 2006 entre o Hezbollah e Israel, na qual Haifa e seus subúrbios foram alvos. Durante o conflito, 43 civis em Israel foram mortos por disparos de foguetes do Hezbollah, de acordo com um relatório da Human Rights Watch com base em informações da polícia israelense. Treze foram mortos somente em Haifa, e mais de 250 pessoas ficaram feridas. No Líbano, mais de 1.100 civis foram mortos e milhares ficaram feridos por ataques israelenses durante o conflito, de acordo com um relatório separado da Human Rights Watch.

Entenda a escalada
O Hezbollah, um poderoso ator político e militar no Líbano, abriu uma frente na fronteira com Israel após o início da guerra na Faixa de Gaza, que eclodiu após o ataque terrorista do Hamas, que governo o enclave palestino desde 2007. Um dia após o ataque, o Hezbollah lançou uma série de mísseis e artilharia contra o território israelense em demonstração de "solidariedade" ao povo palestino.

Os dois grupos são aliados e integram o chamado Eixo da Resistência, armado e financiado pelo Irã. Desde outubro, a troca de agressões na fronteira é diária, e o Hezbollah afirma que só vai suspender as hostilidades contra Israel quando um cessar-fogo em Gaza for obtido.

Os confrontos entre o Hezbollah e o Exército israelense se multiplicaram desde a onda de explosões na semana passada de pagers e walkie-talkies utilizados por membros do grupo xiita, atribuídas a Israel, que não se pronunciou, e que deixaram 39 mortos e quase 3 mil feridos em redutos do movimento islamista no Líbano, segundo as autoridades.

O Hezbollah respondeu com força. Centenas de foguetes foram disparados de diferentes pontos do sul do Líbano contra o norte de Israel, forçando as autoridades do Estado judeu a fecharem o espaço aéreo de parte do país no fim de semana e emitirem restrições de segurança para a população civil.

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