Especialistas questionam segurança de muro de concreto que abriga localizador no aeroporto
A estrutura de concreto foi construída no ano passado, após uma atualização no equipamento
Especialistas em aviação da Coreia do Sul passaram a questionar a segurança sobre a existência de um muro de concreto no fim da pista do aeroporto de Muan, onde 179 pessoas morreram neste domingo após um avião sem trem de pouso não conseguir frear. O principal questionamento é se o número de vítimas poderia ter sido muito menor caso a pista tivesse uma área de escape livre.
Com apenas dois sobreviventes das 181 pessoas a bordo, esse é o acidente aéreo mais mortal da História do país, que tem altos níveis de segurança na aviação. A maioria das vítimas estava voltando do Natal. O governo decretou um período de luto nacional para o país nos próximos sete dias.
Segundo a agência de notícias local Yonhap, a estrutura de concreto abriga um sistema de navegação que auxilia no pouso de aeronaves, conhecido como localizador, e está localizado a cerca de 250 metros do final da pista. A estrutura de dois metros de altura está coberta de terra e, incluindo o localizador, tem quatro metros de altura.
Leia também
• Coreia do Sul lança inspeção em seu Boeing 737-800 após o pior desastre aéreo de sua história
• O que se sabe até agora sobre recentes acidentes aéreos no Brasil, Coreia do Sul e Cazaquistão
Autoridades do aeroporto disseram que a estrutura foi elevada para manter o localizador nivelado com a pista e garantir que ele funcione corretamente, já que o solo no final da pista é inclinado. De acordo com a agência, a estrutura de concreto foi construída no ano passado, após uma atualização no equipamento.
“Já vi muitas antenas em muitos aeroportos, mas é a primeira vez que vejo um tipo assim. Mesmo que você queira deixar a antena mais alta, não há necessidade de construir um muro de concreto”, disse um piloto em anonimato à Yonhap.
Segundo o Ministério dos Transportes da Coreia do Sul, o localizador está instalado a cerca de 251 metros da pista e que alguns outros aeroportos do país também têm o equipamento instalado com proteção de estruturas de concreto. O órgão também destacou outros aeroportos no exterior que usaram concreto para tais estruturas.
O que aconteceu?
O voo 2216 da Jeju Air, procedente de Bangkok e com 181 pessoas a bordo, caiu ao aterrissar no aeroporto de Muan, cerca de 290 quilômetros ao sul da capital Seul, às 9h03 deste domingo (21h03 de sábado em Brasília), de acordo com o Ministério dos Territórios.
O avião emitiu uma mensagem de socorro após uma primeira tentativa de aterrissagem, durante a qual a torre de controle avisou a tripulação que a aeronave havia sido atingida por pássaros.
Um vídeo transmitido pela emissora sul-coreana MBC mostra o avião pousando com fumaça saindo dos motores, aparentemente sem o trem de pouso. O avião derrapa na pista e é engolido pelas chamas.
Um passageiro avisou a sua família por mensagem de texto que um pássaro colidiu com a aeronave, segundo a agência de notícias local News1. "Um pássaro ficou preso na asa, e não conseguimos pousar", dizia a vítima na mensagem.
Os pilotos da aeronave foram alertados pela torre de controle sobre o risco de colisão com pássaros antes de tentar pousar, segundo o Ministério dos Transportes sul-coreano. A agência Yonhap informou que testemunhas relataram ter visto o motor da aeronave pegando fogo e ouviram várias explosões antes do pouso.
Quantas pessoas estavam no avião?
Havia 175 passageiros, incluindo dois tailandeses, e seis membros da tripulação. Das 181 pessoas a bordo, há dois sobreviventes e 179 mortos. De acordo com o site especializado Flightradar, o avião, um Boeing 737-800, havia entrado em serviço em 2009.
Qual é a causa do acidente?
A causa exata do acidente só será anunciada após uma investigação conjunta. Mas o chefe dos bombeiros de Muan, Lee Jeong-hyun, afirmou que provavelmente um ataque de pássaros, combinado com condições climáticas adversas, teria sido responsável pela queda.
Relatórios iniciais da agência de notícias Yonhap, da Coreia do Sul, indicaram uma “falha no trem de pouso”. De acordo com a mesma fonte, o avião aterrissou sem acionar o trem de pouso e explodiu em chamas quando atingiu uma cerca no final da pista.
Ambas as caixas-pretas — o gravador de dados de voo e o gravador de voz da cabine de comando — do voo foram encontradas, disse o vice-ministro dos Transportes, Joo Jong-wan, neste domingo.
— Com relação às caixas-pretas, tanto o gravador de voz da cabine de comando quanto o gravador de dados de voo já foram recuperados — afirmou durante uma entrevista coletiva.
Outro desastre: Presidente do Azerbaijão acusa Rússia de atirar em avião antes da queda e exige que Moscou admita a culpa
Quais são os perigos das colisões com pássaros?
A colisão com pássaros pode causar grandes danos ao motor ou ao para-brisa e é a causa de muitos acidentes aéreos. Na maioria dos casos, esse tipo de colisão ocorre durante a decolagem ou o pouso, quando os motores estão a todo vapor.
Um dos casos mais famosos ocorreu em 2009, quando o piloto de um Airbus A320 da US Airways, com 155 ocupantes, conseguiu pousar no Rio Hudson, em Nova York, após uma colisão desse tipo.
O Aeroporto Internacional de Muan registra a maior taxa de colisões com aves na Coreia do Sul, segundo o jornal Guardian. De 2019 até agosto deste ano, foram relatados 10 incidentes envolvendo pássaros no local. A localização do aeroporto, próxima a campos e áreas costeiras, favorece a presença de aves.
Outros acidentes aéreos
Esse é o primeiro acidente fatal na história da Jeju Air, fundada em 2005. Em 12 de agosto de 2007, um Bombardier Q400 de sua frota, transportando 74 pessoas, saiu da pista no aeroporto de Busan-Gimhae (sudeste), ferindo levemente uma dúzia de pessoas.
Antes dessa tragédia, o acidente aéreo mais grave ocorrido na Coreia do Sul foi o de um Boeing 767 da Air China proveniente de Pequim, que caiu em uma encosta próxima ao aeroporto de Busan-Gimhae, deixando 129 pessoas mortas.