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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

"Espero que eu sobreviva", brincou brasileiro antes de ir à rave onde 260 foram mortos pelo Hamas

De volta ao Brasil um mês depois de sobreviver ao ataque terrorista em Israel, Rafael Birman revela, em entrevista ao GLOBO, detalhes sobre o evento, que quase desistiu de ir

Rafael Birman, brasileiro que sobreviveu ao ataque terrorista do Hamas em rave em Israel Rafael Birman, brasileiro que sobreviveu ao ataque terrorista do Hamas em rave em Israel  - Foto: Reprodução/Instagram

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De volta ao Brasil, o analista bancário Rafael Birman, sobrevivente do ataque terrorista do Hamas a uma rave em Israel em 7 de outubro, revelou ao jornal O Globo detalhes da tragédia que mudou sua vida.

Em entrevista por telefone, o paulista de 30 anos disse que já estava apreensivo com o evento dias antes, sem motivo aparente, e por muito pouco não desistiu de ir. Ao chegar na festa, um detalhe — visto hoje com outros olhos — foi, para ele, um sinal de que o pior estava por vir.

Nesta quinta-feira, Birman contará sua história no Memorial do Holocausto, em São Paulo, durante a cerimônia de 85 anos da "Noite dos Cristais", como ficou conhecido o início da perseguição aos judeus na Alemanha e na Áustria, em 1938. Um período sombrio da História que, segundo ele, mostra como a violência contra o povo judeu "é algo que vem de muitos anos".

Pressentimento ruim
Rafael Birman quase faltou ao dia que transformaria sua vida para sempre e, por pouco, não foi seu último. Há 5 anos morando em Tel Aviv e acostumado com a agitada noite israelense, ele havia comprado com três meses de antecedência, por indicação da cunhada, o ingresso para a rave "Supernova Sukkot", que receberia uma edição especial do festival brasileiro "Universo Parallelo" organizado pelo pai do Alok, o também DJ Juarez "Swarup" Petrillo. Mas ela mesma desistiu de ir, e quase todos os seus amigos também. Até a data do evento, Birman ainda não tinha certeza se apareceria na festa — que só divulgou a localização exata, a menos de 20 quilômetros da Faixa de Gaza, 1h antes.

"Eu estava com ansiedade sobre essa festa já alguns dias antes", afirma, dizendo que pensou em desistir na véspera, mas foi convencido por seu amigo, o carioca Nathan Obadia. "A gente não sabia onde ia ser porque só divulgam o endereço uma hora antes do evento para evitar possíveis ataques terroristas. [Divulgar] a informação de um grupo aglomerado de judeus nunca é uma boa ideia".

Birman chegou a brincar, em um áudio enviado a uma amiga, quando descobriu que o evento seria perto do enclave palestino: "espero que eu sobreviva", disse, acrescentando que só foi porque duas amigas conheciam o local. Ao chegar no evento, no deserto de Negev, por volta das 2h da manhã, Birman ficou intrigado com o comportamento de um funcionário da festa.

"Eu sou uma pessoa muito comunicativa, então eu sempre dou 'oi', pergunto para as pessoas se está tudo bem. Eu falei com o menino que estava auxiliando no estacionamento e eu vi na cara dele que ele estava muito nervoso", afirma, explicando que o trabalhador, assim como a maior parte dos profissionais da organização, era árabe. "Eu acredito que eles já tinham informações do que iria acontecer".

Às 6h, o barulho de mísseis e tiros começou e a música parou. O paulista estava na mesma barraca que outros brasileiros — como Ranani Glazer e Bruna Valeanu, que morreram na festa — e Rafael Zimerman, que conseguiu escapar. Dos 1,4 mil mortos no dia do ataque, 260 estavam na festa.

"A primeira coisa que me veio à cabeça é que eu iria morrer, então eu mandei um áudio para a minha mãe falando que estava no meio de um tiroteio e que, se alguma coisa acontecesse, eu a amava".

Segundo ele, os seguranças do evento recomendaram às pessoas no local que aguardassem o fim dos ataques aéreos, que costumam ser interceptados pelos sistemas de defesa israelenses, mas o brasileiro, por "instinto de sobrevivência", correu com os amigos.

"As pessoas que esperaram ali 10 minutos a mais ou tentaram guardar a barraca acabaram sendo mortas pelo Hamas. Eu fui um dos primeiros a sair, eu não esperei aquele congestionamento do estacionamento, entrei com o carro no gramado e saí do caminho convencional", relembra. "Na estrada, eu me deparei com o carro de uma menina que tinha sido atacada, totalmente ensanguentada, gritando 'terroristas!'"

Birman mudou a rota e seguiu rumo ao sul, mas foi encurralado por terroristas do Hamas, que começaram a atirar no veículo. "Por um milagre", cinco soldados das Forças Armadas de Israel chegaram e revidaram os ataques. Nenhum dos passageiros do carro foi atingido, mas um dos militares ficou ferido e teve a perna amputada.

O dia seguinte
O paulista e seus amigos pegaram carona com os militares até uma cidade vizinha no sul do país, onde foram abrigados por um morador, e só então foram descobrindo a proporção da tragédia. Dois dias após o ataque, a mãe e a irmã do jovem, também brasileiras, decidiram retornar ao Brasil, embarcando no segundo voo de repatriação da Força Aérea Brasileira (FAB). Birman, no entanto, relutou à ideia de início.

"Elas foram embora e eu fiquei sozinho em casa, mas estava com muita ansiedade. Eu saía na rua para comprar uma coisa básica no supermercado e ficava muito nervoso, com medo deles [os terroristas do Hamas] invadirem por terra", conta. "Depois de sofrer tanta ansiedade, eu decidi que era melhor sair um pouco de Israel. Avisei no trabalho que ia tirar um tempo e fui para Lisboa, em Portugal. Comecei a passar um tempo sozinho, apreciar as pequenas coisas que às vezes a gente não aprecia. Eu estava feliz só por estar respirando".

Depois de viajar um tempo pela Europa, o paulista chegou em 1º de novembro a São Paulo a pedidos da família e amigos. Ele conta que já fazia acompanhamento psicológico antes da tragédia e continua, como uma forma de lidar com o trauma. No Brasil por tempo indeterminado, Birman afirma que quer voltar para Israel quando a situação estiver mais estável:

"Eu construí uma vida lá".

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