Essa ilha paradisíaca na Austrália recebe apenas 400 turistas por vez; entenda o porquê
Há cerca de quarenta anos as acomodações dentro da ilha são reduzidas para evitar muitos turistas
Um oceano com águas cristalinas, natureza abundante e viva, e cerca de 380 habitantes. Pode parecer uma descrição do paraíso, mas é da Ilha de Lord Howe, localizada no estado de Nova Gales do Sul, na Austrália.
A ilha é considerada patrimônio mundial da humanidade pela UNESCO desde 1982 e carrega consigo um fato curioso: apenas 400 turistas são permitidos a visitá-la por vez.
Para isso, todos os estabelecimentos para acomodação da ilha fixam o número de leitos disponíveis para os visitantes. Estes cuidados são tomados para preservar a fauna e a flora do local, que vinha sendo degradada desde o início da colonização europeia, especialmente da Inglaterra.
Essa e outras medidas possibilitaram que aproximadamente 75% da vegetação natural original da ilha permanecesse intacta, de acordo com o site oficial de Lord Howe. Segundo o documento de comemoração dos 25 anos do estabelecimento da ilha como patrimônio mundial da humanidade, Lord Howe tem 241 espécies de plantas nativas, das quais 113, ou 47%, não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo.
A fauna do local é dominada em boa parte por pássaros, incluindo o Woodhen da Ilha Lord Howe, que tem sido o centro de um programa de criação em cativeiro do animal. Além do Woodhen, foram observadas 207 espécies diferentes de pássaros em Lord Howe e outras 15 espécies que são visitantes regulares da ilha.
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Mais de 1.600 espécies de insetos terrestres foram registradas no local, sendo que aproximadamente 60% delas não são encontradas em nenhum outro lugar.
A exclusividade da visita acaba por tornar os preços na ilha mais caros. No Capella Lodge — uma das acomodações de Lord Howe —, a menor diária, disponível apenas para setembro, está em 1900 dólares australianos (cerca de R$ 7100 na cotação atual).
Procedimentos rigorosos
A ilha adota medidas de biossegurança a fim de se proteger contra espécies de animais e plantas invasoras. As importações e visitantes são meticulosamente inspecionados, incluindo cães farejadores.
— Os cães farejadores verificam as malas e [os visitantes] descobrem que os cães não estão procurando maconha, estão apenas procurando ratos e sapos — afirmou Ian Hutton, morador da ilha desde 1980, à CNN americana.
No início das trilhas — espalhadas por toda Lord Howe —, é possível observar postos para que os turistas e guias limpem os sapatos, a fim de evitar a propagação de fungos.
Iniciativas de preservação
As primeiras espécies invasoras da ilha chegaram junto com os primeiros colonizadores. Eles trouxeram, principalmente, animais já domesticados, como porcos, cabras, gatos, cavalos e cães.
Na década de 1970, pesquisas ambientais já identificavam os danos causados às espécies de flora e fauna da ilha pelos mamíferos introduzidos.
O estopim para que iniciativas mais firmes de recuperação e preservação da natureza da ilha foi a possível extinção do pássaro Woodhen, natural de Lord Howe. Na metade final do século XX, esta ave — que antes se espalhava por toda ilha — se limitava a apenas 20 indivíduos.
Assim, em 1980, moradores da ilha passaram a montar uma verdadeira força-tarefa para conservar o Woodhen. Quase 200 porcos selvagens foram abatidos nas montanhas, guardas florestais prenderam cerca de oitenta gatos selvagens e os gatos domésticos foram banidos.
Como parte do resgate da espécie, um programa de reprodução em cativeiro criou 93 filhotes de Woodhen.
Em 1999, uma equipe de caçadores neozelandeses foi contratada para remover cabras selvagens que se espalharam pela ilha após serem trazidas por colonizadores. Durante um período de três meses, a equipe, juntamente com os habitantes locais, removeu 384 cabras.