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Saúde

Esporotricose: casos da doença transmitida por cães e gatos crescem mais de 260% no RJ em 10 anos

Crianças e adolescentes são os mais afetados; Falta de políticas públicas para controlar a disseminação do fungo ajudou na disseminação da enfermidade

Cães e gatos contaminados podem transmitir a doença Cães e gatos contaminados podem transmitir a doença  - Foto: Freepik

Os casos de esporotricose no estado do Rio de Janeiro tiveram uma alta de 260% em uma década, segundo a Secretaria estadual de Saúde do Rio. Eram 579 ocorrências em 2013 contra 1518 contabilizados até o fim do ano passado.

O destaque maior ficou entre crianças e adolescentes — em menores de 15 anos o número de casos saltou de 26, em 2013, para 196, em 2022, uma alta de 750%.

A esporotricose é uma doença de pele causada pelo fungo Sporothrix sp., que é encontrado no solo e em vegetais. A doença é de notificação compulsória, ou seja, comunicação obrigatória à autoridade de saúde, realizada pelos médicos, profissionais de saúde ou responsáveis pelos estabelecimentos de saúde, públicos ou privados, sobre a ocorrência de suspeita ou confirmação.

A transmissão no Brasil ocorre principalmente por meio de cães e gatos infectados pelo fungo que podem transmitir para seus donos e outros animais domésticos. Além disso, ele pode entrar pela pele, por arranhões ou cortes, em contato com materiais contaminados, como gravetos, farpas ou espinhos.

— Temos o Rio de Janeiro como epicentro, com uma situação de hiperendemia de esporotricose zoonótica, desde a década de 1990, transmitida por gatos, que já se espalhou para outras regiões do país e países vizinhos — explica a dermatologista Regina Schechtman, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio de Janeiro (SBDRJ).

Segundo o Ministério da saúde, existem quatro tipos da doença. São elas:

Esporotricose cutânea: caracteriza-se por uma ou múltiplas lesões, localizadas principalmente nas mãos e braços;

Esporotricose linfocutânea: é a forma clínica mais frequente; são formados pequenos nódulos, localizados na camada da pele mais profunda, seguindo o trajeto do sistema linfático da região corporal afetada. A localização preferencial é nos membros;

Esporotricose extracutânea: quando a doença se espalha para outros locais do corpo, como ossos, mucosas, entre outros, sem comprometimento da pele;

Esporotricose disseminada: acontece quando a doença se dissemina para outros locais do organismo, com comprometimento de vários órgãos e/ou sistemas (pulmão, ossos, fígado).

O fungo também pode invadir o sistema linfático, além dos ossos, e afetar os olhos, o nariz, os pulmões e até o sistema nervoso. Pessoas que vivem com HIV, diabetes, transplantados ou com outras condições imunossupressoras podem apresentar formas graves da doença, sendo necessário, em alguns casos, até mesmo a internação.

O dermatologista e coordenador do Departamento de Micologia da SBDRJ, Eduardo Falcão, ressalta que é preciso uma atenção especial das autoridades ao aumento dos casos em crianças:

— Elas ficam muito próximas dos gatos, abraçam, dão beijos. Por isso, é muito mais comum terem esporotricose no rosto, olho e nariz. A cicatriz no rosto pode atrapalhar a vida social das crianças e trazer grandes impactos.

Sintomas
Em cães e gatos, os sintomas mais comuns são feridas profundas na pele, geralmente com pus, que não cicatrizam e costumam evoluir rapidamente e espirros frequentes.

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Nos humanos, a esporotricose aparece após a contaminação do fungo na pele. O desenvolvimento da lesão inicial é bem similar a uma picada de inseto, podendo evoluir para cura espontânea. Em casos mais graves, quando o fungo afeta os pulmões, podem surgir tosse, falta de ar, dor ao respirar e febre.

Caso o fungo afete os ossos e articulações, os sintomas surgem como um inchaço ou dor ao realizar os movimentos, bastante semelhantes ao de uma artrite infecciosa. As formas clínicas da doença vão depender de fatores como o estado imunológico do indivíduo e a profundidade da lesão.

O período de incubação também é variável, de uma semana a um mês, podendo chegar a seis meses após a inoculação, ou seja, a entrada do fungo no organismo humano.

Transmissão e causas
Os indivíduos geralmente adquirem a infecção pela implantação do fungo na pele ou mucosa por meio de um trauma decorrente de acidentes com espinhos, palha ou lascas de madeira; contato com vegetais em decomposição; ou arranhadura ou mordedura de animais doentes, sendo, o gato, atualmente, o principal transmissor da doença, protagonista da Esporotricose de Transmissão Felina (ETF).

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Porém, é importante ressaltar que os gatos não são culpados pela esporotricose. Estima-se que a falta de políticas públicas para controlar a disseminação do fungo, como a castração e o tratamento dos gatos, permitiu o espalhamento da esporotricose.

Outra causa estudada é a degradação do meio ambiente ao longo dos anos, com ocupação do solo, desmatamento e construção de moradias, provocando uma desorganização de ecossistemas que antes estavam em equilíbrio e expondo animais e seres humanos a novos patógenos.

O ministério da saúde recomenda que as pessoas evitem a exposição direta ao fungo, usando luvas e roupas de mangas longas em atividades que envolvam o manuseio de material proveniente do solo e plantas, bem como o uso de calçados em trabalhos rurais.

Além disso, o órgão diz que os indivíduos com lesões suspeitas de esporotricose devem procurar atendimento médico nos após o surgimento dos primeiros sintomas para investigação, diagnóstico e tratamento.

“Animais com suspeita da doença não devem ser abandonados, assim como o animal morto não deve ser jogado no lixo ou enterrado em terrenos baldios, pois isso manterá a contaminação do solo. Recomenda-se a incineração do corpo do animal, de maneira a minimizar a contaminação do meio ambiente e, assim, interromper o ciclo da doença”, diz o Ministério.

Tratamento
Apesar de preocupante, a esporotricose tem cura tanto para humanos quanto para os gatos e outros animais a partir de medicamentos anti-fúngicos. O tratamento deve ser realizado após a avaliação clínica, com orientação e acompanhamento médico. A duração do tratamento pode variar de três a seis meses, ou mesmo um ano, até a cura do indivíduo.

Em crianças, pode ser um pouco mais delicado, pois as doses das medicações variam com o peso e existem poucas opções no mercado para crianças pequenas.

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