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Vacinação

Especialistas tiram dúvidas sobre o uso da CoronaVac em crianças

O infectologista Filipe Prohaska eo pediatra Eduardo Jorge Fonseca falaram sobre o tema

Representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) no comitê estadual de vacinação, Eduardo Jorge da FonsecaRepresentante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) no comitê estadual de vacinação, Eduardo Jorge da Fonseca - Foto: Douglas Fagner/SEI

Com a autorização do uso da Coronavac para a vacinação de crianças de 6 a 11 anos pelo Governo do Estado, municípios pernambucanos têm ampliado o esquema de imunização do público infantil. Ontem, as prefeituras do Recife e Paulista iniciaram a vacinação contra Covid-19 em crianças com 8 anos ou mais e a Prefeitura de Camaragibe anunciou a liberação para a faixa etária de 5 a 11 anos.

Após a autorização do uso da Coronavac para o público infantil, pais e responsáveis apresentaram dúvidas quanto à imunização das crianças. A reportagem da Folha de Pernambuco conversou com o infectologista Filipe Prohaska, do Hospital Oswaldo Cruz, e com o pediatra Eduardo Jorge Fonseca, vice-presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco e representante regional da Sociedade Brasileira de Imunizações, que atestaram a segurança e a eficácia do imunizante e responderam as dúvidas mais comuns.
  
A aplicação da Coronavac em crianças é eficaz e segura?
 
Filipe Prohaska: A Coronavac é de uma tecnologia que a gente chama de vírus morto e, historicamente, é utilizada em crianças com excelente segurança. Todas as vacinas de vírus de coroa, como sarampo e rubéola, utilizadas hoje no PNI [Programa Nacional de Imunizaçõe], são dessa tecnologia. A Coronavac é uma vacina que tem uma alta taxa de eficiência para impedir a morte e os casos graves e uma taxa próxima dos 50% para impedir a doença. Ela é muito efetiva quando se fala de diminuir os sintomas também, com uma taxa considerável para impedir sinais da doença.
 
Eduardo Jorge Fonseca: O estudo que fez com que a Anvisa autorizasse a Coronavac para uso das crianças de 6 a 17 anos foi muito baseado no Chile onde as duas vacinas foram utilizadas simultaneamente, a CoronaVac e a Pfizer pediátrica, ou seja, uma situação muito parecida  com a nossa. Verificou-se que a vacina tem uma capacidade de reduzir internamentos hospitalar por Covid de 87% no mínimo. Em relação à segurança, é uma vacina que utiliza uma plataforma conhecida há muitos anos, que a gente chama de vacina inativada. É igual à vacina da gripe, à vacina de hepatite A. Especificamente os trabalhos de acompanhamento de eventos adversos da vacina da Coronavac em pediatria demonstraram que a imensa maioria dos eventos adversos são leves e locais, então dá uma dor local, uma vermelhidão no local da aplicação, com muito raro algum evento mais importante. Estudos comprovam que a Coronavac tanto é segura como eficaz na prevenção de Covid em pediatria.

O fato de ser a mesma usada em adultos apresenta algum risco?
 
Filipe Prohaska: Não, porque a programação dela é o conteúdo do DNA viral. Então, se você apresenta a quantidade do DNA viral, não tem interferência na questão da imunidade para criança, então não há problema de se usar tanto para adulto quanto para criança.
 
Eduardo Jorge Fonseca: Não. Isso na verdade, do ponto de vista do acesso, foi muito mais fácil, nós já tínhamos essa vacina nos municípios. O Butantã estudou três apresentações diferentes para perceber qual daria melhor nível de anticorpos mantendo a segurança. Então, foi só com uma dosagem plena, a mesma que se usa em adultos, que a soroconversão foi melhor e não aumentaram os eventos adversos, tendo sido capaz de fazer a mesma vacina em crianças e adolescentes.. A gente chama atenção que hoje a vacina da gripe também é a mesma usada em crianças e adultos.
 
Por que ela não deve ser aplicada em imunossuprimidos?
 
Filipe Prohaska: No momento, a contraindicação da Coronavac é para pacientes imunossuprimidos porque o estudo de liberação pediátrico não incluiu os pacientes imunossuprimidos. Provavelmente no futuro vão ter estudos que vão liberar, sim, o uso dessa vacina para pacientes imunossuprimidos porque, historicamente, nós fazemos vírus morto para pacientes imunossuprimidos. Porém, como o estudo atual não incluiu os imunossuprimidos, por enquanto eles não estão inclusos, mas acredito que seja uma questão de tempo para esse público ser adicionado. Não há contra indicação, apenas a liberação no momento não inclui os imunossuprimidos por falta de estudos.
 
Eduardo Jorge Fonseca: Os imunodeprimidos, ou imunossuprimidos, não tiveram o quantitativo de pacientes suficiente para a gente dizer que a Coronavac é eficaz nos pacientes imunodeprimidos. Não houve quantitativo de pacientes suficiente para que a gente diga que pode ser usada neste grupo. Como esta é uma população que faz quadro grave de Covid, precisava ter estudos específicos em imunodeprimidos para ela poder ser aprovada. Então, por não ter estudos nesse grupo, optou-se por não autorizar. E, para esse grupo, só a vacina da Pfizer, que tem estudos em pacientes pediátricos imunodeprimidos, que mostraram que funcionou bem.

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Caso a criança tenha tido Covid recentemente, quanto tempo esperar para tomar a vacina? 
 
Filipe Prohaska: O que tem estabelecido atualmente é que se faça a vacina 30 dias após o primeiro sintoma de Covid.
 
Eduardo Jorge Fonseca: O Brasil optou por 30 dias do início dos sintomas, logicamente se a criança estiver bem. Alguns países não fazem restrição e em outros esse intervalo é maior, de quatro ou cinco meses.
 
Os pais não precisam ter receio em vacinar as crianças com a Coronavac?
 
Filipe Prohaska: Não precisa ter receio. É uma vacina extremamente segura por causa dessa tecnologia que é utilizada. Hoje, as vacinas de vírus morto, como a Coronavac, são os modelos mais seguros de imunização para adultos e crianças. 
 
Eduardo Jorge Fonseca: Todos os remédios, todas as vacinas, têm eventos adversos. Eu diria que entre riscos e benefícios disparadamente o benefício ganha. Coloca na balança os benefícios da proteção da Covid de doença aguda, da Covid longa, da possibilidade de a criança ter a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica, da criança poder voltar a escola presencial de forma mais segura, da criança contribuir para redução da circulação do vírus da comunidade. Eu não tenho a menor dúvida que, entre risco e benefício: vacina sim, vacina sempre.

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