FAIXA DE GAZA

Esperança de reduto seguro durante a guerra, Khan Younis tem fuga de civis em meio a cerco de Israel

Cidade que tinha cerca de 400 mil habitantes antes da guerra recebeu maior parte dos deslocados do norte do país

Soldados israelensesSoldados israelenses - Foto: Jalaa Marey/AFP

Cercada pelo Exército de Israel e palco de combates descritos como “mais intensos” da guerra até o momento, a cidade de Khan Younis retrata como poucas o drama do lado palestino do conflito em Gaza. Refúgio para muitos dos deslocados internos nos primeiros dias da invasão israelense no norte, a maior área urbana do sul do enclave transformou-se em um beco-sem-saída para muitos dos que viam ali uma chance de sobreviver ao conflito sem abandonar o solo palestino.

As ruas da cidade estavam praticamente vazias na manhã desta quarta-feira, após serem cenário do dia de combates mais intensos da guerra, segundo o chefe do Comando Sul do Exército de Israel, o major-general Yaron Finkelman. Os hospitais emitiram alertas de superlotação com chegada de cada vez mais feridos.

O comando militar israelense afirmou ter cercado Khan Younis na terça-feira, no que parece ter se convertido em uma disputa rua a rua, edifício por edifício. A região é onde fica o endereço oficial de Yahya Sinwar, líder do Hamas. De acordo com o canal de TV saudita Al-Arabiya, o local estaria cercado.

— Asseguramos muitos redutos do Hamas no norte da Faixa de Gaza e agora operamos contra os seus redutos no sul — disse o comandante israelense Herzi Halevi, na noite de terça-feira.

Principal cidade do sul de Gaza, Khan Younis era um importante centro comercial, fundado em um ponto de parada de uma antiga rota de comércio para o Egito. Próximo ao centro urbano, fica um campo de refugiados de mesmo nome. A cidade tinha uma população estimada em 400 mil pessoas antes do início da guerra. O campo de refugiados, de 88 mil palestinos registrados, de acordo com a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA).

Após o ataque terrorista liderado pelo Hamas, em 7 de outubro, e a declaração de guerra pelo lado israelense, o comando militar do Estado judeu fez um ultimato a cidadãos palestinos no norte de Gaza, afirmando que toda a região ao norte do Rio Wadi Gaza não seria segura em função da operação militar. A ONU estima que 400 mil dos 1,1 milhão de habitantes do norte do enclave deixaram suas casas nos dias seguintes.

Parte significativa da massa de deslocados procurou abrigo em Khan Younis, o principal centro urbano da região — localizado estrategicamente ao fim da Rodovia Salah al-Din, estabelecida por Israel como rota segura de fuga, embora tenha realizado ataque no local durante o prazo para retirada. Estimativas do governo de Gaza, administrado pelo Hamas, e de organizações internacionais apontam que o número de habitantes mais do que duplicou, chegando a 1 milhão no decorrer da guerra.

Embora nunca tenha saído da mira israelense, com bombardeios sendo registrados ao longo dos meses — em ataques que Israel justificou como direcionados a alvos do Hamas — a situação parece ter chegado a um ápice nesta semana, com a chegada da campanha militar terrestre ao sul.

— Estávamos no centro de Khan Younis. A cidade inteira sofre destruições e bombardeios incessantes. Há muitas pessoas lá que chegam do norte em condições desastrosas, sem refúgio, em busca de seus filhos — disse Hassan al Qadi, morador de Khan Yunis e um dos milhares de palestinos que fugiram para Rafah nesta semana.

O Exército israelense envia mensagens diárias a Khan Younis com alertas de bombardeio e instando a população a abandonar os seus bairros, em uma tentativa de diminuir as vítimas civis do conflito. A medida, contudo, é considerada insuficiente por observadores internacionais.

— A situação humanitária é catastrófica — disse o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk. — Os palestinos em Gaza vivem em um horror absoluto que só piora.

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) classificou a distribuição de ajuda em Gaza como “quase impossível” e o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) afirmou que a ajuda só chega, e em quantidade limitada, à cidade de Rafah.

— Nenhum lugar é seguro em Gaza — criticou o chefe humanitário da ONU, Martin Griffiths. — Nem os hospitais, nem os abrigos, nem os campos de refugiados. Ninguém está seguro.

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