Especialistas defendem adoção de medidas mais duras contra o coronavírus em Pernambuco
Em meio a anúncios de toques de recolher no Nordeste, Estado tem taxa de ocupação de leitos de UTI beirando os 90%.
A três dias de completar um ano no Brasil, a pandemia de Covid-19 continua a se espalhar em níveis altos pelo País, incluindo o Nordeste. Desde a semana passada, diante da subida nas taxas de ocupação de leitos e da confirmação de casos gerados por mutações do novo coronavírus, governos de estados vizinhos de Pernambuco anunciam medidas mais rigorosas para tentar controlar a transmissão da doença.
Enquanto o Ceará, a Bahia e a Paraíba decretam toque de recolher, entre outras restrições, o Rio Grande do Norte recomenda aos municípios que limitem o horário de funcionamento de bares e restaurantes. Já por aqui, a última medida restritiva anunciada até agora foi a prorrogação da proibição de som em estabelecimentos que possam gerar aglomerações.
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Isso não significa, porém, que a situação esteja mais tranquila no Estado do que nos outros lugares. Com uma taxa de ocupação dos leitos de UTI beirando os 90%, Pernambuco tem o segundo maior índice dentre os cinco estados, ficando atrás apenas do Ceará (veja no infográfico abaixo).
Também no âmbito municipal, há exemplos de ações tomadas em cidades como Nazaré da Mata, na Mata Norte, e Araraquara (SP), que chegou a decretar “lockdown total” por 60 horas. Especialistas ouvidos pela reportagem defendem que medidas mais duras sejam adotadas.
Segundo Jones Albuquerque, pesquisador do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o toque de recolher, historicamente usado para evitar incêndios a lamparina, não seria a solução para o controle de uma pandemia, sendo necessário que venha acompanhado de outras estratégias.
“[O toque de recolher] serve como alerta à sociedade, mas existem maneiras mais eficazes. A gente deveria sinalizar as cidades [com orientações preventivas] e ficar em casa”, afirma.
Já o epidemiologista Rafael Moreira, pesquisador do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz-PE) e professor do curso de Medicina da UFPE, considera que toda ação no sentido de conter a circulação de pessoas ajuda a reduzir a transmissibilidade do vírus.
“Se, no início da pandemia, tivemos uma maior rigidez nessas medidas de restrição à circulação humana, agora, com essas variantes, é necessário um maior engajamento do poder público e da consciência das pessoas para evitar a circulação desnecessária”, diz.
Em meio a uma campanha de vacinação que segue em ritmo lento, o temor é que a imunização não dê conta de frear o avanço da pandemia.
“Na Europa, países com populações bem menores que o Brasil e que começaram a vacinar antes estão fazendo barreiras e lockdowns durante a própria vacinação”, lembra o professor Rafael Moreira.
“Estamos vacinando a conta-gotas enquanto o vírus está mutando. Teríamos que criar um mecanismo [de vacina] que abarcasse todas as variantes, e isso é muito complicado”, alerta o pesquisador Jones Albuquerque.
Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que o Governo de Pernambuco monitora permanentemente a evolução da Covid-19 no Estado e salientou que as medidas para conter o vírus são sempre proporcionais ao momento epidemiológico.